Como já se aproximava das seis horas da tarde, o intenso fluxo de pessoas que desciam da região hospitalar em direção à estação do Move, na avenida Bernardo Monteiro, em BH, quase nos atropelava. Muitas pessoas correndo para pegarem o ônibus, provavelmente de volta para casa após um dia de trabalho.
Na lateral da avenida, um sem-fim de lojas vendem biscoitos, lanches, coisas fáceis de comprar e levar para consumo no caminho ou em casa.
Um pouco mais acima há uma grande casa antiga, com vitrines voltadas para a rua e holofotes que iluminam a entrada do local. Ali funciona um dos bazares do Instituto Casa do Caminho, instituição que desenvolve um lindo trabalho voltado às pessoas com câncer que vêm do interior de Minas Gerais para se tratarem na capital e, sem terem onde ficar, são recebidas numa outra casa, também na área hospitalar, com todos os cuidados que precisam e sem desembolsarem nada para usufruir deste aconchego.
Um dia, conversando com os assistidos pela Casa do Caminho, a gratidão se destacava, uma vez que estas pessoas já sofrem com a descoberta da doença, ficam muito fragilizadas pela rigidez do tratamento e, fora isso, ainda teriam que se preocupar com as despesas de um local para se hospedarem na capital, uma vez que o tempo do tratamento é longo e o deslocamento para as cidades onde moram se torna inviável.
Em meio a todo aquele movimento de gente correndo para o Move, a casa antiga, bem cuidada e iluminada vende peças de roupas usadas, assim como brinquedos, móveis, utensílios domésticos, calçados, livros, DVDs e uma infinidade de itens, com preços bem variados, mas todos bastante acessíveis a um público que também não tem muito dinheiro para investir. O bazar é uma via de múltiplas mãos: quem doa, sabe que aquilo será bem utilizado; quem compra, economiza; o que é arrecadado, vira atendimento e cuidado para quem precisa.
O fluxo na casa é grande. As pessoas se demoram escolhendo roupas nos cabideiros, em sessões separadas para masculino, feminino, infantil e feirão, que é a alegria de muita gente, pois peças são vendidas a R$ 5 ou R$ 10.
Ali, naquela casa mesmo, no andar de cima, ficam a área administrativa e a de triagem. Todos os itens que chegam vão para um salão imenso, onde antes era a varanda da casa. Tudo que chega ali servirá para abastecer as três lojas físicas e um bazar virtual, coordenado por um funcionário que é estudante de moda e se responsabiliza em fotografar as peças, postar numa página específica para este tipo de venda e separar o que foi vendido para a entrega.
Todo este aparato, envolvendo funcionários e voluntários, é o que mantém a Casa do Caminho funcionando sem depender de verbas públicas. A roupa que é doada por uma pessoa que precisa se desfazer de algumas peças para ganhar espaço em seu armário, se transforma em cuidado de centenas de pacientes oncológicos. Às vezes, nem a pessoa que doa tem noção do quanto aquilo que é importante para a vida de tantas outras pessoas.
Como a maioria dos assistidos vem de uma situação de vulnerabilidade social, as doações satisfazem primeiramente às necessidades deles. Uma criança que vem do interior sem uma blusa de frio, pacientes que precisam de cobertores, adultos que chegam com uma sacolinha de pertences ou somente com a roupa do corpo. Todas essas demandas são atendidas prioritariamente. E há ainda outras peças que são separadas para doação a projetos parceiros, que atuam com pessoas em situação de rua, idosos, etc.
As demais peças se transformam, quando vendidas, em refeições diárias dos assistidos, transporte para os hospitais, cuidados médicos, acolhimento num lar aconchegante, roupas bem limpinhas e com cheiro de casa mesmo, para que até o local onde ficam para se reabilitarem seja um lenitivo para o momento em que estão passando.
Todo este belíssimo trabalho é mantido por cada sacola de doação que as pessoas destinam para este bazar. Hoje, inúmeras instituições dependem cada vez mais dos seus bazares para sobreviverem, num momento em que as doações financeiras caíram, os “patrocinadores” pediram um tempo, os custos de manutenção de obras sociais se elevaram e muitas organizações tiveram que fechar as suas portas.
Quando você puder parar e dar uma olhadinha no que tem em casa, com pouco ou nenhum uso, pense que aquele item é o que muitas instituições estão rezando, literalmente, para que chegue naquele dia, evitando que falte assistência a tantas pessoas que delas dependem.
Algumas instituições que possuem bazares: @instcasadocaminho, @institutoadotar, @institutoheal, @novo_ceu, @nucleocaminhosparajesus, @_comidaqueabraca, @esperancainstituto, @larteresadejesusoficial, @casadeapoioaura