Numa dessas buscas aleatórias por informações nos portais virtuais de notícias, me deparo com uma chamada, que dizia que um músico de sucesso na década de 2000 havia sido preso e tinha cumprido parte da pena na cela de dois irmãos, que ganharam a mídia por terem cometido juntos um crime, ao lado da namorada de um deles, filha do casal vitimado pela ação do trio.
Interessado pelo assunto, já que atuo voluntariamente com projetos educacionais em ambientes de privação de liberdade, fui lendo a matéria e descobrindo que o cantor, que tinha cerca de 17 anos quando alcançou o auge da fama, sendo lançado num programa dominical, ao vivo, do apresentador Gugu Liberato, tinha se envolvido num episódio considerado tráfico de drogas e havia sido preso num bar em São Paulo, com seus 19 anos de idade.
Eu não me lembrava dele, até jogar o nome da banda nos mecanismos de busca e vir a imagem de um jovem, cabelos espetadinhos, cantando o hit “40 graus”. Naquele momento me veio à mente o programa do Gugu, em que a banda entrava no palco, descendo de um helicóptero, para lançar sua carreira para uma alta audiência dominical.
Continuei lendo a matéria, que dizia que durante o tempo que estava preso, tentando provar sua inocência, pois apesar de portar grande quantidade de drogas, a finalidade era o seu consumo, já que ele já era usuário contumaz, Sander escreveu um livro, um diário que o ajudou a passar os dias sombrios de dor e saudade nas cadeias onde ele ficou recluso, que recebeu o título de “Inferno Amarelo”, devido à cor usada nos ambientes carcerários paulistas.
Daquele dia em diante trocamos muitas mensagens. Sander foi me contando sobre a sua vida, o envolvimento com as drogas: “Tio, eu sou adicto, estou em tratamento, mas não posso me iludir, pois para isso não tem cura”, me explicava sobre sua condição atual.
Pesquisando um pouco mais, vi alguns momentos da sua vida relatados pelos programas sensacionalistas e de fofoca e pelas manchetes policiais: a ida a um programa de TV para aceitar uma internação, próximo ao dia dos pais, tendo sua mãe e seu pai no palco, implorando-o por aceitar esta chance; magro, com uma cartola na cabeça e um violão, tocando no metrô de São Paulo para conseguir dinheiro; sendo conduzido para a delegacia, por roubar um celular na rua, no intuito de comprar droga para o seu uso, mas já tão entorpecido que nem se lembrava de ter dinheiro no bolso; a notícia da morte do pai; as críticas por ele abrir um empreendimento de marmitas, associando isso a algo pejorativo.
Eu tinha um crédito em uma editora e propus ao Sander reeditar o seu livro, sendo que ele me daria a autorização de distribuir a metade da edição para bibliotecas de escolas públicas, casas de acolhimento de adolescentes, Apacs, unidades socioeducativas e presídios. Ele ficou empolgado, me mandou o arquivo do livro, escrito entre 2003 e 2005, e começamos a fazer a revisão juntos, publicando-o em 2021 com uma finalidade social. O empenho e a dedicação do Sander eram tão grandes que o convidei para ser Embaixador do Tio Flávio Cultural.
Fui à casa dele para discutirmos o foco das palestras sociais e ampliarmos o escopo, criando palestras empresariais em que nós dois estivéssemos no palco. Ao chegar do trabalho, sua mãe passava o álcool nas mãos ainda do lado de fora da casa. Sander me disse que era um cuidado por ele ser adicto. Dona Márcia entrou, me olhou e disse: “Obrigado pelo que você tem feito pelo meu filho”. Eu, com cara de dúvida, disse a ela que eu quem agradecia o tanto que estava aprendendo sobre a vida com o filho dela.
Ao entrar em “A Fazenda”, ele deixou um recado com a esposa, de que escreveria a mão mesmo a parte do livro que estou organizando, falando sobre “fracassos e vulnerabilidades”, refletindo sobre o que é ser bem-sucedido e que é ser fracassado. Sander, assim como muita gente, tem sua luta diária. Num olhar em perspectiva, ele não é mais o menino do Twister e também não se tornou perfeito. É um profissional, um pai, um esposo e um amigo buscando ser feliz.