Desde o início da atual recessão econômica no segundo trimestre de 2014, há poucos componentes da demanda agregada que estejam contribuindo para a retomada do crescimento do Brasil. Com a formação da capacidade ociosa em muitos setores produtivos, com a exorbitância das taxas de juros e com as incertezas entre os empresários quanto ao futuro da economia, tem ocorrido uma queda profunda na formação bruta de capital fixo ou na demanda de investimentos.
Com o aumento do desemprego, com a perda de poder de compra da massa salarial e com as expectativas desfavoráveis das famílias quanto à evolução de sua renda e de seu emprego, não há como esperar outra coisa a não ser uma sensível diminuição nas vendas de bens de consumo duráveis e não duráveis e, principalmente, de serviços. O mesmo ocorre com a demanda de bens e serviços dos três níveis de governo, que vivem uma crise fiscal com a queda de arrecadação e com as despesas correntes não discricionárias ainda em ascensão. Essa arrecadação não tem sido suficiente nem mesmo para manter o custeio dos serviços sociais básicos.
Assim, de todos os componentes da demanda agregada sobram apenas como elemento alentador para uma retomada do crescimento econômico as exportações. Essas dependem fundamentalmente da dinâmica de crescimento das economias dos nossos principais parceiros de comercio exterior. Mesmo considerando as inúmeras dificuldades pelas quais passam essas economias, há sempre espaço para a expansão das nossas exportações de bens e serviços tradicionais ou mais dinâmicos.
De qualquer forma, há que se considerar a evolução da nossa taxa de câmbio. Se o Real estiver valorizado (o dólar barato) exportaremos menos e importaremos mais bens e serviços. Dado que somos competitivos em muitos mercados de commodities (minério de ferro, soja, celulose, carne, café, etc.) e também em alguns produtos industrializados (setor automotivo, indústria aeronáutica, etc.), o futuro das exportações, com suas poderosas cadeias produtivas, fica na dependência do que vier a ocorrer com a taxa de câmbio. O mesmo poderá ocorrer com um eventual processo de substituição de importações.
A experiência recente de evolução das taxas de câmbio mostra que nos meses em que o Real se desvalorizou (do ano passado ao início deste ano), a balança comercial foi superavitária. Mas há uma tendência para que o Real se valorize nos próximos meses, fragilizando as nossas exportações como a principal fonte alternativa de crescimento.
Essa tendência de valorização do Real tende a se prolongar por diversos motivos conjunturais e estruturais, o que implica perda de competitividade das exportações. A política monetária aumenta o imenso diferencial das taxas de juros internas e externas, expandindo a oferta de dólares através das diferentes aplicações financeiras (Bolsa de Valores, renda fixa, etc.) num ambiente de maior confiança e menor risco. As expectativas são no sentido que esses diferenciais persistam frente às exigências contraditórias das políticas monetárias internas e externas. Não há condições para medidas compensatórias e setoriais visando a recompor as condições de competitividade dado o longo período necessário para implementar politicamente o ajuste fiscal.
Quando se deseja a retomada do crescimento com inflação sob controle, há muitos dilemas e contradições na escolha da melhor combinação entre as taxas de juros, as taxas de câmbio e a política fiscal. Pois como diz Delfim Netto “só há desenvolvimento quando eu, resolvendo um problema, sou capaz de criar outros dois”, ou seja, todo processo de desenvolvimento é uma sequência de desequilíbrios.