Os jornaleiros da rua Halfeld não existem mais

Chico Mendonça - Hoje em Dia
17/11/2013 às 12:02.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:12

Os meninos jornaleiros da rua Halfeld, em Juiz de Fora, caprichavam na afinação e soltavam a voz, o mais alto que podiam, para cantar o nome do jornal: “Olhaaaaaa o Diááááárioooooooo”. Para mim, que também vestia calças curtas, eles eram artistas e minha avó tinha que me puxar pela mão para que eu retomasse o passo e não me perdesse dela. Logo depois do refrão, os jornaleiros gritavam a manchete e as principais notícias e só interrompiam sua arte para providenciar troco para a freguesia. Foi assim que eu descobri a existência das notícias e seu abrigo: os jornais. Anos mais tarde, durante a faculdade de jornalismo na PUC de Belo Horizonte, outro jornaleiro sublinhava a vida noturna da cidade, com seus olhos imensos, ameaçando despencar das órbitas. O Sapo transformava a crise em oportunidade e ganhava a vida vendendo jornais de esquerda pelos bares da cidade durante os anos de violência e censura da ditadura militar.   Décadas depois dessa engajada boemia, um tufão passou sobre os jornais. Nada mais é como foi naqueles dias. A internet botou tudo de pernas para o ar. Tem gente, mundo afora, convicta de que a imprensa como atividade econômica vive seus estertores. Afinal, a receita publicitária já migrou em parte dos veículos impressos para a internet e, em lugar de se concentrar nos portais dos tradicionais veículos de imprensa, foi pulverizada por diversos sites e blogs. Outros, porém, a exemplo do Sapo, percebem oportunidades na crise do velho modelo. A vida é assim mesmo, resultado das crenças de cada um. A emoção que chega aos olhos da pessoa tinge a realidade com suas cores e cria o mundo de uma forma sempre muito genuína, criativa ou limitadora, otimista ou derrotada, mas sempre original. A rotina é obra autografada. Fato é que o velho tapete onde pisávamos nossos pés não existe mais. Na verdade, a internet está nos libertando do vício da soberba ao nos tirar o monopólio da informação. As redes sociais influem diretamente no noticiário, estão por toda parte, em conversa intensa, inclusive com a imprensa.   A antiga autossuficiência dos jornais não tem mais lugar no mundo, o que vale agora é parceria, compartilhamento. Esta é a oportunidade que, para alguns olhos, tem a cor vermelho-sangue da tragédia. A má notícia para o antigo modelo é que a cidade quer invadir as redações. Para o novo modelo em construção, a boa notícia é que a redação pode ter o tamanho da cidade. É com este DNA que está nascendo o novo Hoje em Dia. Aguardem.       

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