Para surpresa de muitos dos que acompanham a rotina da intensa crise que pegou o Brasil em cheio nos últimos meses, o vilão desta semana não surgiu do noticiário político. As novidades vindas da Operação “Lava Jato” continuam. Surgiram mais suspeitas sobre os caciques da política, a mulher do deputado afastado Eduardo Cunha, Cláudia Cruz, virou ré acusada de lavagem de dinheiro e de gastar dinheiro público em artigos de luxo, e até mesmo o badalado “Japonês da Federal” foi preso. Mas quem realmente irritou o brasileiro foram a batata-inglesa, a cebola e o feijão-carioca. Os preços desses alimentos subiram tanto no último mês – 19,12%, 10,09% e 9,85%, respectivamente –, que certamente provocaram calafrios nas donas e donos de casa em todo o país.
De acordo com dados divulgados pelo IBGE na última quarta-feira, o grupo alimentação foi o segundo item que mais pressionou a inflação de 0,75% registrada em maio. Esse é o maior índice registrado para o mês, desde 2008. Quem mais contribuiu com a alta dos preços foram as taxas de água e esgoto, mas esse foi um problema praticamente exclusivo do Estado de São Paulo. Para os brasileiros em geral, o que mais pesou financeiramente no último mês foi colocar comida no prato.
O Brasil está pagando caro por ter confiado nas promessas de Dilma Rousseff e Michel Temer nas eleições de 2014. Nem a presidente afastada, tampouco o presidente interino podem ser responsabilizados pelo mau tempo que afetou a produção de alimentos no Sul do país e aumentou os custos da batata, da cebola e do feijão. No entanto, indiscutivelmente, ambos são culpados pela recessão que está corroendo a renda dos brasileiros e deixando nossas economias vulneráveis inclusive às instabilidades climáticas.
No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação já chegou a 9,3%. Ou seja, em 365 dias, quase 10% dos recursos de todos os brasileiros viraram pó. Segundo alguns analistas, a situação ainda apresenta um agravante: a economia brasileira está perigosamente indexada. Isso significa que muitos preços estão sendo reajustados mensalmente para cobrir as perdas da inflação anterior. Essa vinculação gera um ciclo de aumentos difícil de ser contido.
Dilma Rousseff provavelmente não terá chance de voltar ao cargo para tentar corrigir o estrago que causou. Michel Temer, por outro lado, herdou a desordem da antiga parceira e faz uma ginástica política diária para se manter na presidência. Além disso, o interino tem em mãos o desafio de recompor as finanças do Estado e dos cidadãos, ou ao menos apresentar alguma melhora significativa.
A equipe econômica de Temer tenta se manter distante do caos político crescente no gabinete presidencial. Ao menos no discurso, vende a ideia de que vai combater a inflação, ajustar as contas públicas e manter foco na retomada do crescimento. Genericamente, esses são os termos usados pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, desde a posse do novo governo. E eles foram repetidos esta semana pelo recém-empossado presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em sabatina no Senado Federal. O prazo para a oratória e exposições teóricas, entretanto, está prestes a vencer. A sociedade já começa a cobrar resultados concretos.
Para conquistar a confiança da população e, talvez, escrever seu nome na história com um mandato de apenas dois anos e meio, Temer precisará reverter, de fato e em curto prazo, o quadro de empobrecimento das famílias e do setor produtivo nacional. Os vilões da política podem ser enfrentados e vencidos pelos cidadãos nas urnas. Difícil é o brasileiro dormir tranquilo sem saber se o dinheiro que tem hoje será suficiente para pagar a comida de amanhã.