Papa reza pela unidade dos coreanos no fim da visita a Seul

AFP
18/08/2014 às 09:07.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:50
 (Vincenzo Pinto)

(Vincenzo Pinto)

O papa Francisco concluiu nesta segunda-feira (18) em Seul, capital da Coreia do Sul, a primeira viagem de um pontífice ao continente asiático em 15 anos, com um apelo emocionante à unidade entre os coreanos do Norte e do Sul, que em suas palavras são "uma família".

A súplica, pronunciada em uma missa pela paz e a reconciliação na catedral Myeongdong de Seul, coincidiu com o início dos exercícios militares anuais dos exércitos sul-coreano e americano, condenados mais uma vez pelo regime de Pyongyang.

Com sua retórica habitual, o Norte, que na quinta-feira lançou mísseis táticos ao mar em uma coincidência com o desembarque do papa, advertiu que os exercícios podem levar a península "à beira da guerra".

Na homilia, pronunciada na presença da presidente Park Geun-Hye, batizada como católica, Francisco se dirigiu aos coreanos, divididos em dois Estados desde o fim da guerra de 1950-1953.

O papa os convidou "como cristãos e como coreanos a rejeitar com força uma mentalidade fundada na suspeita, divisão e competitividade". Como fez durante toda a visita de cinco dias, em nenhum momento o pontífice citou os dirigentes comunistas de Pyongyang, nem se dirigiu a eles.

O Vaticano não mantém relações diplomáticas com o Norte, onde uma pequena comunidade católica é reconhecida, mas ao mesmo tempo severamente controlada. O regime norte-coreano chegou a ironizar a visita do que chamou de "pseudopapa" ao Sul capitalista.

Diante do altar foi instalado um rolo de arame farpado em recordação a uma ferida provocada por uma divisão herdada da Guerra Fria e que ainda afeta 70.000 famílias. "A missa de hoje é sobretudo uma oração pela reconciliação desta família coreana", disse o chefe da Igreja Católica. "É todo um povo que dirige sua dolorosa súplica ao céu", completou.

Católicos coreanos acompanham, do lado de fora da catedral Myeongdong, última missa do Papa em Seul

Estabilidade da região

"O perdão é a porta que leva à reconciliação e, portanto, rezamos para que surjam novas oportunidades de diálogo, de encontro e de superação das diferenças", completou, antes de pedir "generosidade na entrega de assistência humanitária".

Francisco também saudou oito idosas que estavam entre o público e que foram "confort women", coreanas recrutadas à força e levadas para os bordéis do exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial. "Um gesto pastoral e não político", explicou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.

Segundo os historiadores, quase 200.000 mulheres de diferentes países ocupados serviram nos bordéis japoneses. Em 1993, o Japão apresentou um pedido de desculpas oficial à Coreia, mas o tema continua sendo muito delicado.

O 'câncer da desesperança'

Na primeira visita de um papa ao continente asiático desde a viagem de João Paulo II em 1999 à Índia, Francisco escolheu um país que tem 10% de católicos e que a cada ano celebra 100.000 batizados. 

Apesar da expansão no continente, os católicos não representam mais que 3,2% da população asiática. Na China, entre cinco e 12 milhões de católicos estão divididos entre uma Igreja oficial que não reconhece a autoridade papal e uma Igreja clandestina fiel ao Vaticano.

Ao longo da visita à Coreia do Sul, onde milhões de pessoas acompanharam suas missas com fervor, Francisco criticou em vários momentos a corrupção moral provocada pelo materialismo.

Diante dos cardeais e dos jovens, o bispo de Roma exaltou "a esperança do Evangelho" ante "o espírito de desesperança que parece crescer como um câncer" em uma sociedade submetida a "modelos econômicos desumanos".

As mesmas causas, segundo ele, "alimentam uma cultura da morte que desvaloriza a imagem de Deus, o Deus da vida", em uma referência ao suicídio, ao aborto e à eutanásia.

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