A continuidade da paralisação das atividades da Samarco ameaça quase 20 mil empregos diretos e indiretos no Brasil neste ano. Em Minas, estão em risco 14.531 vagas e 4.111 podem ser extintas no Espírito Santo. Mais 540 postos de trabalho em empresas que prestam serviços à mineradora em outras localidades do país também estão na berlinda.
Os dados fazem parte de um estudo realizado pela Tendências Consultoria Integrada, sob encomenda da anglo-australiana BHP Billiton, dona de 50% da Samarco ao lado da Vale, que detém a outra metade da mineradora, e foram apresentados ontem na sede da Fiemg.
Segundo Eric Brasil, economista da Tendências que liderou o estudo, o número de 19.183 vagas ameaçadas no país devido à inatividade da Samarco mostra a grandiosidade do problema.
“O Brasil tem pouco mais de 5 mil municípios. E 68% deles têm população inferior a 19 mil. Ou seja, se todos esses empregos estivessem concentrados em um único município desses seria uma catástrofe”, compara.
Renda
Sem esses milhares de postos de trabalho, o levantamento destacou que a perda de massa de renda somente em 2017 pode alcançar a cifra de R$ 1,2 bilhão no país, sendo R$ 916 milhões em Minas. Em 10 anos, o prejuízo chegaria a R$ 12,8 bilhões no Brasil e R$ 9,3 bilhões no Estado.
O estudo aponta ainda que, se mantida a paralisação, Minas deixará de arrecadar R$ 138,6 milhões em 2017 em impostos estaduais. Em se tratando de tributos municipais, a perda beira os R$ 9,5 milhões neste ano. Em 10 anos, o prejuízo saltaria para R$ 1,6 bilhão e R$ 113,8 milhões, respectivamente.
Nacional
No Brasil, a inoperância da Samarco se traduz em menos R$ 989 milhões para os cofres públicos. O valor é quase o dobro de todo o gasto público das cidades mineiras de Mariana e Ouro Preto e das capixabas Anchieta e Guarapari em saúde, educação, saneamento e transporte. Em 10 anos, o valor saltaria para R$ 11 bilhões.
A paralisação da mineradora também prejudica as contas externas brasileiras. Como toda a produção da Samarco era destinada ao exterior, sem a operação, a perda nas vendas ao mercado internacional chegará a US$ 766 milhões em 2017.
O valor representa 3% de toda a exportação de Minas e 8% do total do Espírito Santo. Em cinco anos, o prejuízo seria de US$ 3,8 bilhões e, em uma década, de US$ 9,1 bilhões.
‘Matemática’ dos prejuízos deve ajudar na decisão da empresa
O objetivo do estudo da Tendências Consultoria Integrada, que tem entre os sócios o ex-ministro Maílson da Nóbrega, é dar elementos aos atores que participam da discussão sobre a retomada da operação da Samarco. “Queremos dar a eles uma conta para ajudá-los na decisão”, disse o economista Eric Brasil.
Segundo ele, o levantamento foi concluído no final de 2016 e tentou mensurar as perdas a partir de janeiro de 2017. “É um estudo prospectivo, sobre o custo econômico da paralisia. Também não nos debruçamos sobre perdas ambientais”, afirmou.
Para o ex-ministro, o estudo evidencia a urgência na retomada das atividades da mineradora. “É preciso um esforço conjunto para que a Samarco volte a operar. Mariana é uma cidade que está empobrecendo”, afirmou ele, que acredita que a empresa adotará os mecanismos para minimizar os riscos intrínsecos à atividade mineradora.
Diferente do que afirmou o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que estimou a volta da Samarco para março, a mineradora trabalha com a expectativa para o 2º semestre. Conforme a assessoria de imprensa, é necessária a obtenção de licenças, inclusive a de uma cava para o depósito de rejeitos.
As operações da Samarco estão suspensas desde novembro de 2015, quando uma barragem da empresa rompeu despejando toneladas de rejeitos. Desde então, a mineradora tenta retornar as atividades.