CAIRO - Os partidários de Mohamed Mursi convocaram grandes protestos para terça-feira (30) para exigir o retorno ao poder do presidente egípcio deposto pelas Forças Armadas, embora as novas autoridades tenham advertido que agirão de modo firme diante dos protestos.
Neste contexto de bloqueio político, a representante da diplomacia europeia, Catherine Ashton, viajou ao Egito, pela segunda vez em menos de suas semanas, onde deve se reunir com todas as partes.
Nove Organizações Não Governamentais (ONGs) exigiram a renúncia do ministro egípcio do Interior, Mohamed Ibrahim, após a violenta repressão de sábado, que provocou a morte de 72 pessoas, em sua maioria partidárias de Mursi.
"O ministro do Interior deve ser destituído e responder por seus atos", disseram em um comunicado as nove ONGs, entre as quais figuram a Iniciativa Egípcia para os Direitos Humanos e a Rede Árabe para a Informação sobre os Direitos Humanos.
Ao mesmo tempo, as ONGs convocaram a Irmandade Muçulmana, que lidera o movimento a favor do retorno ao poder de Mursi, deposto por um golpe de Estado militar no dia 3 de julho, a renunciar à violência.
Uma coalizão de grupos islamitas favoráveis a Mursi convocou nesta segunda-feira grandes protestos para terça-feira e pediu que as pessoas se dirijam "aos edifícios administrativos das forças de segurança" para denunciar "o uso de balas reais contra manifestantes pacíficos".
Na manhã desta segunda-feira, as Forças Armadas responderam a este chamado com folhetos de advertência lançados de helicópteros em dois locais onde os partidários de Mursi acampam.
"Fazemos um apelo a não se aproximar das instalações ou unidades militares. Ajudem-nos a proteger sua segurança", diziam os folhetos dirigidos aos "honrados filhos da nação".
No entanto, nada parece mudar a decisão dos partidários de Mursi, que ratificaram sua vontade de protestar e convocaram às ruas "um milhão de manifestantes" para honrar os "mártires do golpe de Estado".
"Saiam às ruas e às praças para reconquistar sua liberdade, sua dignidade - usurpadas por um golpe de Estado sangrento - e pelos direitos dos mártires assassinados a tiros" pelo novo poder, afirmou a coalizão islamita em um comunicado.
O chamado aos protestos levanta os temores de uma nova erupção de violência que agrave o balanço de 300 mortos registrado em pouco mais de um mês.
Além dos mortos registrados no sábado, os confrontos provocaram no domingo a morte de dois partidários de Mursi - um em Port Said, nordeste, e outro em Kafr el-Zayat, norte - e deixaram trinta feridos.
Um oficial de polícia, ferido no domingo, faleceu nesta segunda-feira, e um soldado morreu na noite de sábado no Sinai, onde desde o golpe de Estado 10 soldados já perderam a vida.
No Sinai 17 policiais também morreram neste mês e o exército informou sobre 20 "terroristas armados" mortos no total.
Além do vice-presidente Mohamed ElBaradei, com quem se reuniu no domingo, Ashton deve se encontrar com Mansour e "com representantes das forças políticas", segundo a vice-presidência.
ElBaradei, segundo um comunicado, indicou que as atuais autoridades egípcias "estão fazendo todo o possível para alcançar uma saída pacífica para a crise atual".
Por último, a organização Human Rights Watch denunciou um "desprezo criminoso" das autoridades "pela vida humana".
Estes mortos demonstram "uma vontade chocante por parte da polícia e de certos políticos de aumentar a violência contra os manifestantes pró-Mursi", estimou Nadim Houry, diretor da HRW para o Oriente Médio e a África do Norte.