Partidos não têm vez nas redes sociais; lista de reivindicações cresce

Edison Veiga
21/06/2013 às 09:18.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:20

No dia seguinte ao anúncio da revogação do aumento das tarifas dos transportes em São Paulo, as redes sociais foram dominadas por dois temas referentes aos protestos: o incômodo com a presença de partidos políticos nas manifestações e quais devem ser as próximas bandeiras defendidas nas ruas.

O humorista Helio de La Peña preferiu fazer piada com a presença de militantes do PT no meio das manifestações desta quinta-feira. "Petistas querem aderir às passeatas com o grito de guerra: ‘Abaixo nós!’", escreveu, no Twitter. "Desconfiava que o PT estava sem rumo. Meia dúzia de petistas uniformizados hoje (20) no meio do protesto apartidário em São Paulo confirmam minha suspeita", afirmou o apresentador de TV Marcelo Tas, em sua conta no Twitter. "Indo para a (Avenida) Paulista agora. Gostaria de lembrar: é uma manifestação apartidária. É brasileira!!! Esqueçam partidos políticos", publicou a atriz e escritora Lúcia Verissimo.

Já o ilustrador, vlogueiro e VJ da MTV PC Siqueira preferiu contemporizar. "Deveríamos permitir que partidos de direita e esquerda participassem da manifestação, sim. Do contrário, nós nos tornamos os fascistas", postou.

Muitos posts apontaram a necessidade de canalizar o movimento popular para outras questões, após a revogação do aumento das tarifas dos transportes. "Gente, a passagem do busão já abaixou. Agora vamos derrubar o (pastor e deputado federal Marco) Feliciano?", publicou o escritor e cineasta Alessandro Buzo.

"A gente quer um país melhor, não quer?", escreveu a cantora Luiza Possi. "Eu protesto em prol de 100% dos royalties do pré-sal para a Educação e estratégia nacional contra a violência", enumerou o cientista Miguel Nicolelis.

No Facebook, as timelines ficaram cheias de uma imagem com os "cinco motivos" do movimento - enfatizando não se tratar apenas das tarifas do transporte. De acordo com essa mensagem, a luta também é contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, pela saída de Renan Calheiros da presidência do Congresso, por uma investigação completa das irregularidades nas obras da Copa de 2014, para que a corrupção se torne crime hediondo e pelo fim do foro privilegiado.

Debates online

Desde o início das manifestações do Movimento Passe Livre (MPL) em São Paulo, as discussões ganharam a internet. Até as 19h30 desta quinta-feira, o compartilhamento de informações sobre o tema já havia impactado potencialmente 900 milhões de internautas, de acordo com monitoramento da empresa Scup.

"Acho que eles (os políticos) ainda não entenderam o que está acontecendo", disse o fotógrafo e militante Douglas Agostinho Teodoro, de 34 anos. "Eles são de uma geração analógica, e nossa revolução é digital. Eles não entenderam que a gente não precisa mais esperar quatro anos para dar nossa opinião nas urnas. A gente dá nossa opinião a hora que a gente quiser, na internet. O Brasil não funciona, mas o Facebook, sim."

"As redes sociais potencializam as manifestações, e isso é uma novidade no Brasil. Elas atuam tanto no sentido de acelerar as comunicações quanto na sua organização", analisa o cientista político Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, professor da PUC-SP. "Agora, não tenhamos ilusões. Esses meios são de mão dupla, ou seja, não são necessariamente favoráveis a uma força política específica. Enquanto agora estão alimentando manifestações coletivas, em outras situações eles podem acabar servindo para multiplicar argumentos contrários e ajudar a sufocá-las." (Colaboraram Herton Escobar e Rodrigo Burgarelli)
http://www.estadao.com.br

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