Pátria doura a pílula para vender a alliar

11/10/2016 às 09:10.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:11

A mineira Alliar, empresa de diagnósticos por imagem, mais conhecida pelos mineiros pela marca comercial Axial, deverá fazer a primeira abertura de capital na Bovespa em mais de um ano. Trata-se do processo mais adiantado em andamento no país e o lançamento poderá ocorrer no final deste ano ou no início de 2017. A empresa já obteve o registro de emissora de valores mobiliários junto a CVM, publicou aviso ao mercado sobre a abertura de capital e está fazendo road show para investidores no Brasil, Estados Unidos e Portugal.

Trata-se de uma boa notícia, já que sinaliza uma recuperação da credibilidade do mercado brasileiro de ações. Se existe espaço para abertura de capital, isso significa que existem pessoas acreditando que o desempenho das empresas brasileiras tende a melhorar de agora em diante. Particularmente, ainda não vejo motivos para otimismo quanto à economia, mas acredito que algumas empresas ficaram baratas com a crise e podem gerar bom retorno no médio e longo prazos para quem investir agora.

Mas vamos a alguns pontos que despertam sérias dúvidas em relação ao retorno da abertura de capital Alliar (IPO, na sigla em inglês) para o investidor. Em primeiro lugar, chama a atenção o fato dos três principais sócios estarem saindo do negócio. O controlador, o Pátria Investimentos (que detêm 25,7% do capital da empresa), sai porque está vencendo o prazo de oito anos estabelecido para permanecer na empresa como fundo de private equity. Mas, e os sócios fundadores Sérgio Tufik (23,4%) e Roberto Kalil Issa (17,3%)? Porque também venderão a totalidade de suas ações? Se o negócio é bom e tende a crescer, porque sairão?

Outro ponto mal explicado: o crescimento. De acordo com o prospecto do IPO e material de divulgação da operação, a receita líquida da Companhia vem crescendo a um ritmo alucinante de 59% na média anual de 2013 a 2015. Mas não mostra claramente que esse crescimento não foi obtido organicamente, mas por meio de fusões. A última foi com o Grupo Delfin, da Bahia. Numa fusão, a empresa fica maior, mas a participação dos acionistas é diluída na mesma proporção.

Também incomoda a maneira como os resultados financeiros da empresa são apresentados no prospecto. A empresa destaca que é a terceira maior do país em medicina diagnóstica em termos de receita líquida, que no ano passado foi de R$ 699,7 milhões (e de R$ 460 milhões no primeiro semestre deste ano), fala do ebitda (geração de caixa) de R$ 144,4 milhões, e da margem ebitda de 21,5% (receita líquida sobre ebitda). Mas só lá nas páginas 341 e 342 registra que a empresa apresentou prejuízo líquido de R$ 46 milhões no primeiro semestre do ano passado, não mostra em nenhum lugar o prejuízo acumulado no ano passado e que só alcançou o equilíbrio financeiro no primeiro semestre desde ano, quando registrou pequeno lucro de R$ 4,2 milhões.

Não quero parecer do contra. Torço sinceramente para que as aberturas de capital de empresas mineiras sejam bem-sucedidas. Mas a Alliar e o Pátria precisavam tornar mais transparentes e precisar as informações apresentadas ao mercado. Fundos de private equity como o Pátria vivem de comprar e vender empresas. Para tal, têm o costume de dourar a pílula. Podem até enganar alguns, mas se arriscam a perder credibilidade no longo prazo.

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