Paulinho da Viola celebra 70 anos de vida e terá discos relançados em 2013

Raphael Vidigal - Do Hoje em Dia
12/11/2012 às 10:22.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:11

(Divulgação)

Batatinha, sambista baiano autor de escassos sucessos, sem com isso perderem relevância, condecorava com honra e merecimento Paulo César Batista Faria o Ministro do Samba, em música de mesmo nome.

Não por acaso diagnosticava-o vindo de linhagem nobre, filho de César Faria, lendário violonista do conjunto de choro Época de Ouro, idealizado por Jacob do Bandolim.

Mas o tempo inoculável no qual navega, o mar, e que ele diz ser hoje, tratou de tornar o apelido dado por Sérgio Cabral maior do que qualquer outra referência ao sujeito.

Elegante

Hoje aos 70 anos, Paulinho da Viola, finalmente com a alcunha de sambista, é celebrado pela memória afetiva de músicos e fãs espalhados em todo o Brasil. No próximo dia 17, fará show gratuito em Madureira, subúrbio do Rio de Janeiro, acompanhado pela Vela Guarda da Portela. Depois, no dia 28 apresenta-se em Nova York, no Carnegie Hall. Para fechar as comemorações, a EMI lança em 2013 box com 11 álbuns, incluindo extra de faixas dispersas.

O cantor do "Copo Lagoinha", conjunto de samba da capital, Mauro Zockratto escolhe a música "Onde a dor não tem razão" como marcante dentro do vasto repertório do aniversariante. "Eu era adolescente quando o Paulinho lançou esse vinil. Meu irmão mais velho comprou e eu me deliciava com a canção título".

Prova inequívoca é que Mauro, ainda aspirante à profissão de cantor, logo decorou os versos, e toda vez que a canta lembra com alegria daquele tempo. "Guardei na memória a capa do disco, uma espécie de porta-retratos com a foto do Paulinho sempre sorrindo e elegante". A gratidão ao irmão devido à preciosa aquisição permanece.

Autobiográfico

Moyseis Marques, sambista carioca fundador do grupo "Casuarina", destaca outro êxito da carreira de Paulinho, sobre as desavenças com o pai a respeito do ofício a dedicar-se: "'14 anos' é inesquecível! Gravei no primeiro CD".

A companhia ilustre do mesmo que dividiu os vocais com Paulinho da Viola no álbum "Samba da Madrugada", de 1968, onde a canção foi lançada, é motivo de orgulho par Moyseis: "O Elton Medeiros cantou comigo. É o tipo de música que gostaria de ter feito, pois fala do valor de um sambista". Além disso, o intérprete destaca o cunho autobiográfico da composição.

Portela

Mesmo músicos vindos de outras praças, como o autor do famoso soul "Na rua, na chuva, na fazenda", posto em alta rotação principalmente em virtude do registro do "Kid Abelha", Hyldon embarca numa declaração de amor do homenageado à sua escola querida. "'Foi um rio que passou em minha vida' tem uma imagem muito forte. É a Portela literalmente invadindo a avenida no carnaval".

Para não se ater a um destaque da carreira do compositor, entre outros, de "Sinal Fechado", Hyldon reitera: "Gosto de todo o trabalho do Paulinho, sua maneira elegante de ser é também uma marca das músicas".

Tradição

A veia genética do compositor, filho de famoso chorão, é destacada por Eduardo Macedo, cavaquinista do "Quatro na Roda". "O chorinho 'Inesquecível' é uma melodia apaixonada com uma harmonia surpreendente!". E vai mais longe ao definir Paulinho como "o melhor compositor brasileiro". O argumento são os gêneros percorridos como "samba de terreiro, avenida, samba-canção, maxixe e outros inrrotuláveis", considera.

Música que ressalta o discurso do cantor em favor da preservação do samba, "Argumento" é, segundo Silvio Carlos, diretor musical e violonista de 7 cordas do conjunto mineiro 'Flor de Abacate': "O recado que um grande mestre do gênero deixa para as gerações futuras, inovem sempre, mas respeitem a tradição!", afirma.

Chorinho

O perfeccionismo de Paulinho da Viola é sublinhado por Ausier Vinícius, músico e instrumentista, proprietário do "Pedacinhos do Céu", point do choro e da comida mineira, localizado no bairro Caiçara, que viveu um episódio inusitado com o artista: "Quando gravamos 'Choro Negro' ele me corrigiu uma nota, por ser um choro para cavaquinho muito bem elaborado".

A respeito do nome da canção, Ausier esclarece com história aprendida pela vivência com o parceiro de Paulinho: "O Fernando Costa, que é o outro autor, me contou que estava com a Maria Bethânia na Alemanha em uma turnê, e por ser cego, perguntou a ela como estava o dia. A resposta foi 'negro'. Daí veio a inspiração."

Explicação correspondente a tantos sucessos teima em escapar à tentativa vã de uma filosofia, mas Ausier é direto e firme: "Paulinho tem coisas maravilhosas, que tocam fundo o coração".

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