A cena de militantes entusiasmados nas ruas, comum nas primeiras eleições após a redemocratização do país, tende, cada vez mais, a ficar na história. Pesquisas mostram uma curva descendente na adesão espontânea dos eleitores aos partidos políticos, e até mesmo o PT, sempre identificado por dispor de ativistas aguerridos, vem perdendo espaço (veja quadro abaixo). A novidade é o surgimento de uma militância evangélica, mais identificada com pessoas do que com um partido, em substituição à tradicional capacidade de mobilização das esquerdas, hoje mais concentrada em partidos nanicos.
De acordo com as pesquisas do Datafolha, o índice de pessoas que declaram não ter nenhum partido de preferência aumentou de 57% para 68% entre 2010 e 2014.
Para a cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), em São Paulo, a redução do número de pessoas que declaram a preferência por algum partido é natural, e ocorre em outros países.
“A tendência é diminuir a militância, e isso não acontece apenas no Brasil. Está relacionada a uma forma mais crítica de ver o governo. Não é um fenômeno do PT, já aconteceu na Europa. É um fenômeno da democracia. Independe de o partido estar no poder ou não”, avalia.
Ao mesmo tempo, a professora ressalta que, no Brasil, a participação sempre foi mais frágil. No caso do PT, a ascensão ao poder contribuiu para que a militância fosse esvaziada. “Tem uma diferença muito grande entre os partidos. Os que são mais à esquerda têm uma participação maior. Quando o PT chega ao governo, perde um pouco essa militância. Isso está relacionado com a maior institucionalização do partido”, ressalta. Com isso, o militante começa a participar mais da máquina do Estado e tem menos necessidade de lutar pela conquista de espaço.
REFLEXOS
A queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff e da de seu partido, o PT, parece se refletir na militância política e na preferência partidária. Entre 2010 e 2014, a sigla perdeu oito pontos percentuais na preferência dos brasileiros, segundo dados do Datafolha. Apesar disso, a legenda de Lula continua sendo a que possui o maior número de apoiadores.
Pesquisa realizada em maio deste ano pelo Sensus mostrou que a identificação partidária espontânea é, de fato, muito baixa, com a seguinte distribuição: PT (9,6%); PSDB (5,1%); PMDB (2,3%); PCB (1%); outros (7,7%); nenhum (67,1%); não sabe/não respondeu (7,2%).