Em 2022, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo eram obesas enquanto 43% dos adultos estavam com sobrepeso (Reprodução)
Um grupo de cientistas brasileiros descobriu que os adolescentes obesos apresentam falhas de conectividade entre diferentes regiões do cérebro que estão envolvidas na regulação do apetite. O trabalho foi possível graças a uma técnica avançada de ressonância magnética.
O novo estudo, realizado por cientistas da Santa Casa de São Paulo e da Universidade de São Paulo (USP), foi apresentado anteontem no encontro anual da Sociedade Radiológica da América do Norte, nos Estados Unidos. Segundo os autores da pesquisa, se for possível identificar com mais precisão as alterações cerebrais associadas à obesidade, a técnica poderia ser utilizada um dia para ajudar a evitar o problema.
A obesidade infantil, de acordo com os pesquisadores, aumentou de 10% a 40% nos últimos 10 anos, na maioria dos países. "Os resultados mostraram que os adolescentes obesos de fato apresentam falhas na substância branca do cérebro. Essas falhas aparecem em diversas regiões do cérebro, sendo que algumas dessas regiões são muito importantes para a regulação do apetite", disse o autor principal do estudo, Ricardo Uchida, professor da Santa Casa de São Paulo. Mas ainda não é possível determinar se as falhas na conectividade cerebral são causa ou consequência da obesidade.
"O estudo não tem alcance para determinar relação causal. Mas, embora não tenhamos certeza, temos algumas hipóteses. Sabemos, por estudos anteriores, que a obesidade infantil causa prejuízos nas células e, portanto, suspeitamos que essas lesões são causadas pela obesidade", disse Uchida ao Estado.
Ele lembra que, segundos estudos anteriores, a obesidade é fator de risco para Alzheimer e que há ligação entre obesidade na infância e baixo QI. Problemas de atenção e memória também são frequentes entre adultos obesos. "Tudo isso pode estar ligado. Se a obesidade produz mesmo lesões no cérebro, isso explicaria algumas das consequências neurológicas já observadas em estudos."
Método
O estudo envolveu 59 adolescentes obesos com idades entre 11 e 18 anos e 61 adolescentes não obesos. Os cientistas compararam os dois grupos controlando variáveis como gênero, idade, condição socioeconômica e nível educacional. Os participantes foram submetidos a exame de ressonância magnética conhecido como imageamento por tensor de difusão (DTI, na sigla em inglês), com a intenção de avaliar a integridade da massa branca dos cérebros.
O DTI mede o que os cientistas chamam de "anisotropia funcional" (AF), isto é, os movimentos microscópicos das moléculas de água que cercam as fibras de matéria branca do cérebro. Quanto mais baixo o valor AF, mais falhas na massa branca cerebral. Os resultados mostraram perda da integridade da matéria branca em várias regiões do cérebro dos jovens obesos.
"Se formos capazes de identificar as alterações cerebrais associadas à obesidade, essa técnica de ressonância magnética poderia ser utilizada para ajudar a evitar a obesidade e as complicações associadas", disse uma das autoras do estudo, Pamela Bertolazzi, pesquisadora do laboratório de neuroimagem da USP As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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