Pianista Vadim Neselovskyi surpreende com seu talento

João Marcos Coelho, especial para a AE
27/01/2014 às 09:00.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:36

O pianista Keith Jarrett inaugurou, com seu Köln Concert, em 1974, um novo gênero de recital, todo preenchido com improvisos. Certo ou errado? Em princípio, errado, já que os músicos sempre improvisaram, de Bach a Chopin, passando por verdadeiros leões do improviso, como Beethoven - sem falar no maior de todos, Franz Liszt, o inventor do recital, que costumava mostrar suas composições escritas na primeira parte de suas apresentações solo e na segunda sorteava sugestões do público de temas sobre os quais improvisava.

Assim, de certa maneira, Jarrett ressuscitou este gênero livre e dificílimo de ser praticado, já que não trabalha com temas conhecidos nem pede sugestões à plateia. Senta-se diante do piano sem nenhuma ideia preconcebida. O improviso é quase um fluxo espontâneo inconsciente. Um transe, diriam alguns.

Quem assistiu, em 2013, ao recital da pianista venezuelana Gabriela Montero na Sala São Paulo sabe que ela repetiu o gesto de Liszt na segunda parte. Pediu ao público que sugerisse temas para improvisar. De fato, improvisou sobre Se esta rua fosse minha ou Gracias a la vida, de Mercedes Sosa. Mas de um modo previsível, feito de clichês do pianismo romântico do século 19.

Claro que é dificílimo equilibrar-se em solo tão escorregadio. Mas de vez em quando, ou melhor, raramente, alguém se dá bem ao enfrentar este desafio. É o caso do pianista ucraniano Vadim Neselovskyi. Novo, deve andar no máximo na casa dos 30 anos, já é professor da Berklee School de Boston, a escola que forma 10 entre 10 novos músicos de jazz nos EUA. E também tocou com ao menos um dos gigantes do jazz moderno, o vibrafonista Gary Burton.

Sem nenhum constrangimento - e com uma criatividade notável -, Vadim Neselovskyi faz um recital misto no seu primeiro CD solo Music for September, lançado pelo selo Sunnyside. Ora improvisa sobre temas clássicos, ora sobre standards de jazz, ora sobre seus próprios temas.

Assim, encadeia sua Spring Song com uma leitura não-ortodoxa da Mazurca em lá menor, opus 67, no. 4, de Chopin, ataca de All the things you are, segue com Bach (Sinfonia BWV 797) e fecha o bloco com outra de suas criações, Birdlike, tributo a Charlie Parker onde salpica fragmentos de temas do genial saxofonista. As demais faixas continuam apresentando bem-vindas surpresas nesta linha. Até um curiosíssimo Andantino in modo de canzona, onde o excepcional Vadim não só toca como canta em russo sobre a melodia de Tchaikovsky. É de espantar. No bom, no ótimo sentido, evidentemente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://www.estadao.com.br

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