Sob orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Planalto pretende usar o aparente fôlego que ganhou na crise política para reorganizar a base aliada e tentar aprovar no Congresso projetos que, segundo auxiliares de Dilma Rousseff, podem melhorar a situação econômica e prolongar a sobrevida do governo. A avaliação é que as decisões provisórias dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que interromperam o rito de impeachment estabelecido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), congelaram o processo de impedimento da petista - tido como inevitável até há uma semana. O alívio, porém, é visto com ressalva por integrantes do próprio governo, que se dizem "em alerta" e tentam aprovar projetos que estão parados há meses. Dentro da lista de desejos do Planalto está a medida que prorroga e amplia o mecanismo que dá maior liberdade à União no manejo orçamentário, a Desvinculação de Receitas da União (DRU), e a nova CPMF, criticada pela maioria dos parlamentares, que não quer o ônus de aprovar mais um imposto no país. Para tentar vencer essas resistências, Dilma vai receber as bancadas aliadas e fará um apelo para agilizar as votações da DRU, da CPMF, do projeto que regulariza recursos mantidos por brasileiros no exterior e da apreciação dos vetos às chamadas pautas-bomba, que elevam gastos do governo. O objetivo é aliviar os cofres públicos e sinalizar ao mercado que a presidente ainda tem condições de governar e recuperar a economia. O núcleo político do governo insiste ainda para que Dilma se reúna mais com empresários, sindicalistas e movimentos sociais, além de retomar as viagens pelo país. Em jantar no Palácio da Alvorada na quinta (15), Lula pediu a Dilma que "mostre que o governo está funcionado" e reorganize a política econômica, sugerindo, inclusive, a troca do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Na sexta (16), houve rumores de que Levy sairia, algo negado por sua equipe após um encontro com Dilma e outros ministros. Para Lula, o Planalto precisa adotar uma agenda "pós-ajuste" e "vender esperança" aos brasileiros para 2016, ou o país entrará em uma situação ainda mais difícil. Na semana passada, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) pediu ao vice Michel Temer (PMDB) que consultasse Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre a viabilidade de votar projetos importantes para o governo. O vice ouviu dos peemedebistas que a aprovação da nova CPMF é "muito difícil", mas ouviu de Cunha o compromisso de pôr a DRU em discussão na CCJ (Comissão de Constituição de Justiça) da Câmara ainda esta semana. Segundo os presidentes da Câmara e do Senado, até o final de novembro, vetos e repatriação dos recursos também devem ser apreciados. O governo acredita que em novembro termina seu primeiro prazo de sobrevida, quando o plenário do STF deve decidir sobre o rito de impeachment na Câmara. Enquanto isso, Cunha tem dado seu recado sobre o acordo tácito e velado com o Planalto. Em conversa com aliados na semana passada, disse preferir aguardar "com a espada sobre a cabeça" do governo a tomar uma decisão neste momento sobre os pedidos para afastar a presidente. Cunha espera que, como combinado, o PT ajude a blindá-lo no Conselho de Ética da Câmara, onde é alvo de pedido de cassação de seu mandato por causa das denúncias de que tem contas no exterior.