Plano chinês de mineração ameaça exportações de Minas

Bruno Porto - Hoje em Dia
22/03/2014 às 08:43.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:46

(Samuel Costa/Hoje em Dia)

O governo chinês lançou um plano para elevar a autossuficiência do país em minério de ferro de 35% para 50% ou mais em dez anos, atingindo uma capacidade de produção de 200 milhões de toneladas ao ano, reduzindo sua dependência de importação. Se confirmado, o plano pode fechar portas do principal parceiro comercial de Minas Gerais e resultar em uma forte redução de preços.    O impacto na balança comercial do Estado pode ser catast   rófico. Nos dois primeiros meses deste ano, o minério de ferro, principal produto exportado por Minas Gerais, respondeu por 44% do total das vendas externas mineiras, sendo que 60% do minério teve a China como destino. Não há outro mercado no mundo com tamanho apetite.   No entanto, especialistas em mineração apontam para uma estratégia da China de lançar o plano com o real intuito de manter os preços do minério de ferro em curva de desvalorização.   “É interesse da China, com o plano, manter o preço em queda. Mas ainda que seja uma intenção real, a China enfrentaria muitos obstáculos. Se a produção fosse local, ainda precisaria importar minério porque o que existe na China é de baixa qualidade. Se comprar minas em outros países, enfrentará resistência, uma vez que não é interesse de um produtor de minério se associar a quem quer derrubar o preço do produto”, diz José Mendo Mizael de Souza, sócio da J.Mendo Consultoria.   “É um plano a ser monitorado, mas não o vejo saindo do papel, até porque a China tem um limite para preços baixos do minério e esse plano derrubaria o preço”, diz Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora.   Obstáculo Dada a baixa qualidade do minério chinês, o preço da commodity não pode cair muito para não inviabilizar a própria produção daquele país. A tonelada de minério de ferro hoje está em torno de US$ 110, e o custo de produção na China é de US$ 100. Se o preço ficar abaixo desse custo, inviabiliza a produção própria.   A estratégia chinesa passa pela criação de um conglomerado de oito empresas capitalizadas e lideradas pela Ansteel Mining, estatal que já é a maior produtora de minério de ferro da China.    38% das receitas da Vale vêm da China A receita operacional bruta da Vale em 2013 foi de US$ 48,9 bilhões, sendo US$ 18,9 bilhões (38,6%) com origem nas vendas de minério de ferro e pelotas para a China.   Em termos de volume, das 305 milhões de toneladas vendidas pela companhia em 2013, 145,8 milhões, ou 47,7%, tiveram a China como destino. O impacto de uma maior autossuficiência chinesa no insumo siderúrgico, além de afetar de forma direta essas receitas, teria ainda reflexo indireto, oriundo do preço menor da tonelada.    O plano chinês pode aumentar a competição entre o minério da Vale e o produzido na Austrália, país mais próximo da China e, portanto, com taxas de frete mais baixas.   “Se a China desenvolver todo esse plano no próprio país, que é o que a mensagem do governo chinês dá a entender, eles ainda vão precisar de muito minério importado, com qualidade superior. Acredito que, nesse cenário, a Vale está bem posicionada porque tem o melhor minério, mas é bom lembrar que a Austrália é grande produtora e está mais perto da China”, diz José Mendo Mizael de Souza, da J.Mendo Consultoria.   O balanço da Vale em 2013 revela uma produção de minério de ferro de 299 milhões de toneladas. A diferença entre a produção e as vendas, normalmente, é suprida por compras de terceiros ou estoques.    Minério representa 44% da exportação Minas Gerais exportou, no primeiro bimestre de 2014, um total de US$ 4,6 bilhões. Principal produto da pauta de exportações, o minério respondeu por US$ 2,1 bilhões (44%). O segundo produto de maior relevância em termos de receita é o café, que no mesmo período acumulou vendas externas de US$ 479 milhões, equivalentes a 9% do total.

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