Os esforços para enfrentar problemas materiais básicos esgotam a capacidade mental das pessoas pobres, o que as deixa com pouca energia cognitiva para se dedicar à sua educação, destacou um estudo publicado esta quinta-feira (29) nos Estados Unidos. Esta mobilização de capacidades cerebrais para superar situações estressantes, como a incógnita de saber se haverá dinheiro suficiente para alimentar a família ou pagar o próximo aluguel, pode representar uma redução de 13 pontos no coeficiente intelectual (CI) de uma pessoa, isto é, uma queda de 10% com relação à média da população. Uma diminuição deste tipo das capacidades mentais equivale àquela que um indivíduo sofre ao perder uma noite de sono, explicaram os cientistas, cujo estudo foi publicado na revista americana Science. "Para muitos pobres, estes problemas se tornam tão persistentes que é difícil se concentrar em outras coisas como educação, formação profissional ou inclusive a organização do tempo", explicou Sendhil Mullainathan, economista da Universidade de Harvard, um dos principais autores do estudo. "Isto não significa que os pobres sejam menos inteligentes que os demais, mas que a pobreza mobiliza muita energia mental", insistiu. "É como um computador que é lento porque está carregando um vídeo longo demais". "A pobreza costuma ser vista como resultado de fracasso pessoal ou a consequência de ter sido criado em um ambiente desfavorável, mas nosso estudo mostra que a falta de recursos financeiros pode, por si só, deteriorar as funções cognitivas", disse Jiayingt Zhao, professor adjunto de psicologia da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá. Para este estudo, os cientistas fizeram experimentos com 400 pessoas escolhidas ao acaso em um centro comercial de Nova Jersey (leste dos EUA) entre 2010 e 2011, com renda anual média de 20.000 a 70.000 dólares.