Polêmica sobre morte de JK volta à tona

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
12/12/2017 às 20:35.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:12
 (Comissão da Verdade em Minas Gerais/Divulgaçao)

(Comissão da Verdade em Minas Gerais/Divulgaçao)

A morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek pode ter sido um “atentado político”. É o que afirma o relatório final da Comissão da Verdade em Minas Gerais (Cevemg), que será apresentado hoje, às 9h30, em audiência Pública na Assembleia Legislativa e às 17 horas em cerimônia no Palácio da Liberdade. No texto, que reacende a discussão sobre o caso, JK é listado entre os 49 mineiros mortos fora do Estado pelas forças repressoras durante o período da ditadura militar.

O relatório da Cevemg ratifica também posição levantada pela Comissão da Verdade da Câmara Municipal e a da Assembleia Legislativa de São Paulo. Já a Comissão Nacional da Verdade não chegou a essa conclusão e manteve a tese de acidente.

JK morreu em 22 de agosto de 1976, na altura de Resende, no Rio de Janeiro, quando fazia o trajeto Rio-São Paulo no seu Opala, acompanhado do motorista. A grande questão do caso é se o condutor do ônibus que informou o acidente à Polícia Rodoviária colidiu no veículo, provocando a morte de JK, lembra o relatório. À época, o motorista do coletivo foi absolvido.

A comissão mineira chegou ao parecer após comparar as três análises anteriores, levantando pontos contraditórios nos relatórios e também nas perícias realizadas sobre o caso – como a compatibilidade entre as amostras de tintas do ônibus e do carro (no local da batida) e uma possível diferença entre o chassi do carro analisado em perícia feita em 1996 e o carro que JK usava, dentre outros pontos. 

“Considerando o contexto da época, as distintas contradições das avaliações periciais, os depoimentos e pareceres jurídicos pode-se afirmar que é plausível, provável e possível que as mortes tenham ocorrido devido a atentado político”, diz o documento, que lembra que num período curto de tempo, também morreram de forma repentina outros adversários do regime, como o ex-presidente João Goulart (mesmo ano) e o líder udenista Carlos Lacerda (ano seguinte).

Relatório inclui novos casos de vítimas da perseguição


Carlos Melgaço Valadares, integrante da Comissão da Verdade em Minas e responsável pela parte de mortos e desaparecidos do relatório final, avalia a posição sobre a morte de JK. “É uma decisão importante. O relatório é muito sintético, mas há toda uma relação de fontes que serão disponibilizadas e que reforçam a possibilidade de atentado. Gerar discussão e contribuir para o esclarecimento da verdade é fundamental”, afirma.

Além dos 49 mineiros mortos fora do Estado pelas forças autoritárias, o relatório também aponta, na seção de Mortos e Desaparecidos, o caso de 17 pessoas assassinadas pela repressão em Minas devido à atuação política (outros casos de morte política são citados em seções dedicadas a camponeses, indígenas e trabalhadores urbanos). 

É o caso do eletricitário Carlos Schirmer, de Divinópolis, morto em 1º de maio de 1964. Ele é tido como uma das primeiras vítimas da ditadura no país. Filiado ao PCB, Schirmer era considerado “subversivo” e foi jogado ferido em uma caminhonete após a sua casa ser invadida durante investigação. À época, a polícia, que havia pedido um reforço de 50 homens para pegar o eletricitário, havia falado em tentativa de suicídio, aponta o relatório. 

“O relatório inova ao trazer casos que não vinham sendo considerados. Como o de pessoas que morreram devido às sequelas da perseguição e da tortura que sofreram, como alcoolismo, desemprego e depressão”, diz Carlos. 

Ele cita o exemplo do professor de Antropologia da UFMG Marcos Rubinger, integrante do PSB. O périplo de Rubinger envolveu várias prisões, incomunicabilidade, exílio em vários países e retorno a Belo Horizonte, onde foi exonerado do seu cargo, além das dificuldades para encontrar emprego, devido ao seu histórico. Numa espiral de depressão e alcoolismo, o professor morreu em 1975.

Diante dos vários casos levantados, Carlos pontua a necessidade de se discutir a imprescritibilidade da tortura e dos desaparecimentos forçados.

Leia também:
Lançado hoje, relatório da Comissão da Verdade joga luz sobre período sombrio em MG
 


 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por