Em artigo publicado ontem no Hoje em Dia e noutros jornais, Delfim Netto afirmou que o Brasil deve se preparar para as mudanças que vão ocorrer nos Estados Unidos, dando claros sinais de que “buscaremos recuperar com firmeza a credibilidade da política fiscal”. Comentando o artigo, Dilma Rousseff disse que sempre leva a sério as recomendações do ex-ministro da Fazenda, e assegurou: “Não há nada que o Brasil não possa segurar”.
Segundo a presidente, a dívida nacional está sob controle pelo 11º ano consecutivo, temos um grande volume de investimentos estrangeiros no Brasil, reservas internacionais e um índice de desemprego muito baixo. Para ela, acabou aquela velha imagem de “espirro nos Estados Unidos, pneumonia no Brasil”, e podemos enfrentar tranquilamente este momento.
Faz parte do papel de presidente da República ser otimista. Na véspera dessa entrevista, Dilma visitou Pernambuco, onde foi bem recebida pelo governador Eduardo Campos, do PSB, e pelos conterrâneos dele que, em 2014, podem ter que escolher, entre os dois, em quem votar para dirigir o país até 2019. A presidente conheceu de perto a Refinaria Abreu e Lima, que inicia a fase de testes para entrar em operação, e a Plataforma P-62, que foi concluída e logo estará produzindo petróleo no Campo do Roncador. Bons motivos para otimismo.
Outra visita da presidente era esperada nesta semana a Belo Horizonte, com expectativa de trazer boas notícias para o metrô, cujo projeto de expansão foi um dos temas da entrevista do prefeito Marcio Lacerda, do PSB, publicada na segunda-feira. Ele se revelava bem otimista.
Mas, com a manchete da edição de ontem, destacando que o Orçamento da União para 2014 só reserva R$ 100 mil para esse projeto do nosso metrô, será muito difícil à presidente transmitir o mesmo otimismo aos conterrâneos do senador Aécio Neves, do PSDB. Cuja candidatura a presidente da República se fortaleceu nesta semana, com a desistência de outro possível candidato tucano, José Serra.
Bom conhecedor do temperamento dos políticos mineiros, Aureliano Chaves, quando governador de Minas, recomendava a seus auxiliares que só anunciassem alguma obra quando tivessem certeza absoluta de que os recursos para sua execução estavam garantidos. Se ouvido, esse conselho teria feito bem a Dilma. Em seu artigo, Delfim Netto recomenda a busca da credibilidade. Mas não basta a credibilidade da política fiscal.
A partir de janeiro, o salário mínimo será aumentado em pelo menos 6,5%, podendo chegar a R$ 724, mantendo ganhos acima da inflação. Uma boa notícia. O Brasil está melhor do que muitos países que sucumbiram à crise financeira de 2008. Mas é possível avançar mais, como se lê na cartilha lançada pelo PSDB, em que aparece a palavra credibilidade. Cortante, como faca de dois gumes.