O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), evocou a ação do embaixador brasileiro Luís Martins de Sousa Dantas que, com a possibilidade de invasão da França pelos nazistas, em 1940, emitiu de próprio punho vistos diplomáticos irregulares para judeus, homossexuais e comunistas, salvando-os do regime de Adolf Hitler, ao falar do "heroísmo" do diplomata Eduardo Saboia. Este, que teve a atitude condenada pela presidente Dilma Rousseff, ajudou o senador boliviano Roger Pinto Molina a fugir para o Brasil, no último sábado, 24.
A fala de Aécio foi contestada pelo presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ). Segundo Lindbergh, "foram cometidas irregularidades" na operação de retirada do senador. Para o senador petista, era preciso que as autoridades brasileiras esperassem o salvo-conduto que o Brasil vinha negociando com o governo da Bolívia antes da retirada do boliviano.
O senador Pedro Taques (PDT-MT) lembrou que a Bolívia não é signatária do Tratado de Caracas, segundo o qual o país que concede o asilo diplomático é que diz o tipo de crime que foi cometido. Por isso, segundo Taques, a Bolívia teria de ter emitido o salvo-conduto, pois nesse caso vale a tradição internacional. E o Brasil concedeu asilo político a Molina.
Os petistas e os senadores do PC do B falaram a mesma linguagem durante o debate e atacaram o diplomata. Para o líder Wellington Dias (PT-PI), Inácio Arruda (PC do B-CE) e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), houve uma grave quebra de hierarquia. Eles insistiram que o diplomata brasileiro descumpriu ordens e pôs em perigo da vida do senador da Bolívia. Já o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) criticou Aécio por ter, segundo ele, pregado a burla à hierarquia, mesmo com a possibilidade de vir a ser presidente da República, pois disputará a eleição no ano que vem.
Antes do debate com Lindbergh, Aécio havia assinado nota qualificando de "deplorável" a atitude da presidente Dilma Rousseff no episódio. Segundo o tucano, Dilma "expôs à execração pública" o diplomata Eduardo Saboia, que ajudou Molina a fugir para o Brasil. "O governo brasileiro se curva, mais uma vez, a conveniências ideológicas", disse.
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