Decisão do STF ameaça a 'Lava Jato', diz procurador

Folha Press
Publicado em 21/09/2015 às 21:58.Atualizado em 17/11/2021 às 01:49.
Integrante da força-tarefa da "Lava Jato", o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima manifestou preocupação de que decisão recente do STF (Supremo Tribunal Federal) de dividir parte da investigação ameace o futuro da operação. "Pode significar o fim da "Lava Jato" tal qual a conhecemos", disse Lima à Folha.
 
Responsável pelos inquéritos do caso no STF, o ministro Teori Zavascki entendeu que suspeitas contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) por desvios no Ministério do Planejamento não têm conexão com o resto da "Lava Jato", que trata de corrupção na Petrobras. Por isso, ele decidiu que o caso de Gleisi pode ser julgado por outro ministro, e  o processo foi redistribuído para Dias Toffoli.
 
O temor de Lima é que, a partir daí, a investigação sobre essa etapa (e inclusive várias outras, que não tratem da Petrobras) seja remetida para outra vara federal, até mesmo fora do Paraná, e deixe de ser conduzida pela força-tarefa  da operação.
 
"O que queremos mostrar é que não estamos investigando a Petrobras. Estamos desvelando a compra de apoio político-partidário pelo governo federal, por meio de propina institucionalizada nos órgãos públicos", disse.
 
Em entrevista coletiva, Lima afirmou ainda acreditar que o esquema investigado pela "Lava Jato" foi gestado dentro da Casa Civil do governo Lula (2003-2010), comandada à época pelo ex-ministro José Dirceu, também preso na operação.
 
"Mensalão, petrolão, [desvios na] Eletronuclear são todos eles conexos, porque dentro deles está a mesma organização criminosa. No ápice dessa organização, estão pessoas ligadas a partidos e, não tenho dúvida, à Casa Civil do governo Lula".
 
Nos bastidores, investigadores temem que a decisão do STF tenha tido influência política, com o objetivo de refrear a operação.
 
A Procuradoria-Geral da República recorreu da decisão de Teori, mas não conseguiu revertê-la até agora. O presidente do STF, Ricardo Lewandowski, negou um primeiro recurso, semana passada.
 
A intenção da Procuradoria é que o caso da senadora Gleisi permaneça como parte integrante da "Lava Jato".
 
'Nessun Dorma'
 
Nesta segunda-feira (21), foi deflagrada mais uma fase da "Lava Jato", que apura suspeitas de desvios em contratos da estatal Eletronuclear. Duas pessoas foram presas: o sócio da Engevix, José Antunes Sobrinho, e João Augusto Rezende Henriques, apontado como operador ligado ao PMDB.
 
Sobrinho já é réu em outro  processo por suspeitas de participação no esquema de corrupção da estatal. Seu advogado, em nota, disse que a prisão desta segunda causa "perplexidade" e que seu cliente não procurou qualquer testemunha para "produzir, ocultar ou alterar prova". A Eletronuclear já havia sido alvo de uma fase anterior da "Lava Jato", no fim de julho.
 
A 19ª fase da "Lava Jato" deflagrada nesta segunda foi chamada de "Nessun Dorma" (que ninguém durma), ária da ópera Turandot, do italiano Giacomo Puccini (1858-1924).
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