Deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) apresentaram nesta quarta-feira (16) a solicitação de uma audiência pública da Comissão Nacional da Verdade (CNV) em Minas Gerais para elucidar as circunstâncias da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. O requerimento foi apresentado pelo deputado Durval Ângelo (PT) durante uma reunião da comissão para ouvir testemunhas do caso.
"Houve algumas revelações surpreendentes à respeito do motorista da Viação Cometa que foi acusado como responsável pelo suposto acidente que matou Juscelino Kubitschek. Por isso, vamos lutar e pressionar para que a audiência da Comissão Nacional da Verdade seja aqui em Minas Gerais e que as pessoas sejam ouvidas aqui, inclusive o motorista que dirigia o ônibus", disse Durval Ângelo.
Entre as pessoas ouvidas durante a audiência na Assembleia está o presidente do Museu Casa de Juscelino e ex-secretário particular de Juscelino, Serafim Melo Jardim, além do assessor da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, Ivo Patarra. Durante a audiência, eles citaram o depoimento concedido recentemente pelo motorista Josias de Oliveira, que dirigia o ônibus que se envolveu no acidente com o carro de Kubitschek.
Na ocasião, Josias confirmou ter sido procurado por emissários do Serviço Nacional de Informações (SNI) para assumir a culpa pelo acidente, mas teria negado o dinheiro oferecido pelos oficiais. Além disso, oito dos nove passageiros do ônibus foram ouvidos e garantiram que o motorista dirigia de forma prudente e dentro da velocidade permitida.
Ivo Patarra apresentou também outros elementos para sustentar a hipótese de assassinato. Segundo ele, Juscelino tinha uma reunião com generais marcada para o dia 25 de agosto de 1976, três dias depois de sua morte. O jornalista acredita que esse encontro tenha sido abreviado para o dia 22, atraindo o presidente para uma emboscada.
Ainda conforme Patarra, a reunião aconteceu no Hotel-Fazenda Villaforte, de propriedade de um dos fundadores do SNI e amigo do então ministro-chefe da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva. Juscelino ficou no local por uma hora e meia e morreu dois minutos e meio depois de sair de lá.
Já o presidente da Comissão da Verdade e do Memorial da Anistia Políticada Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Márcio Augusto Santiago, ressaltou a importância da audiência realizada nesta quarta-feira e afirmou que há um ano a OAB enviou um dossiê levantando hipóteses sobre a morte de JK à Comissão Nacional da Verdade, mas nunca obteve respostas. "Estamos satisfeitos com vulto que o caso está tomando e esperamos que seja investigado".
Investigação
A Comissão da Verdade de São Paulo conseguiu que o governo de Minas localize os resultados da perícia feita em 1996 no objeto metálico que teria sido encontrado na ossada do crânio do motorista de JK. Naquele ano, o secretário particular do ex-presidente conseguiu que o Estado mineiro reabrisse o caso e o corpo do motorista foi exumado. As conclusões foram as mesmas da primeira investigação. Um pedido judicial para autorização de uma nova perícia no crânio será feito agora pela comissão.
"Durante os depoimentos foi citada uma testemunha que teria visto o corpo de Juscelino Kubitschek no chão do necrotério de Resende, enquanto o corpo do motorista etavem em caixão lacrado. Ou seja, o corpo do presidente estava no chão. Isso reforça a tese de que o motorista tinha levado um tiro na cabeça e, por isso, o caixão fechado", disse Durval Ângelo.