A presidente Dilma Rousseff convocou os ministros do PT mais próximos para cobrar envolvimento maior na articulação política do governo e para exigir que esses auxiliares "deem o exemplo". O recado, de acordo com um dos presentes na reunião, foi claro: "Ou os ministros se envolvem ou ficará ainda mais difícil".
A presidente relatou aos ministros petistas as reclamações de parlamentares de que eles não têm recebido para audiências "nem os parlamentares das suas bancadas", o que acaba deixando tudo para o articulador político do Planalto, o vice-presidente Michel Temer. Na avaliação do governo, as declarações em tom "visivelmente emocionado" de Temer na véspera refletiram sua "preocupação com o quadro" do País. Em entrevista, após reunião com líderes de partidos aliados, Temer disse na quarta-feira que era preciso alguém que "unifique" o País.
Dilma chamou seus auxiliares ao Palácio da Alvorada no início da tarde, pouco depois de reunir-se com Temer e com o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, braço direito do vice-presidente nas negociações políticas. Temer afirmou a Dilma que a sensação é de que seu papel tem sido em vão com o atual cenário. Segundo um interlocutor, "você conversa com os líderes, vira as costas e tudo que foi conversado se desfaz".
Estiveram presentes os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa), Edinho Silva (Comunicação Social) e Ricardo Berzoini (Comunicações).
A avaliação foi que, em função das dificuldades econômicas e as investigações da operação Lava Jato sobre vários políticos, a única saída para melhorar a situação é o envolvimento desse núcleo-duro nas negociações com o Congresso.
Na conversa, Dilma cobrou essa participação ativa dos petistas e disse que Temer está "sobrecarregado" na tarefa de dialogar com os parlamentares. Ela elogiou a atuação de Temer e Padilha, segundo um ministro presente.
PEC
Para o governo, a derrota sofrida na madrugada pelo governo na Câmara dos Deputados, durante a votação do reajuste dos advogados públicos, reflete um cenário de "descontentamento generalizado" dos parlamentares. A Câmara aprovou nesta quinta-feira, em primeiro turno, uma PEC que vincula o salário de delegados de polícia e de advogados públicos a um porcentual do salário de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A votação, de 415 votos favoráveis e 16 contrários foi vista como dura derrota do governo, que enfrenta um momento de ajuste fiscal.