EDITORIAL - Mistérios da época da ditadura começam a ser desvendados

Hoje em Dia
Publicado em 08/05/2013 às 06:22.Atualizado em 21/11/2021 às 03:29.

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, afirmou em entrevista nesta semana que já existem elementos para afirmar que os generais que presidiram o Brasil durante a última ditadura militar, com exceção de Castelo Branco e João Baptista Figueiredo, tiveram participação nas ações que resultaram na tortura, extermínio e ocultação dos corpos de militantes de organizações armadas.

É possível, porém, que Figueiredo, como ministro-chefe do SNI durante o governo Ernesto Geisel, conhecesse as atividades da Operação Condor, que combateu opositores das ditaduras no Brasil, Argentina e Chile, e foi muito atuante em meados da década de 1970. Foi nesse período que João Goulart morreu no Uruguai, em dezembro de 1976, morte que vai ser investigada pela Comissão. Quatro meses antes, perdera a vida, num acidente de carro na Rodovia Dutra, o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Cinco meses após a morte de Goulart, deposto pelos militares em 1964, morreu Carlos Lacerda, numa clínica do Rio, em condições também suspeitas. Ele e JK tiveram seus direitos políticos cassados pelos militares e, como Goulart, eram tidos, nessa época, como importantes aliados dos que lutavam contra a ditadura.

Aos poucos, vai se levantando os véus que ocultavam a verdade desse período de nossa história, e muita coisa ainda precisa ser revelada. Pinheiro afirmou que a Comissão já listou 250 agentes da repressão envolvidos em tortura, mortes e desaparecimento de 437 pessoas, mas estima-se que essa máquina da repressão envolvia aproximadamente 1,5 mil militares e policiais.

O coordenador da Comissão afirmou que as Forças Armadas estão colaborando com as investigações, mas advertiu que não há ainda garantia de que o país esteja livre de novas aventuras militares golpistas. “O antídoto é a democracia e o bom funcionamento das instituições”, disse Pinheiro.

Cabe à sociedade reforçar esse antídoto. Pode começar exigindo que a Lei de Acesso à Informação, que no próximo dia 16 completa um ano de vigência, seja cumprida. Levantamento divulgado nesta semana mostrou que em todos os Estados vários órgãos ignoram o dever de ter à disposição, para consulta do público, diversas informações, independentemente de solicitação. Além disso, qualquer pessoa pode requerer dados, sem precisar justificar o pedido. A lei é correta, pois a luz do sol é o melhor desinfetante. A falta de transparência prejudica muito a democracia. 

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