O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento) desmentiu o lobista do PMDB Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, em acareação na Polícia Federal em Curitiba, quinta-feira (5). Costa afirmou, frente a frente com Baiano, que nunca esteve com ele no comitê de campanha presidencial da petista Dilma Rousseff, em 2010, em Brasília, e que não se encontrou com o ex-ministro Antonio Palocci (Governos Lula e Dilma) - coordenador-geral da campanha da petista - para acertar repasse de R$ 2 milhões.
As informações foram divulgadas pelo advogado João Mestieri, que defende Paulo Roberto Costa.
A acareação se prolongou por cerca de 10 horas. A PF pediu o encontro entre Baiano e Costa - ambos delatores da Operação Lava Jato - para esclarecer 'pontos divergentes' de seus relatos.
Baiano e Costa são personagens centrais do esquema de corrupção e propinas que se instalou na Petrobras entre 2004 e 2014.
Em sua delação, o ex-diretor da estatal disse que, em 2010, o doleiro Alberto Youssef o procurou e pediu que arrumasse R$ 2 milhões para a campanha de Dilma. O próprio Youssef negou que tenha solicitado o dinheiro a Costa para aquele fim.
Baiano, por seu lado, também em delação, afirmou que naquele ano foi ao comitê de campanha de Dilma, em Brasília, para acertar o repasse. Ele disse que Paulo Roberto Costa o acompanhou. Ambos foram, a bordo de um Corolla da Petrobras, a um suposto encontro com Palocci. O ex-ministro o teria orientado a falar com o 'dr. Charles' - braço-direito de Palocci no comitê - para combinar como seria realizada entrega do dinheiro.
O ex-ministro nega o encontro. Ele afirma que nunca se reuniu com Baiano.
Segundo João Mestieri, em certo momento da acareação, Paulo Roberto Costa afirmou. "Nunca estive com você (Baiano) em Brasília. Além do que você (Baiano) é um lobista conhecidíssmo. Eu não iria nunca com você a Brasília falar com o ministro no mesmo carro. Eu não sou débil mental."
"A história dele (Baiano) foi desmontando, ele ficou meio acuado", disse Mestieri.
Segundo o advogado do ex-diretor da Petrobras, o delegado da Polícia Federal que presidiu a acareação advertiu Fernando Baiano. "Eu vou dizer ao sr. o que já disse ao sr. Paulo Roberto Costa em outra oportunidade. Se houver discrepância a delação pode cair e o sr. vai cumprir a pena inteira."
Em troca da delação, Baiano deverá ser solto no próximo dia 18.
Na acareação ele não recuou, manteve sua versão, ainda segundo Mestieri. "Fernando Baiano disse que esteve com Paulo Roberto, contou detalhes. São detalhes possíveis numa história que você cria. Agora, nunca poderia na vida real. Enfim, cada um saiu com sua versão, não mudaram uma vírgula. Eu acredito firmemente que a história do Paulo Roberto é a verdadeira."
O advogado de Baiano, Sérgio Riera, não atendeu contatos da reportagem.
O criminalista José Roberto Batochio, que defende Palocci, foi taxativo. "Estão querendo fazer uma delação de conciliação para tentar eliminar as insuperáveis e intransponíveis divergências. Mentiras ditas pelos três envolvidos (Fernando Baiano, Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef), um desmentindo o outro. Inventam mil mentiras, mas a verdade teima em aparecer. É um escândalo de invencionices com a finalidade de escapar da cadeia. Uma coisa absolutamente inidônea, claramente inverossímil com a qual não se compadece a seriedade da Justiça."
Batochio reafirma que "Palocci jamais se reuniu com esse Fernando Baiano, não o conhece, nunca o viu na vida, em lugar algum".
"É preciso que a Justiça cancele os benefícios aos mentirosos e deve faze-lo de ofício, sem ter que esperar ser provocada.A Justiça tem compromisso com a verdade e não com escambos, com trocas que escapam da moralidade."
Perguntado se o desmentido de Paulo Roberto Costa foi bom para a defesa de Palocci, o advogado criminalista disse. "Foi bom para a verdade e para a Justiça."
Batochio disse ter sido informado que, na acareação, Fernando Baiano confundiu-se até na hora de informar onde ficou hospedado em Brasília e quem fez a reserva para ele.