A Polícia Federal finalizou nesta sexta-feira (28) o primeiro inquérito que investigou o ataque de Adélio Bispo ao candidato ao Palácio do Planalto Jair Bolsonaro (PSL) e concluiu que ele atuou sozinho no dia do crime, motivado pelo "inconformismo político".
Um novo inquérito será aberto para que PF investigue os dados telefônicos e contatos mantidos por Adélio. As informações sobre a conclusão da investigação foram dadas pelo delegado Rodrigo Morais, responsável pela investigação na Superintendência da Polícia Federal de Minas Gerais. Ao longo da apuração, disse o delegado, a PF descobriu que Bispo chegou a tentar comprar uma arma de fogo, mas por causa da burocracia e dos custos desistiu da ideia.
Outra descoberta dos investigadores foi que no dia 1ª de setembro, cinco dias antes do crime praticado na cidade de Juiz de Fora, Bispo publicou uma ameaça em uma página de seguidores de Bolsonaro. Na mensagem, o agressor chamava o candidato de "marionete do capitalismo" e encerra, segundo a PF, dizendo que Bolsonaro merecia um tiro na cabeça.
O delegado explicou que Bispo, como havia sido noticiado pela imprensa, realizou um curso de tiro na cidade de Florianópolis, em julho deste ano. A PF esteve no local, tomou o depoimento das pessoas que trabalham no local e soube que na aula final do curso Bispo chegou a disparar 70 tiros.
Questionado sobre as aulas, o agressor confirmou à PF que tinha interesse em adquirir uma arma. Segundo ele, o objetivo da aquisição era "proteção" uma vez que se sentia ameaçado pelo fato de ter feito denúncias contra um político da cidade mineira de Uberaba. A PF investigou a suposta denúncia e confirmou que foi feita uma denúncia formal contra esse político. O nome não foi divulgado. "Ele nos disse que tentava adquirir uma arma de fogo, mas não conseguiu por conta das dificuldades burocráticas e do custo", disse o delegado do caso.
Inconformismo
Para o delegado Morais, os depoimentos do próprio Bispo e análise do material permitem afirmar "a motivação foi o inconformismo político em relação ao candidato Jair Bolsonaro". Bispo, disse o delegado,se diz adepto da ideologia política de esquerda enquanto Bolsonaro seria de extrema-direita. No material amealhado nas redes sociais de Bispo, a PF chegou a encontrar uma ameaçada de morte a Bolsonaro em uma publicação.
"Ficou claro que havia essa discordância em relação aos projetos políticos do candidato. Dessa forma se configurou o crime contra a segurança nacional", explicou Morais. Bispo foi indiciado no artigo 20 da Lei de Segurança Nacional que fala sobre atentado a pessoas por inconformismo político.
Família
Questionado sobre uma possível pressão exercida pela família de Bolsonaro e pelas declarações do próprio candidato sobre uma possível operação abafa, o delegado Rodrigo Morais disse que isso não incomoda. "(Não incomoda) porque o trabalho é técnico, a hipótese do envolvimento de terceiros nunca foi descartada. A gente não trabalha pautado nesse tipo de coisa (comentários da família)", disse o delegado.
Especificamente sobre o comentário de Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan, o delegado disse que "esse tipo de comentário é irrelevante e não influi em nada nas condições do trabalho". Morais também foi questionado se a família procurou a PF para indicar alguma linha investigação ou diligência que achava necessária. Segundo o delegado, a família ou advogado de Bolsonaro nunca procurou a PF para sugerir ou indicar alguma suspeita que devesse ser apurada.
2º inquérito
Para chegar à conclusão da atuação isolada de Bispo, 50 policiais da PF analisaram 150 horas de vídeos, 600 documentos e 1.200 fotos. Além disso, foram analisados 2 terabytes de informações encontradas com Bispo e de quebras de sigilo telefônico, bancários e telemático.
No segundo inquérito, a PF vai fazer uma devassa nos dados telefônicos e contatos mantidos nos últimos cinco anos. Além disso, serão analisadas 6 mil mensagens trocadas via aplicativo e dados coletados em seis e-mails utilizados por Bispo. Desses e-mails, já foram analisadas 1060 mensagens.
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