Ex-presidente sugere que corrupção na Petrobras vem de longa data

Agência Estado
Publicado em 02/02/2015 às 13:27.Atualizado em 18/11/2021 às 05:52.

O ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli chamou o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa de "dissimulado", em entrevista ao jornal Valor. Disse que o ex-diretor tem 30 anos de Petrobras e sugere que a corrupção vem de longa data: "E você acha que começa agora?".

Gabrielli negou que poderia ter evitado esses desvios, em sua gestão, e que inclusive o próprio Costa disse que seguiu estritamente as regras internas. "Se não tem falha nos procedimentos internos, como é que se descobre a relação entre um doleiro e um fornecedor? Não tem como descobrir".

Costa, delator da Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobras, afirmou que recebia 3% em propina sobre contratos. Esse porcentual é questionado pelo ex-presidente na reportagem, dizendo que "primeiro isso não está provado. E 3% de todos os contratos são R$ 4 bilhões. E onde é que estão esses R$ 4 bilhões", indaga. Ainda sobre propina, Gabrielli explicou que "o registro contábil é complicado, porque é difícil separar o que é comissão de corrupção."

Segundo Gabrielli, "não se pode, a partir do comportamento criminal de algumas pessoas, criminalizar uma empresa do tamanho da Petrobras".

Questionado sobre a influência do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva em questões de investimento em refinarias que hoje estão sob investigação, Gabrielli respondeu que o "conselho forçou um pouco" a decisão num momento de mercado em que o Brasil "estava precisando", para atender os sinais de aumento do consumo, por volta de 2006, 2007. Depois, ele diz que o "mercado mudou", o que justificaria que não havia mais possibilidade de exportar derivados, como era o objetivo das refinarias Premium e a de Pernambuco. "Hoje, a Petrobras avalia que Premium I e II não precisam mais ser feitas porque o mercado vai ser atendido por Rnest e Comperj. É uma mudança de mercado, mas é assim mesmo".

Indagado sobre o tamanho da dívida, de R$ 300 bilhões, com risco de vencimento no curto prazo, o ex-presidente da estatal ponderou que "isso, se tiver o default", mas que não se calcula a dívida vencendo imediatamente."

"Agora, os 30% do pré-sal eu acho que está ameaçado", afirmou, explicando que a redução dos investimentos significa mudança na curva de produção e se tiver novos leilões para o pré-sal vai se criar dificuldade para alcançar essa participação obrigatória da estatal. "Isso é uma discussão de governo, não da Petrobras".

A respeito de Pasadena, entre outros pontos, trata da briga com a sócia Astra e que não havia como continuar com a sociedade, por isso foi proposto ao conselho de administração a compra dos outros 50% e pedido de mais informações. Ao comentário de que o conselho era presidido por Dilma Rousseff, rebateu que não importa quem está na cadeira. "Essa é uma questão política." Afirmou que na ocasião ela pediu mais informações por duas ou três reuniões e que o "superboard", comitê gestor da refinaria, se reunia apenas uma vez. Sobre a decisão de Paulo Roberto Costa, que representava o superboard, afirmou que "se recebeu propina, foi fora da Petrobras" e que "ninguém decide individualmente na Petrobras. Eu digo sempre, a Petrobras não é uma bodega".


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