Governo de Minas vai rever projetos herdados

Alessandra Mendes - Hoje em Dia
08/05/2015 às 06:05.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:56

Com a mudança no governo do Estado, programas que estavam estabelecidos foram suspensos para reestruturação e, em alguns casos, encerrados. Segundo levantamento realizado pelo Hoje em Dia, pelo menos nove projetos em diversas áreas se enquadram nesse cenário. Situação que gerou impactos para alunos de rede pública estadual, artistas e produtores da área cultural, empreendedores e a população como um todo.


A pasta mais afetada foi a de Cultura, com o encerramento dos projetos Ballet Jovem e a Big Band, ambos do Palácio das Artes, por falta de recursos.


Integrante do Ballet Jovem desde fevereiro do ano passado, o bailarino Gustavo de Oliveira Leite, de 23 anos, lamenta o fim do grupo. “Vai fazer muita falta. Meu tempo de dança está correndo e não tenho perspectiva de profissionalização, que teria no Palácio”, conta.


Mesmo sentimento da bailarina Bárbara Santana, de 18 anos, que entrou no grupo há 3 meses. “Acabei de me formar e o projeto era uma oportunidade de crescimento, abrindo portas para companhias de dança. Agora não sei como vai ser”, alega a jovem.


Bastidores


“A justificativa, pelas reuniões que tive, é que não tem verba. Mas, nas entrelinhas e conversas de bastidores, sabemos que não é prioridade da nova presidência (da Fundação Clóvis Salgado)”, alega o coordenador artístico da Big Band, Thiago Nunnes. O grupo era mantido com cerca de R$ 35 mil mensais.


Outros dois projetos culturais estão suspensos ou sob reavaliação – Cena e exposição interativa do Palácio da Liberdade. Sob nova gestão, o Circuito Cultural da Praça da Liberdade pode perder até 70% dos recursos, segundo fontes da área. A justificativa para a mudança de gestão foi, justamente, a contenção de gastos. O governo nega a perda de recursos.


“Lamento o cancelamento de alguns programas. O Circuito teve mais de 3 milhões de visitantes. Imagino que deva ocorrer algum impacto com as mudanças. É impossível não haver nenhum”, alega a presidente do Instituto Cultural Sérgio Magnani, Cristiana Kumaira.


Em nota, a Secretaria de Estado de Cultura informa que o Ballet Jovem e a Big Band acabaram por falta de recursos e que “podem sobreviver sem verba estatal”. Já a exposição foi suspensa “por problemas técnicos e risco de curto-circuito”. O Iepha também informou infestação de cupins no piano de cauda do Palácio da Liberdade.


Problemas


Ainda de acordo com o governo do Estado, há problemas de várias naturezas no Circuito, como equipamentos fechados desde meados de 2014 por falta de recursos para obras (Museu Mineiro, Secretaria de Viação e Obras Públicas), espaços com indefinição de uso (Palacete Dantas e Sobrado Narbona), e prédios em mau estado de conservação (Biblioteca Pública e Arquivo Público Mineiro).


O Estado alega que não houve corte de recursos para o Circuito e que vai investir em obras e necessidades do projeto.


Retrocesso


A ex-secretária de Estado da Cultura de Minas Eliane Parreiras considera as mudanças um retrocesso. “A paralisação de projetos ou programas culturais representa sempre grande perda para a classe cultural e para toda a sociedade”, afirma.


Especialista critica suspensão da ‘Educação em Tempo Integral’


Na área da educação, pelo menos três projetos foram atingidos com a mudança de governo. A paralisação de um deles, o “Educação em Tempo Integral”, deixou milhares de alunos da rede estadual prejudicados. Criado em 2007, o projeto que complementa as aulas com atividades extra-classe, era oferecido em 1.787 escolas estaduais até o ano passado.


A suspensão das atividades nesse ano gerou reclamação de famílias que dependiam do sistema. A alegação do governo é de que havia a necessidade de reestruturação do programa. Especialista na área de educação, o professor da Puc Minas Teodoro Zanardi concorda que uma mudança era necessária, mas avalia que foi feita de forma incorreta.


“O ideal seria reavaliar o projeto com ele em andamento. Não dá para parar de ter aula e só voltar depois de reavaliar. As famílias dependem disso. Até entendo que estão perseguindo uma maior qualidade, mas as famílias não poderiam ficar sem esse amparo”, afirma Zanardi.


Remodelado


A Secretaria de Estado de Educação esclareceu, por meio de nota, que o programa, que agora se chama “Educação Integral”, não acabou. E que as ações para o ano letivo de 2015 começaram a ser organizadas em abril, após a reformulação feita no primeiro trimestre.


Inicialmente, as ações estão sendo desenvolvidas em 1.279 escolas que, em 2014, foram inscritas no Programa Mais Educação, do Ministério da Educação (MEC), com o atendimento de cerca de 100 mil alunos.


O programa “Reinventando o Ensino Médio”, que previa uma carga horária maior para ensino de disciplinas com viés de empregabilidade, foi encerrado. Segundo o governo, a medida foi adotada “devido a uma série de problemas de operacionalização, o que gerou críticas de professores e alunos nos últimos anos”.


‘Valores de Minas’


Um dos principais programas de assistência à juventude no período do PSDB à frente do governo do Estado, o “Valores de Minas” vai sofrer alterações. Ainda não foi informado o que será mudado. Alunos e professores do programa estão apreensivos com a situação.


Em nota, o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) informou que em momento algum foi cogitada a diminuição do “Valores de Minas”. De acordo com o órgão, “a proposta inicial é ampliar as oportunidades com adoção do ensino técnico”. Mas a garantia é que nada será mudado sem ser antes amplamente discutido com os integrantes do programa.
 

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