O ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) afirmou nesta quinta-feira (8) que o governo não vê a necessidade de se instalar outra Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para que deputados e senadores investiguem as denúncias de corrupção na Petrobras.
Segundo o ministro, o país possui órgãos públicos de investigação que são mais eficientes que uma CPI. "Nós entendemos que em um país que tem um Ministério Público que atua, que tem uma Controladoria-Geral da União que atua, que tem um Judiciário que atua e uma Polícia Federal que atua, isso é muito mais eficiente e não há necessidade de CPI. Achamos que elas funcionam e por isso elas estão sendo eficientes", disse.
Contrariado por ter tido seu nome envolvido no esquema de corrupção da Petrobras, investigado pela Operação "Lava Jato" da Polícia Federal, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), escreveu nesta quinta em sua página do Twitter que irá atuar para que a bancada do partido assine o pedido de criação imediata de uma nova CPI da Petrobras no Congresso.
A declaração é um recado ao Palácio do Planalto, que privilegiou na reforma ministerial indicações políticas com maior trânsito no Congresso numa tentativa de ter maior controle sobre a base governista e impedir inclusive a instalação de uma nova comissão para tratar dos desvios da empresa.
Setores do PMDB interpretaram o gesto como uma movimentação para enfraquecer o partido, maior aliado do governo. Além disso, a citação do nome de Cunha na Operação "Lava Jato" pode complicar a sua candidatura à Presidência da Câmara. Conforme a Folha de S.Paulo publicou, um policial federal preso na Operação "Lava Jato" citou o peemedebista como destinatário de recursos do esquema montado na estatal.
A reportagem apurou que, em sua delação premiada à Força Tarefa do Ministério Público, o doleiro Alberto Youssef também mencionou Cunha como beneficiário do esquema. Cunha nega as acusações.
O Ministério Público Federal pedirá ao Supremo Tribunal Federal para investigá-lo. Cunha nega qualquer ligação com o esquema de irregularidades e defende que a citação ao seu nome é frágil.
Independência
Apesar de o governo temer problemas caso Cunha seja eleito como presidente da Câmara, Pepe Vargas afirmou que o Executivo não irá interferir em assuntos administrativos do Legislativo "por respeitar a independência e a harmonia dos poderes".
O PMDB é a segunda maior bancada da Câmara, com 66 deputados. Além do controle da bancada, Cunha tem forte influência em outras legendas. Alguns parlamentares dizem inclusive que ele comanda uma bancada suprapartidária. O líder do PMDB enfrenta resistências do Palácio do Planalto.
A discussão de uma nova CPI deve ocorrer em fevereiro, quando o Congresso retoma as atividades após o recesso. No ano passado, o governo conseguiu controlar a CPI que tratou das denúncias de corrupção na empresa, mas teme os desgastes políticos de uma nova investigação e prefere deixar os desdobramentos com a Justiça.
Cunha responsabiliza adversários pela divulgação de seu suposto envolvimento com a operação "Lava Jato". Ele disputa a presidência com Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-RJ).
Segundo escalão
O ministro afirmou ainda que a composição do governo no segundo escalão obedecerá a três critérios específicos. "Queremos que as indicações tenham competência e capacidade de gestão para as funções que vierem a ser ocupadas. O segundo critério é o do histórico de probidade das pessoas e o terceiro é o de equilíbrio entre os partidos da coalização que elegeu a presidente Dilma Rousseff", disse Vargas.
Segundo o ministro, o esclarecimento foi feito por ele nesta quinta para evitar especulações na imprensa. "Nós encaramos todas as manifestações que eventualmente que um pode estar melhor posicionado como normais. Não conheço nenhum governo na face da Terra que tenha sido constituído e eventualmente não possa haver uma queixa", disse.
Pepe Vargas afirmou que o governo discutirá com o Congresso apenas os assuntos inerentes à pauta legislativa. Ele, no entanto, não detalhou quais são as prioridades do governo para este ano no Congresso.