Lobista do PMDB é delator que pode esclarecer investigação sobre Palocci

Estadão Conteúdo
Publicado em 26/08/2015 às 18:18.Atualizado em 17/11/2021 às 01:31.

O operador de propinas do PMDB Fernando Antonio Soares Falcão, o Fernando Baiano, é o suposto detentor de segredos sobre o pedido de repasse de R$ 2 milhões de propina que teria sido feito pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (governo Lula), para a campanha de Dilma Rousseff à Presidência, em 2010. Em acareação na CPI da Petrobrás nesta terça-feira, 25, o doleiro Alberto Youssef afirmou que um 'outro delator' da 'Lava Jato' vai esclarecer 'em breve' o episódio.

Youssef foi acareado com Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás (Abastecimento). Ambos são delatores da 'Lava Jato'. Os dois apresentaram pontos divergentes em suas delações à força-tarefa da Lava Jato, e, por isso, foram colocados frente-a-frente na CPI da Petrobrás.

Costa reafirmou que o doleiro o procurou na campanha de 2010 alegando que recebeu pedido de Palocci para repassar R$ 2 milhões para a campanha da candidata do PT. Na acareação, Youssef foi enigmático. "Vou me reservar ao silêncio, porque existe uma investigação nesse assunto do Palocci e logo vai ser revelado", disse o doleiro.

Ele afirmou: "Eu não conheço o Palocci, não conheço o assessor, nem o irmão e ninguém fez pedido a mim para que eu arrebanhasse recurso para a campanha da Dilma de 2010?", afirmou o doleiro. "Tem outro réu colaborador que está falando. Eu não fiz esse repasse. Assim que essa colaboração for divulgada, vocês vão saber quem pediu e quem repassou os recursos."

Fernando Baiano é o detentor dos segredos que Youssef menciona sem citar o nome. A defesa do operador do PMDB não foi localizada para comentar o caso.
Operador de propinas do principal partido da base aliada do governo Dilma, Baiano negocia desde o mês passado um acordo de colaboração premiada com a Lava Jato. Nesta quarta-feira, 26, Baiano está depondo.

O lobista foi condenado na semana passada pelo juiz federal Sérgio Moro, com o ex-diretor de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, por cobrar e receber propina de US$ 40 milhões, em dois contratos de navios-sonda. Os negócios são os mesmos que teriam rendido pelo menos US$ 5 milhões em propinas para o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O parlamentar foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, perante o Supremo Federal (STF) por corrupção e lavagem.

Costa e Youssef confessaram em suas delações que a diretoria de Abastecimento, inicialmente, era cota do PP. Segundo ele, posteriormente, o operador Fernando Baiano ingressou no esquema desde que o PMDB passou a ter controle da área.

Versões

O ex-diretor de Abastecimento e o doleiro eram responsáveis pelo caixa da propina do PP no esquema montado na Petrobrás, envolvendo ainda PT e PMDB.

Costa diz que tratou com Youssef do repasse de R$ 2 milhões da cota do PP no esquema da Petrobrás em 2010 para a campanha de Dilma em 2010 a pedido de Antônio Pallocci. O ex-diretor afirmou ter conhecido Palocci em 2004, quando o então ministro da Fazenda era membro do Conselho de Administração da Petrobrás e Dilma presidente do conselho e ministra de Minas e Energia.

O ex-diretor e o doleiro foram os primeiros delatores a detalharem o esquema de cartel e corrupção na Petrobrás ligados a partidos. Deflagrada em março de 2014, a Lava Jato descobriu um complexo e sofisticado esquema de desvios de até 20% em contratos da estatal, a partir de 2004, que rendia de 1% a 3% para partidos e políticos.

Youssef nunca negou ter ocorrido o pedido nem o pagamento dos R$ 2 milhões. Sustenta que não foi o responsável. Ontem, diante dos parlamentares, de Costa e das câmeras de TV, revelou que um outro operador guarda os segredos dessa suposta operação.

O PP era originalmente responsável pela Diretorias de Abastecimento. A partir de 2007, no entanto, o PMDB - que tinha como cota a Diretoria de Internacional - passou também a ter ingerência nos negócios da área comandada por Costa, após apoio dado a ele politicamente para manutenção no cargo.

PMDB

Em sua delação premiada, Paulo Roberto Costa contou à força-tarefa da Lava Jato que em dezembro de 2006 quase morreu após uma viagem à Índia. Com malária e pneumonia, a chance de viver, segundo médicos, era de 5%. O delator afirmou que ficou entubado durante 15 dias na CTI de um hospital no Rio. Passou 2 meses afastado do cargo na diretoria de Abastecimento se tratando. Período que, segundo ele, serviu para que três gerentes quisessem ocupar seu lugar.

A sustentação política de Costa na diretoria de Abastecimento foi mantida pelo PMDB. Segundo ele, houve reuniões e jantares no 2º trimestre de 2007, na casa de Renan em Brasília, para tratar, primeiramente, da manutenção de Costa no setor e, depois, para falar de obras da estatal petrolífera.

"Sabemos que tem um problema lá, que querem te tirar, a gente acha que você deveria continuar. Já conversamos com o PP a respeito disso", teriam dito representantes do PMDB para Paulo Roberto Costa. "Se eles me tirassem naquele momento, ia assumir outro (do) PT. Era PT na Gás e Energia, PT na Exploração e Produção, PT na área de Serviços, PT na Abastecimento. Ia ser PT de ponta a ponta. Obviamente que o PMDB também não queria isso."

A contrapartida que o PP daria ao PMDB, após consolidar Costa no cargo, era a divisão da diretoria de Abastecimento. O PP, com PT e PMDB, são suspeitos de lotear diretorias da Petrobrás para arrecadar entre 1% e 3% de propina em grandes contratos, mediante fraudes em licitações e conluio de agentes públicos com empreiteiras organizadas em cartel.

A investigação sobre Antonio Palocci está sendo realizada pela força-tarefa do Ministério Público Federal, com base no Paraná.


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