O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na noite desta sexta-feira (24), estar de "saco cheio" e "cansado das mentiras e safadezas". Em um discurso mais curto que os seus tradicionais, o petista demonstrou cansaço e expressão de abatimento. Defendeu a sucessora Dilma Rousseff e tentou minimizar o cenário de crise que assola o país, durante discurso de cerca de 20 minutos, em vez dos tradicionais pronunciamentos mais efusivos em que chega a falar por mais de uma hora, arrancando aplausos da plateia.
"Estou cansado de agressões à primeira mulher que governa esse país, de ver o tipo de perseguição que tentam fazer às esquerdas nesse país", disse Lula. "Não tem pessoa com caráter mais forte nesse país que a Dilma", afirmou em outro trecho em que exaltou a presidente.
Lula não citou diretamente a Lava Jato, da investigação da Procuradoria-Geral do Distrito Federal contra ele, por suposto crime de tráfico de influência em favor da Odebrecht. Ele também não citou qualquer partido ou político de oposição, mas reclamou da imprensa, como costuma fazer. Sem citar movimentações pelo impeachment de Dilma, o ex-presidente se disse "profundamente irritado" com a reação de "pessoas que se diziam democráticas e que não aceitaram até agora o resultado de uma eleição que reelegeu a presidenta da República".
Lula também reforçou o discurso de que há um "clima de ódio, de intolerância estabelecido no país" e voltou a fazer comparações com o nazismo. "O que a gente vê na televisão parece os nazistas criminalizando o povo judeu, os romanos criminalizando o povo cristão, os fascistas criminalizando os italianos. Sei que é difícil para parte da elite brasileira aceitar certas coisas", disse, repetindo que os avanços sociais, como saída da população da miséria, inclusão educacional, com pobres chegando à universidade, indo a restaurantes e viajando de avião, incomodam as elites. "Tudo que é conquista social incomoda uma elite perversa."
O discurso veio poucos minutos depois da divulgação na internet de trechos da matéria da revista Veja deste final de semana. A reportagem mostra o cerco se fechando contra o ex-presidente ao afirmar que o empreiteiro Leo Pinheiro, da OAS, pretende fazer delação premiada implicando Lula no escândalo de desvios na Petrobras.
Crise
No discurso realizado no Sindicato dos Bancários do ABC, na Grande São Paulo, Lula admitiu que existe medo na população brasileira e que as pessoas começam a se preocupar com a inflação e com o desemprego, mas tentou minimizar a gravidade da situação. "Eu sei o que é o desemprego porque fiquei um ano e meio parado. A inflação está alta, a 9%, mas vai cair", disse ao apontar que o desemprego era de 12,5% e a inflação de 12% quando ele assumiu a Presidência. O ex-presidente não fez qualquer menção à redução da meta fiscal anunciada esta semana pela equipe econômica de Dilma.
Ele, no entanto, repetiu argumentos de que seus antecessores quebraram o país duas vezes e exaltou "o poder de recuperação extraordinário" do Brasil, com um mercado consumidor de 200 milhões de pessoas. "Temos que dizer para todas as pessoas que acham que o mundo vai acabar, que não há momento na história desse país que o Brasil não tenha passado por uma crise", afirmou. "Não é porque uma criança está com febre que a gente vai enterrar", completou.
Lula disse que é preciso trabalhar a conscientização e formação das pessoas para que elas compreendam que os políticos podem melhorar suas vidas, especialmente destacando os avanços dos últimos 12 anos para os mais jovens. "Quem vem apostando no fracasso deste país vai quebrar a cara."
Apesar de muito bem recebido e citado por três vezes no palco como melhor presidente que o país já teve, Lula não foi saudado pelos tradicionais "olê olê olá, Lula, Lula", nem ouviu os costumeiros efusivos aplausos. Ele falou para cerca de 200 sindicalistas na cerimônia de posse da nova gestão do Sindicato dos Bancários do ABC, na Grande São Paulo. No palco, estavam, entre outros, os prefeitos petistas Luiz Marinho (São Bernardo do Campo) e Carlos Grana (Santo André), o deputado federal Vicentinho (PT-SP) e o presidente da Central Única dos Trabalhadores em São Paulo (CUT-SP), Adi dos Santos.
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