Mãe de Marielle é acolhida por mulheres que eram amparadas pela filha

Estadão Conteúdo
14/06/2018 às 08:38.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:35

(Reprodução/Facebook )

Como coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio, Marielle Franco acolhia diariamente mães de vítimas da violência, e as ajudava a brigar por justiça. Agora, é Marinete Silva, mãe da vereadora do PSOL, assassinada no dia 14 de março, quem é amparada por essas mesmas mulheres, que se uniram a ela em seu clamor por uma resposta da polícia para o caso. Nesta quinta-feira, (14), o crime completa três meses sem que se tenham descoberto seus autores, mandantes e motivação.

"É um conforto para mim. Elas me fortalecem, retribuem o que a minha filha fez por elas", agradeceu Marinete nesta quarta-feira, (13), nos braços de Rose Vieira, de 50 anos, uma das mães. Ela saía de um ato em frente ao Ministério Público do Rio, convocado pela Anistia Internacional para não deixar que as execuções da vereadora e do motorista Anderson Gomes caiam no esquecimento.

Rose credita à atuação de Marielle - que foi por cerca de dez anos coordenadora da Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL) - a resolução do caso de seu filho, o policial civil Eduardo Oliveira. Ele foi morto a tiros em 2012, aos 25 anos, em circunstâncias nebulosas. Condenado por homicídio culposo, o verdadeiro assassino, outro policial, segue solto, mas sem Marielle não teria havido sequer o julgamento, afirma Rose.

"Ela viu meu desespero e foi afetuosa comigo. Compareceu a todas as audiências. Até hoje me emociona lembrar. Quem faria isso?", indaga Rose. "Quando soube que ela também tinha sido morta, o chão abriu diante de mim. Mais um caso impune? Fui atrás para acudir. Hoje, Marinete é família. Faço por Marielle o que ela fez pelo Eduardo. Só quem perdeu um filho entende a perda, ninguém mais compreende esse lugar."

Além de mães de policiais mortos, também compõem a rede de solidariedade em torno de Marinete quem teve filhos vitimados em chacinas nas Favelas de Acari, Borel e Manguinhos, entre 1990 e 2012. "Quem sente dor é solidário ao outro", define o pai de Marielle, Antônio Francisco Silva.

Dalva Correia, mãe de Tiago da Costa Correia da Silva, uma das quatro vítimas da chacina do Borel, usa as mesmas palavras para descrever sua aproximação dos parentes da vereadora. "Todas as mães que tiveram os filhos assassinados nessas circunstâncias nos últimos anos foram abraçadas por Marielle, que dava voz aos invisíveis."

Justiça

Depois do protesto, a família de Marielle e uma representante da Anistia foram recebidas pelo procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem.


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