Afastados

Menos de 10% dos jovens de 16 e 17 anos tiraram título de eleitor até agora

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 19/03/2022 às 18:18.
Laura Sabino, ligada ao MST, usa animações para debater temas políticos (Laura Sabino/Arquivo Pessoal/Divulgação)

Laura Sabino, ligada ao MST, usa animações para debater temas políticos (Laura Sabino/Arquivo Pessoal/Divulgação)

Nunca antes na história do Brasil o número de jovens alistados para votar foi tão baixo. Somente um em cada dez jovens entre 16 e 17 anos se interessou até o momento em tirar o título de eleitor para votar nas eleições deste ano. É o menor patamar desde 1992, quando começou o registro histórico do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Naquele ano, o país teve 3,2 milhões de eleitores votando pela primeira vez, o que representava 25% do contingente.

Este ano, conforme a Justiça Eleitoral, o país tinha, até fevereiro passado, 731 mil jovens entre 16 e 17 anos inscritos para votar, o que equivale a 9,6% da população total nessa faixa etária, estimada em 7,7 milhões. Em Minas, o contingente alcança 72.379 eleitores, ou 9,9% do total de mineiros entre 16 e 17 anos, que é de 726 mil jovens.

O que está por trás do desinteresse recorde dos jovens pelas urnas? Para o professor Adriano Gianturco, coordenador do curso de relações internacionais do Ibmec, é até normal uma redução dos números absolutos de jovens inscritos, devido à queda demográfica da população, mas isso não explica tudo.

Segundo ele, a digitalização das relações e o ambiente online tendem a aumentar a radicalização e afastar as pessoas menos dispostas ao conflito. “As eleições são o momento de maior acirramento dos pontos de vista. A ampliação das redes sociais aumenta ainda mais essa radicalização e pode afastar parte da população menos propensa aos conflitos e ao embate”, disse.

“As pessoas querem acreditar que o debate político é pacífico, sensato, mas não é. O normal é o conflito”, defende. Esse acirramento, para Gianturco, acaba contribuindo para o afastamento de jovens que não estão interessados neste momento em exposições e confrontações.

Se a política real enfrenta dificuldades para atrair os jovens, na Internet o mundo é outro. Falando de jovem para jovem, influenciadores digitais que são também militantes na política tratam do tema com desenvoltura e colecionam curtidas e cliques. Apesar de terem suas preferências partidárias, não há compromisso com regramentos e limitações típicas das instituições partidárias formais.

Influenciadores

Com mais de 100 mil seguidores em cada uma de suas redes sociais – canais no Youtube, Twitter, Instagram e Twitch –, a mineira Laura Sabino, de Ribeirão das Neves, se classifica como uma “jovem da quebrada”, que fala e consegue ser ouvida na rede. “Eu tenho que falar de forma simples sem ser simplista. As pessoas têm que entender o que eu digo, mas eu tenho que saber que ninguém ali é burro”, conta.

Militante de esquerda, Laura é ligada ao PT e ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Um dos seus vídeos mais assistidos, com 119 mil visualizações, usa o filme “O Diabo Veste Prada” para falar do feminismo liberal, e essa é uma estratégia comum utilizada por ela que, por exemplo, fala de comunismo utilizando o filme Monstros S.A.

Do lado oposto no espectro ideológico, Sarah Marques, de Belo Horizonte, ativista da União Juventude Liberal, já soma 12 mil seguidores nas redes sociais.

Ela defende que, para a política dar certo, é necessário adequar a linguagem, mas se diz preocupada. “Quando um jovem demonstra desinteresse, significa que no futuro teremos uma sociedade desinteressada. Não é um problema só dos jovens”, diz.

Já o Partido Novo criou uma ação chamada Sociedade de Debate, na qual os jovens participantes podem fazer networking tanto entre eles como com profissionais já estabelecidos. “Oferecemos conteúdo, contato com profissionais de destaque e formação para as profissões que eles pretendem escolher”, diz Matheus Biancardine, responsável pela gestão da juventude no partido.

Em jogo

Com o primeiro turno marcado para o dia 2 de outubro, o pleito deste ano vai eleger o presidente e o vice-presidente da República, governadores de Estado e seus vices, 27 senadores (1 por unidade federativa) e os 513 parlamentares que compõem a Câmara dos Deputados (Minas elegerá 53 destes). Além desses, serão eleitos os deputados estaduais para as Assembleias de todos os Estados.

No caso de Minas, serão 77 representantes.
Para a população entre 16 e 17 anos, o alistamento eleitoral é facultativo: a pessoa tira o título se quiser e, se tirar, vota apenas se desejar. Não há qualquer penalidade, como no caso dos adultos acima de 18 anos que, se não compareceram às eleições nem justificarem, ficam sujeitas ao pagamento de multa e penalidades como não poder retirar passaporte nem participar de concurso público.

O prazo para alistamento eleitoral vai até 4 de maio. Para fazer o alistamento eleitoral pela primeira vez, basta acessar o sistema TítuloNet, selecionar a opção “não tenho” na guia “Título de eleitor” e preencher todos os campos indicados. O sistema vai pedir o envio de pelo menos quatro fotografias para comprovar a identidade do eleitor ou eleitora. Após o cadastro, é possível acompanhar a tramitação do pedido também pela internet.

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