Foco de campanha

Metade dos votos que Bolsonaro precisa para vencer Lula em Minas estão na Zona da Mata

Jader Xavier
@ojaderxavierjsbarbosa@hojeemdia.com.br
Publicado em 11/10/2022 às 07:00.

O governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que declarou apoio a Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da disputa pela Presidência da República, tem a missão de virar voto no Estado para o atual presidente. E um dos principais desafios está na Zona da Mata. É o que aponta levantamento feito pelo Hoje em Dia levando em consideração a quantidade de votos recebida por Lula (PT) no primeiro turno e o histórico das eleições na região.

 No dia 2 de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva foi escolhido por mais de 5,8 milhões de eleitores mineiros, enquanto Bolsonaro recebeu 5,2 milhões de votos. A diferença entre os dois em Minas foi de 563 mil votos. E quase metade dessa diferença está só na Zona da Mata.

O candidato do PT recebeu 251 mil votos a mais do que o adversário na região. Das 141 cidades da localidade, Lula venceu em 131. O que transforma a região em um grande trunfo para Lula e em um grande desafio para a parceria “Bolsozema”.

Além da diferença significativa entre os dois candidatos registrada no último domingo de votação, Zema terá que quebrar um tabu enfrentado pelos governadores mineiros de conseguir puxar votos aos presidenciáveis que os apoiaram.

“Por exemplo, em 1998, disputou a reeleição Eduardo Azeredo (PSDB), que era apoiado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Terminaram eleitos FHC para presidente e Itamar Franco (então PMDB), oposição de Azeredo para o governo do Estado. Em 2002 e 2006, houve voto ‘Lulécio’ em Minas: venceram Lula (PT) para presidente e Aécio (PSDB) para governador. Em 2010, houve ‘Dimasia’, Dilma (PT) para presidente e Anastasia (PSDB) para governador. Ou seja, há uma longa história onde venceram mais forças antagônicas em Minas do que o contrário”, ressalta o cientista político e professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Paulo Roberto Leal.

O especialista acredita, com base nesse histórico, que o posicionamento de Zema – que também foi vencedor na Zona da Mata – deve sim gerar algum impacto, mas não o suficiente para mudar totalmente o cenário. 

“Se a história mineira se repetir, muito provavelmente o impacto disso não será o suficiente para evitar que possa haver, no 2º turno, algo que já aconteceu no primeiro: uma vitória de Lula. [...]O passado ilumina a demonstração de que para muitos eleitores mineiros não há qualquer incompatibilidade de votar no presidente de um campo político e no governador de outro”, afirma Leal.

Preferência
Para explicar a força de Lula na Zona da Mata, Paulo Roberto Leal cita o histórico de Juiz de Fora em eleições passadas. A cidade mais populosa da região é constantemente lembrada pelo candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, por ter sido o local em que ele foi vítima de um atentado, durante a campanha de 2018.

Bolsonaro foi esfaqueado por Adélio Bispo, que segue preso. O então candidato se recuperou e terminou eleito. Devido a esse episódio, o presidente já disse algumas vezes que a cidade e o Estado foram os lugares onde ele renasceu.

Na campanha do 1º turno das eleições atuais, Jair Bolsonaro chegou a realizar um comício no município. Apesar disso, Lula também o venceu em Juiz de Fora. Foram 167 mil votos contra 121 mil.

Pesquisa Ipec divulgada nesta segunda-feira (10) para o segundo turno mostra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 55% das intenções de votos válidos contra 45% de Jair Bolsonaro (PL)

“Juiz de Fora, que é uma cidade muito maior que as demais da região e, portanto, é um polo regional muito relevante para um grande arco de municípios do entorno, tem uma longa trajetória de voto que deu vitória ao PT em eleições presidenciais. Isso aconteceu, por exemplo, em disputas em que o Lula não venceu nacionalmente. Em 1998, perdeu para Fernando Henrique, mas venceu em Juiz de Fora, que também deu vitórias ao PT nas eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014”, explica o professor.

Para ele, isso acaba influenciando na característica de votos dos outros municípios. “Certamente, acaba por contaminar o resultado geral da região no ponto de vista quantitativo e produzir, também, um certa influência neste entorno”, completa.

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