Cerca de 6 mil pessoas foram às ruas da capital mineira ontem pedir o fim do governo da presidente Dilma Rousseff e a saída do partido dela, o PT, do poder. O ato foi marcado pela presença do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB), que escolheu a Praça da Liberdade, símbolo do poder em Minas, para protestar. A manifestação contou com participação menor, se comparada às de março, mas teve o mesmo tamanho que a de abril.
Aécio deu entrevista, discursou em cima de um carro de som e depois saiu carregado pela multidão na primeira aparição dele em um ato contra o governo. O tucano é hoje o expoente da oposição no Brasil.
Em BH, foi saudado com gritos de “presidente da República”.
“Chega de mentira, chega de tanta corrupção, de tanto desprezo aos brasileiros. Meu partido é o Brasil”, declarou, depois de ouvir o hino nacional. Minutos antes, em rápida entrevista, o senador pediu isenção dos tribunais nos julgamentos da presidente. Dilma é alvo de processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Tribunal de Contas da União (TCU).
“Estou aqui para fazer um brado das instituições. Não podemos permitir que os nossos tribunais sejam, de alguma forma, constrangidos pelo governo federal. Façam o que tem que fazer, julguem com isenção”, defendeu.
Ainda em entrevista, ele disse que participou do protesto como parte da sociedade indignada e negou busca pelo protagonismo.
“Venho aqui como cidadão indignado com a corrupção, com a mentira, com a incompetência desse governo que vem fazendo tão mal aos brasileiros”, atacou.
Aécio ressaltou ainda que não importa o tamanho da manifestação porque a indignação de hoje dos brasileiros é enorme.
Papuda
Uma das manifestações mais bem-humoradas partiu do chamado “Bloco da Papuda”. O bloco contou com as alas Erga Omnes e Acrônimo.
A primeira ala é uma referência à fase da “Lava Jato” que prendeu os maiores empreiteiros do país.
A outra é sinônimo da ação da Polícia Federal (PF) que investiga o governador Fernando Pimentel.
Fantasiados com “coletes” de investigadores da PF, os manifestantes saíram às ruas com bonecos do juiz federal Sérgio Moro e imagens da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula, do governador Pimentel e da mulher dele, Carolina Pimentel.
O grupo levou ainda dois aviões de isopor em referência a aeronave do empresário Benedito de Oliveira, o Bené, ligado ao governador mineiro.
Público
A expectativa dos organizadores do movimento era a de até 50 mil pessoas compareceriam à Praça da Liberdade. No primeiro protesto, em 15 de março, 24 mil pessoas participaram. No segundo, em abril, o número foi o mesmo que o de ontem.
Mais de 10 cidades mineiras também gritaram “Fora Dilma” no domingo.
Grupos avaliam que manifestantes estavam mais conscientes
Mesmo recebendo um número inferior ao esperado na Praça da Liberdade, os principais grupos pela mobilização em Belo Horizonte comemoraram o ato. Na avaliação de alguns líderes, dessa vez os manifestantes da capital mineira estavam mais conscientes sobre as reivindicações.
“Na primeira mobilização (15 de março), as pessoas foram por impulso. Agora não. Quem veio, veio sabendo exatamente o que quer. Mesmo menor, o ato foi mais consciente”, analisou uma das líderes do movimento “Vem Pra Rua” na capital mineira, a médica Katia Pegos.
Os grupos, que reuniram cinco trios elétricos – a maior estrutura dos três atos –, tinham em comum apenas a crítica ao PT e à presidente Dilma Rousseff.
O “InterV Brasil”, por exemplo, defende a intervenção militar e não poupa críticas a todos os partidos. “Os três poderes estão contaminados”, avalia o líder André Basílio.
Fiscalização permite venda de bandeira, mas proíbe de água
Fiscais da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e alguns vendedores ambulantes entraram em confronto durante o protesto na Praça da Liberdade.
O comércio informal nas ruas da cidade é proibido. A venda de material pelos integrantes da manifestação, como bandeiras do Brasil, no entanto, não foi contestado pelas autoridades.
Os fiscais concentraram-se na autuação dos ambulantes que vendiam bebidas. Segundo o ambulante Wanderlei Rodrigues, um agente da PBH o agrediu com um rádio comunicador.
Um dos responsáveis pela comercialização de produtos sobre as manifestações, Maurício Vidal, garantiu que não se tratava de “uma venda direta. Estamos arrecadando dinheiro para quitar o que foi gasto”. De camisa amarela, o secretário da regional Centro-Sul de BH, Marcelo de Souza Silva, concordou. “O que acontece é uma doação espontânea em troca de um brinde”, disse.
Questionado sobre a possibilidade de tratamento diferenciado entre os manifestantes que comercializavam itens promocionais e os vendedores de água, o secretário foi enfático. “A doação é uma coisa pontual, espontânea. Os ambulantes nós combatemos diariamente. São as mesmas pessoas sempre”, comenta.
Ao fim do movimento, um grupo superior a dez ambulantes exibia ar desolado – consenso entre eles de que as vendas foram decepcionantes. “Na primeira manifestação, vendi mais de 200 unidades entre água, cerveja e refrigerante. Na segunda, cerca de cem. Nesta, não cheguei nem a 50. Foi um fracasso”, afirmou Altamiro Gonçalves.
(*) Com Tatiana Moraes
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