‘Nanicos’ podem fazer a diferença nas urnas em 2014

Patrícia Scofield - Hoje em Dia
02/06/2014 às 07:47.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:50
 (Hoje em Dia)

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Rotulados como partidos “nanicos”, PSOL, PSTU, PSC, PEN e PRTB podem levar a disputa eleitoral deste ano para um eventual segundo turno e reverter o “apelido depreciativo”, como criticam seus dirigentes. Com intenções de voto entre zero e 3%, algumas dessas legendas atingiriam até 4,5 milhões de eleitores, no caso das eleições à Presidência da República.

Este número já tem despertado o interesse das legendas maiores, que ainda não atingiram um patamar confortável da preferência do eleitorado – acima dos 40%. Elas estão de olho no desempenho dos pequenos, que pode até mesmo ser um diferencial para se garantir um segundo turno.
“Chamar de nanico é pejorativo. Na verdade, a atuação deles é a pura defesa da democracia. Partidos que têm menor apoio ou expressão popular nunca tiveram tanta importância quanto estão tendo agora. Eles são elemento de troca de outras legendas, com seus 3% ou 4%, e levariam a eleição a um segundo turno por conta disso”, afirma o cientista político e professor da PUC Minas, Gilberto Barros.
Lista
Na corrida pelo Palácio do Planalto, além de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e de Eduardo Jorge (PV), são considerados nas pesquisas Datafolha, Sensus, Ibope e Vox Populi, os nomes do Pastor Everaldo (PSC) – que conta com o apoio dos deputados federais Marco Feliciano e Anthony Garotinho –, do senador Randolfe Rodrigues (PSOL); do membro da Executiva Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), José Maria Almeida (PSTU); do presidente do PRTB, Levy Fidélix; do professor universitário Mauro Iasi (PSC); do deputado federal por São Paulo, José Maria Eymael (PSDC) e da ex-diretora da Agência Nacional da Aviação (Anac), Denise Abreu (PEN). Todos os nomes só serão homologados após as convenções partidárias de junho.
Maduros
As condições desiguais de visibilidade e aporte financeiro não abatem, por exemplo, os veteranos José Maria Almeida, José Maria Eymael e Levy Fidélix, atuais pré-candidatos à Presidência da República, que já se lançaram ao Palácio do Planalto pelo menos uma vez, desde 1998.
Para Gilberto Barros, são as “pequenas pré-candidaturas” que trazem novidade para o debate político, por não temerem tocar em assuntos polêmicos, muitas vezes evitados pelas grandes siglas. “Eles têm menos a perder e têm direito a dizer o que os demais partidos não dizem. Faço até um elogio a eles, que prezam mais pelo caráter ideológico que pelas coligações espúrias. Com estratégias inteligentes, eles acabam se tornando conhecidos”, avalia o especialista.
Legendas oferecem propostas mais radicais
Com a resposta negativa da ex-senadora Marina Silva ao convite para ingressar no PEN ela optou pelo PSB depois de ter o pedido de registro do seu Rede Sustentabilidade indeferido a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, aceitou se filiar à legenda e foi incentivada pelo presidente, Adilson Barroso, a encarar a o desafio de encabeçar candidatura própria do partido à Presidência.
Denise deixou a agência em meio à polêmica que se seguiu ao acidente com o Airbus da TAM, que derrapou na pista do aeroporto de Congonhas (SP).
Com cerca de 1% de votos válidos, em média, ela se define como um nome conservador e defende um governo misto de militares e civis, a readequação dos materiais didáticos escolares para ressaltar os feitos da direita no Brasil e investimentos em transporte ferroviário e hidroviário. Para ela, os governos do PT apresentam apenas a ideologia de esquerda nas escolas, o que “retira a dignidade da juventude”.
Outras propostas são a criação da Secretaria Nacional da Polícia Federal, na tentativa de dar maior autonomia financeira e administrativa à instituição e a parceria na área da saúde entre o SUS e as Santas Casas de Misericórdia, nos moldes do “êxito do governo Mário Covas”, em São Paulo. “Não conto com uma possibilidade de 2º turno e contamos com o apoio da militância e das redes sociais para resgatar os valores pessoais ligados à família, ao ‘Estado mínimo’ e ao fim do assistencialismo”.
Tarifa
Pelo PSOL, o senador Randolfe Rodrigues pretende apresentar alternativas na área de mobilidade urbana, como a tarifa zero nos ônibus municipais, e a redução do déficit habitacional nas grandes capitais do país. “Os dez anos do governo do PT foram insuficientes para resolver essas demandas e as gestões do PSDB aprofundaram os problemas, em vez de sanar”, afirmou, durante passagem por Belo Horizonte, no início do mês.
Em entrevista coletiva antes de evento do partido na capital mineira, ele reclamou da falta de espaço para a “aliança de esquerda”, em referência ao PSOL, PSTU e PCB na mídia. Para ele, será nos debates com a sociedade civil e na televisão que as propostas das pequenas candidaturas ganharão força. “Temos sido vítimas de um bloqueio enorme, mas só nós poderemos apresentar algo diferente do que está aí sendo tratado por Dilma Rousseff (PT), Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB)”, afirmou.
Em Minas, há a possibilidade de o pré-candidato Fidélis Alcântara encabeçar a chapa da Frente de Esquerda, tendo o PSOL e o PCB nas vagas de vice e ao Senado. Os pré-candidatos do PRTB e do PSTU nacionais foram procurados pela reportagem, mas não puderam conceder entrevistas até o fechamento desta edição.
Uma pré-candidatura de 4,5 milhões de votos
Nome mais forte entre as pequenas candidaturas, aparecendo nas pesquisas com até 3% das intenções de voto, Pastor Everaldo, da Igreja Assembleia de Deus e vice-presidente nacional do PSC, avalia seu desempenho como um “crescimento natural” com o apoio dos deputados Marco Feliciano (PSC-SP) e Anthony Garotinho (PR-RJ).
O percentual alcançado por ele de 2,3% na pesquisa Sensus a 3% no Datafolha equivale a algo entre 4 e 4,5 milhões de votos, considerando o eleitorado de 2012 divulgado pelo TSE. Isso pode ser um diferencial para definir a ocorrência de segundo turno na eleição presidencial. A o Hoje em Dia, ele conta que não se compara a outras legendas e não se considera radical. Entre as propostas, Pastor Everaldo se dedica à defesa do “Estado mínimo”, do municipalismo e das pretensões de enxugar a máquina do governo federal para 20 Ministérios. “Hoje, o Estado é inchado, aparelhado e não atende às demandas da população. Quero passar (as empresas públicas) para a iniciativa privada porque sem estatal não vai ter como fazer negociata. É a melhor maneira de combater a corrupção”, afirma o pastor.
Federação
“O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) de 2013 foi igual ao de 2008 e a União só investe 3,8% na educação, enquanto os municípios, que ficam com apenas 13% do bolo, têm que investir 25%”, critica. Questionado a respeito dos princípios tradicionais do PSC de “defesa da família”, ele nega a intenção de explorar o tema em seu programa partidário. “Eu não vou propor nada da família no meu programa. Isso já é do partido”, comenta.
Partidos de esquerda negociam aliança em MG
Em Minas, a diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Municipal de BH (SindREDE-BH), Vanessa Portugal (PSTU), chegou a ser colocada como pré-candidata do partido ao governo, repetindo a rotina de disputar o Executivo estadual ou municipal, para garantir algum espaço para as propostas do partido. Ela aguarda, porém, as negociações com o PSOL e o PCB para lançar a Frente pela Esquerda, que deverá ser anunciada nos próximos dias.
“O objetivo do PSTU é apresentar uma proposta programática diferente para o governo estadual, e insistimos nisso porque acreditamos. Nós não usamos as lutas sociais para as eleições, é o contrário”, diz Vanessa Portugal.
Debate
  Para o cientista político Gilberto Barros, são as ‘pequenas pré-candidaturas’ que trazem novidade para o debate político, por não temerem tocar em assuntos polêmicos, muitas das vezes evitados pelas grandes siglas. “Eles têm menos a perder e podem dizer o que os demais partidos não dizem. Faço até um elogio a eles, que prezam mais pelo caráter ideológico que pelas coligações espúrias”, acrescenta o cientista político da PUC Minas.
Ele reconhece, no entanto, que não é fácil ultrapassar os 4% de preferência do eleitor, mesmo já sendo “figurinha carimbada” no meio político da capital mineira. “Como as pré-candidaturas da esquerda não são apresentadas, já que foram determinados a priori os nomes viáveis na disputa, percebemos até uma desconfiança da população, que não sabe se estamos na briga pelo voto ou não. Isso destroi o processo democrático e reforça a polarização, que aliás não tem diferenças em seus programas”, diz Vanessa Portugal.
Além de Vanessa e os ex-ministros Fernando Pimentel (PT), Pimenta da Veiga (PSDB), temos no Estado os postulantes Apolo Heringer (PSB), deputado federal Júlio Delgado (PSB), o presidente da Juventude socialista, Igor Versiani, e Fidélis Alcântara (PSOL), do Comitê de Atingidos pela Copa em Belo Horizonte.

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