Política não se faz apenas em cena aberta, nas discussões de plenário, nas propagandas dos horários eleitorais. Grande parte das decisões é tomada nos bastidores, e tem a influência de pessoas que, assim como no teatro, não são vistas, atuam na retaguarda para que o espetáculo aconteça. A política é uma construção conjunta, um trabalho de equipe. E são os articuladores, os conselheiros, que cumprem um papel fundamental no jogo político.
“A política é um terreno sujeito a muitas pressões. Para além da caricatura que costumamos fazer dos políticos, eles precisam ter qualidades que são quase contraditórias, apresentar e defender uma ideia, que sempre está ligada ao interesse de grupos, e ao mesmo tempo agregar o máximo de apoio, ter a maioria. E a própria capacidade de quem faz os discursos, de quem se apresenta na arena pública, depende destes articuladores, que constroem o consenso e operam em larga medida no plano informal”, analisa o cientista político Bruno Wanderley Reis.
No PSDB mineiro, por exemplo, alguns nomes atuam hoje com papéis bem definidos. Dentre eles, destaca-se uma mulher, a jornalista Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves. Embora herdeira de um capital político considerável – os irmãos são netos do ex-presidente Tancredo Neves – ela nunca ocupou cargo eletivo, mas tem espaço garantido nas decisões do partido. Andrea é tida por aliados e por adversários como uma das personalidades mais influentes da política mineira hoje.
Sempre atuante, principalmente nas áreas da comunicação e coordenação em campanhas e governos do PSDB em Minas, ela tem papel fundamental na construção da imagem política de Aécio Neves. Ex-presidente do Serviço Voluntário de Assistência Social de Minas Gerais (Servas), quando Aécio se elegeu governador, Andrea também tem espaço na articulação do PSDB com as bases e o empresariado. Este ano, mais uma vez, a neta de Tancredo se manterá como o nome forte nos bastidores da campanha do irmão à presidência da República.
No caso dos tucanos, outros nomes têm atuação decisiva nos bastidores: o secretário de governo Danilo de Castro e os deputados Marcus Pestana e Alexandre Silveira. Eles são avaliados pelos aliados como habilidosos nas negociações com os partidos, especialmente os pequenos e médios. Esse trabalho já teria resultado na agregação de pelo menos 17 legendas numa aliança em torno do pré-candidato ao governo de Minas, Pimenta da Veiga.
Bastidores petistas
O PT mineiro não aponta um nome de bastidor que concentre tanto poder como Andrea Neves, mas conta com um time de discurso afiado à frente nas negociações políticas em torno da candidatura do ex-ministro Fernando Pimentel ao governo do Estado. O principal articulador é o presidente da legenda em Minas, Odair Cunha, formado em Direito e eleito deputado federal em 2002, 2006 e 2010. Desde 2013 é vice-líder do governo federal no Congresso Nacional. Também na equipe de Pimentel está seu fiel escudeiro, deputado Miguel Corrêa Jr., vice-presidente do PT mineiro e no segundo mandato como deputado, depois de ter sido eleito em 2004 o vereador mais jovem da capital. Outro que trabalha nas articulações petistas dos bastidores eleitorais é o deputado Reginaldo Lopes, que cumpre seu terceiro mandato como deputado federal. Juntos, eles costuram as alianças do PT para a disputa de Pimentel ao governo.
No centro da política: decisões do PSDB passam por Aécio
Apesar de contar com figuras importantes na retaguarda, todas as decisões do PSDB em Minas passam pelo crivo do senador Aécio Neves, que é presidente nacional da legenda. O senador começou na política tendo como mentor o avô, Tancredo Neves, presidente da República eleito pelo Colégio Eleitoral em 1985, mas que não chegou a tomar posse e morreu em 21 de abril daquele ano.
Aécio, que também é filho de político – o ex-deputado Aécio Ferreira da Cunha – começou como homem dos bastidores. Seu primeiro cargo foi de secretário pessoal do avô.
No ano seguinte à morte de Tancredo, ele se elegeu deputado federal constituinte. Hoje, no centro da cena política, foi Aécio quem deu a palavra final para que o ex-ministro Pimenta da Veiga fosse indicado pré-candidato ao Governo de Minas.
Pimenta, aliás, desde 2003, quando deixou o cargo de ministro das Comunicações, atuava apenas na retaguarda. “Fiquei anos dedicado à advocacia, mas acompanhava a vida política do país e opinava sempre que era chamado a participar de alguma reunião partidária”, conta o pré-candidato.
Segundo ele, a escolha do seu nome para a disputa no Estado não passou pelas mãos de Fernando Henrique Cardoso, de quem foi coordenador de campanha em 1995. “Apesar de sermos muito amigos. Estou até devendo uma conversa a ele pra fazermos uma avaliação de tudo”, diz.
Mas o ex-presidente é um conselheiro importante dentro do PSDB. “Ele sempre influencia as decisões da legenda de dois modos, seja quando se pronuncia publicamente, nas palestras, artigos ou entrevistas, ou ainda nas reuniões do partido, o que é algo mais raro”, comenta Pimenta.
Agora, FHC terá presença mais marcante na campanha de Aécio Neves, voltando aos holofotes e participando dos programas de TV do partido.
Ex-presidente Lula ainda é a maior referência do PT
O ex-presidente é o nome mais influente do PT no Brasil e suas opiniões são sempre ouvidas (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
No PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a grande referencia, que mesmo não ocupando cargo no governo, é constantemente ouvido como conselheiro ilustre do Palácio do Planalto. O peso da sua popularidade faz com que suas posições sejam constantemente balizadoras de decisões no governo federal e no partido.ula é padrinho político da presidente Dilma Rousseff, a quem indicou e trabalhou para sucedê-lo.
“Lula é uma referencia nacional, tem grande capacidade de articulação com diferentes setores da sociedade, ao mesmo tempo que conversa com o agronegócio, dialoga com o Movimento dos Sem Terra, por exemplo. Não é uma liderança imposta, mas construída ao longo de muitos anos”, diz o ex-ministro Patrus Ananias (PT), um dos nomes mais reverenciados do partido em Minas.
Em 1992, foi eleito prefeito de Belo Horizonte, eleição em que Aécio Neves ficou em terceiro lugar. Sua administração foi apontada pela Organização das Nações Unidas como modelo de gestão pública. Segundo o veterano petista, que deve voltar como candidato a uma vaga no Congresso Nacional, a intuição política e o carisma de Lula o transformaram no grande mentor do partido.
Contudo, a vontade de Lula não prevaleceu na definição do pré-candidato do PT ao governo de Minas. Nos bastidores, comenta-se que Fernando Pimentel não era a opção do ex-presidente. Pimentel contou com o apoio da maioria do PT mineiro e da presidente Dilma Roussef, de quem é amigo pessoal, desde quando atuaram juntos na resistência ao governo militar.
Intelectuais
Outros nomes citados por petistas como referencias, cujas opiniões pesariam nas decisões de bastidores, são os do cientista político Juarez Guimarães e do sociólogo Otávio Soares Dulci. Guimarães é professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos intelectuais petistas que participaram da construção do programa de governo do presidente Lula.
Dulci é professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas, estudioso da questão do desenvolvimento regional desde os anos 80. Ele é irmão de Luiz Dulci, um dos fundadores do PT.
Ex-ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República no governo Lula, Luiz Dulci também é apontado como um importante interlocutor do partido, mesmo atuando na coxia. Atualmente, é diretor do Instituto Lula.