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Belo Horizonte ganhará uma nova alça do metrô na região Central e um pacote de obras de mobilidade. Todas financiadas pelo governo federal. O anúncio deverá ser feito em dezembro, em conjunto com a prefeitura e o governo estadual. As informações, dadas em primeira mão, são do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT), braço direito da presidente Dilma Rousseff (PT). O ex-prefeito de Belo Horizonte contou, com exclusividade ao Hoje em Dia, que acompanha todas as demandas mineiras. Fernando Pimentel garantiu também que deixará o ministério em 2014 para ficar “à disposição do partido”. O petista deverá ser um dos protagonistas do processo pela sucessão ao governo de Minas Gerais.
Quanto tempo o senhor ainda tem à frente do Ministério?
Não sei. A presidente ainda não resolveu como ela vai lidar com os ministros que são pré-candidatos. Há uma possibilidade de sairmos em janeiro ou ficar até o prazo legal que seria em abril.
Então, o senhor será candidato?
Ser ou não ser candidato depende do partido. Vamos ver como vai ser com a base aliada. Mas, para que possa vir a ser, tenho que estar disponível. O prazo é dia 5 de abril sob pena de ficar incompatibilizado. De qualquer maneira, tenho que sair até o dia 5 de abril. Com certeza sairei. Agora, candidatura só ano que vem.
O que o partido do senhor pensa em projetos para Minas Gerais?
O PT tem a aspiração legítima de ter uma candidatura própria. Não tivemos na eleição passada, para apoiarmos o PMDB. Não fazemos reparo nisso. Agora estamos em uma situação diferente. Hoje, o desejo unânime do partido é termos candidato. Meu nome surge naturalmente porque fui prefeito, sou conhecido, sou ministro, candidato a senador, tenho experiência rica no interior do Estado. A base aliada também está convencida de que é necessário apresentar a Minas Gerais uma alternativa política ao poder atual.
Então, nisso, somos unânimes: vamos apresentar alternativas. Pode ser uma. Podem ser duas. Se forem duas, no segundo turno é uma só. Outro ponto: o que vemos nas ruas é que há um desejo em Minas de experimentar um outro modelo. Fazer uma mudança responsável, sem correr riscos. Optar por um modelo que seja mais parecido, mais identificado com o modelo nacional, construído pelo presidente Lula e pela presidente Dilma. Programa de governo, vamos cuidar dele a seu tempo.
O senhor manteve bom relacionamento com o senador Aécio Neves (PSDB). Ele chegou até a dizer, quando o senhor foi prefeito, que seria um bom nome para o Governo de Minas. Agora, qual a relação o senhor mantém com ele?
Tenho uma boa relação com o senador. O tenho visto pouco. Mas conversamos, sempre que nos encontramos, com muita fraternidade. É um personagem político importante em Minas Gerais. Merecedor do nosso respeito. Agora, estamos em campos diferentes. Somos adversários, mas adversários cordiais. A disputa em Minas, da minha parte e tenho certeza que da parte do senador também, nunca vai desrespeitar as tradições mineiras, de cordialidade e elegância.
Como resolver o problema da indústria mineira, que vive um momento delicado em função de sua própria natureza?
Minas Gerais tem um problema histórico que terá que ser enfrentado. É um Estado que tem uma industrialização inconclusa. Nós não terminamos o ciclo da industrialização. Isso é ruim por um lado, mas pode ser bom por outro. Pode nos abrir uma janela grande de oportunidade.
Existe alguma ação que o governador pode fazer para acelerar este processo?
Acho que sim. O governo estadual tem um papel a cumprir nisso. Mas prefiro não fazer críticas levianas e antecipadas.
E como economista e homem público...
Falando como economista, claro que tem um papel. Mas prefiro reservar isso mais adiante, porque o papel do governo de Estado passa por muitas questões, passa pela questão tributária. Todos os Estados terão que rever sua legislação de ICMS. Não compete exclusivamente ao governo federal. Neste ano, estivemos próximo de conseguir um acordo. Dois estados ofereceram alguma resistência. Estamos tentando retomar este tema para 2014. É difícil porque é um ano eleitoral. Os estados têm que se mobilizar nesta direção: acabar com a guerra fiscal, unificar as alíquotas interestaduais.
Feito o dever de casa no ICMS, abre-se para Minas Gerais e outros estados um outro universo, onde a disputa vai se dar não em cima de vantagens tributárias e fiscais. Mas em cima das potencialidades reais.
O desempenho do superávit do país, até o momento, é fraco. O senhor acredita que alcançaremos a meta de economizar R$ 73 bilhões em 2013?
Não é minha área, mas espero que sim. Acho que vamos chegar, se não à meta completa, bem perto dela. Diria que nesta questão da política econômica, talvez o debate não tenha sido feito da maneira mais correta. Temos um compromisso fiscal. O governo da presidente Dilma, assim como o governo do presidente Lula, nunca abriu mão deste compromisso. Vamos manter as metas e o país equilibrado, com bom desempenho.
Mas, nosso primeiro compromisso é com o emprego e com a renda dos brasileiros. Aqueles que acreditam, em algum momento, que vamos embarcar no caminho da recessão - isso já foi proposto por economistas ligados a partidos de oposição - e desemprego, para resolvermos problemas macroeconômicos, estão fazendo a proposta errada.
Somos aqueles que têm compromisso com o emprego e com a renda do brasileiro. Sempre mantendo o equilíbrio fiscal, perseguindo o objetivo de manter a dívida pública equilibrada ou em trajetória descendente. Mas nosso compromisso é com o emprego e a renda. Então, não nos proponham medidas recessivas, como as praticadas na Europa. Não vamos seguir este receituário porque não foi para isso que fomos eleitos. O povo brasileiro, se quisesse a receita da recessão, tinha votado em candidatos de outros partidos. Não nos nossos.
A oposição tem criticado a questão da inflação e de uma possível capitalização da Petrobras para o ano que vem, a exemplo do que foi feito em 2010. Como o senhor vê isso?
A Petrobras está fazendo um ajuste importante em sua estrutura, extremamente necessário e positivo. Este foi um ano difícil, o ano que vem será melhor. Daí para frente, será cada vez melhor, com a exploração do pré-sal. Não sei se vai exigir uma capitalização adicional, talvez não. Aí seria, da minha parte, indevido falar sobre isso, porque não sou do Conselho da Petrobras. Sei que a presidente Graça Foster fez um trabalho muito importante. Isso gerou até um certo ruído em minha área. Neste ano, estamos tendo uma balança comercial muito ruim, difícil. Estamos ainda com déficit acumulado de R$ 1,5 bilhão, talvez, até agora. Vamos reverter e teremos um saldo positivo suficiente.
Por quê?
Nosso grande problema na balança comercial foi a conta petróleo. Paramos de exportar petróleo bruto. Não temos capacidade de refino. Está sendo corrigido agora, mas ainda leva um tempo para operar. Este ano, a Petrobras, por razões de segurança, teve que parar de operar várias plataformas para manutenção técnica. As plataformas voltaram à produção em outubro. Com isso, equilibra de novo a balança. O desequilíbrio da conta petróleo chegou a quase US$ 11 bilhões no meio do ano.
E a inflação?
Acho que a política fiscal brasileira é responsável. As pessoas falam: “mas a inflação subiu”. A inflação no Brasil sobe sazonalmente. É assim mesmo. Há muitos anos a inflação está mantida, dentro da meta. Tem que se lembrar que desde 2009 estamos vivendo uma crise econômica de vastas proporções. Aliás, devastadora para alguns países. Não é o caso do Brasil. Estamos resistindo a esta crise sem estourar a meta de inflação, sem abandonar as metas fiscais e, o mais importante, com pleno emprego e crescimento da renda. Querer mais que isso é exigir demais de qualquer política econômica. Pergunte aos trabalhadores brasileiros se eles estão satisfeitos. Agora, banqueiro é outra história.
Como prefeito de Belo Horizonte, o senhor acompanhou de perto a situação do metrô. Quando ele sai do papel?
Conversei com a ministra Miriam Belchior agora. Ela está finalizando o exame da proposta do metrô. Houve muitas idas e vindas, a Prefeitura propôs uma coisa, o Estado propôs outra e, neste momento, o governo federal está conciliando isso. Não se trata só do metrô isoladamente. Estamos fazendo grandes investimentos na mobilidade urbana nas grandes cidades. Temos que compatibilizar metrô com BRTs e outras propostas.
Além do BRT, Belo Horizonte está propondo também - talvez as pessoas não saibam disso, mas vi a discussão porque acompanho todas as demandas relativas a Minas Gerais - corredores de ônibus, o que é diferente de BRT. BRT é via exclusiva, com canaleta que só entra ônibus próprio. O corredor de ônibus é uma faixa que eventualmente um carro pode entrar ou sair. Então, estão propondo corredores de ônibus, BRT’s, metrô e trem suburbano. Tudo isso está sendo proposto pelo Estado e Prefeitura ao mesmo tempo. Então, compatibilizar tudo isso é uma tarefa complicada. Acredito que no mês de dezembro isso vai ser anunciado pelos governo federal, estadual e municipal. Uma parte do projeto está em andamento, as obras do BRT que estão sendo financiadas; outra parte já está contratada - R$ 2 bilhões para o metrô, para a linha Calafate/Barreiro e esta do Centro, que já está concedido o dinheiro e a Prefeitura está fazendo o projeto. Esta linha irá da Lagoinha até a Savassi. Agora, virá um complemento para isso, que não quero antecipar, até para deixar que as autoridades competentes falem sobre isso. Mas vi, em primeira mão, e fiquei muito impressionado.
Qual será? Da Pampulha?
Não é da Pampulha, mas é uma perna do metrô que vai atender uma região importante. É na área Central. Isso tudo está sendo estudado. Esta proposta do trem suburbano é interessante, mas o governo federal vai pedir um estudo de demanda, de tráfego, que acho necessário. A questão toda é que tem muita coisa em Belo Horizonte que é paralela. Então, se colocarmos o metrô embaixo e o BRT em cima, um vai competir com outro.
Como seria o trem suburbano?
É um trem que já existe. A linha está aí. Ela vai a Rio Acima, Nova Lima. Só que ela está sendo usada hoje só como linha de carga. Tem uma proposta para usar como linha integrada. Linha de carga e de passageiros.