Aumento dos evangélicos

'País terá congresso mais conservador', diz o cientista político Adriano Cerqueira

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
28/09/2022 às 08:26.
Atualizado em 28/09/2022 às 08:51

O Congresso Nacional eleito no próximo domingo (2) será o mais conservador desde a redemocratização no Brasil. Essa é a avaliação do cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec e da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Na avaliação de Cerqueira, as pautas conservadoras crescem junto com a representatividade evangélica no país e isso deve se refletir na formação do parlamento nacional.

Cerqueira foi o entrevistado desta terça-feira (27) pelo jornalista Carlos Lindenberg no programa “Gestores de Hoje em Dia – Eleições 2022”. Com a análise do cientista político, o programa fecha a série de entrevistas que aconteceram nos últimos dois meses com candidatos ao governo do Estado e ao Senado.

Cerqueira ressalta que esse crescimento do conservadorismo está ligado ao aumento da população evangélica, que correspondia a 9% no início dos anos 2000 e hoje já ultrapassa a casa dos 35%, e deve se tornar maioria da população nos próximos dez anos. Esse aumento rápido fortalece a representação política desses grupos e as pautas que eles defendem.

“Sempre existiu uma polarização no campo da centro-esquerda, entre PT e PSDB. A partir da emergência das redes sociais, foi crescendo a participação de candidatos evangélicos e dos eleitores, que hoje representam cerca de um terço do eleitorado. A polarização mudou e veio para ficar”, afirma.

Na opinião de Adriano Cerqueira, na disputa presidencial, o presidente Jair Bolsonaro (PL) é quem melhor incorpora essas pautas conservadoras e representa esse grupo. Porém, na opinião do cientista político, seja quem for o eleito terá trabalho para organizar a base de apoio no Congresso Nacional. 

“Não é possível governar sem os parlamentares. A Constituição brasileira tem um espírito de sistema parlamentarista de governo e aqui no Brasil, por mais que o presidente seja o chefe de Estado e de Governo, ele depende da maioria do Congresso para aprovar as medidas”, destaca.

Na opinião do cientista político, Bolsonaro aprendeu a lidar com os parlamentares para não perder o mandato e Lula conhece bem a forma de funcionamento do Congresso. Por isso, ambos devem conseguir formar base. Mas terão que compor com o chamado “centrão”, que hoje manda na Câmara dos Deputados e no Senado.

O cientista político traçou um panorama do que se pode esperar para o futuro e para a democracia no país após esse período eleitoral. Todas as entrevistas com candidatos ao governo e ao Senado por Minas Gerais estão disponíveis nas redes sociais do Hoje em Dia.

Escolha da sociedade

Para o professor, a estrutura de poder no Brasil e a relação entre políticos eleitos e eleitores é uma escolha da sociedade, com suas vantagens e desvantagens.

“O sistema de eleição proporcional no Brasil favorece a representação das minorias no Congresso”, avalia Cerqueira. Permite a pluralidade e a variedade dos eleitos, embora “distancie o eleitor do representante que escolheu”. Por isso, segundo o professor, o sistema exige do eleitor maior atenção na escolha dos candidatos ao Legislativo, pois, no Brasil, eles têm enorme peso nos processos de decisão.

Violência política

Com a tendência de que a decisão para o cargo de presidente fique para o segundo turno, Adriano Cerqueira acredita que os casos de violência por divergências políticas, em meio à polarização eleitoral, podem se intensificar até o fim de outubro. Situações extremas, como os assassinatos por questões políticas no último fim de semana, quando um petista foi morto no Ceará e um bolsonarista em Santa Catarina após discussões eleitorais, foram destaque na fala de Adriano Cerqueira.

“Quanto mais tempo dura a campanha, mais se abre a possibilidade de violência”, diz. O professor ponderou, entretanto, que acredita que os casos não serão generalizados e continuarão esporádicos. “Esperamos que essa violência fique apenas na internet, nas agressões verbais e não caia na violência física”, afirma o professor.

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