"Quero ser prefeito de Belo Horizonte", diz Léo Burguês

Ricardo Rodrigues - Do Hoje em Dia
Publicado em 06/01/2013 às 07:36.Atualizado em 21/11/2021 às 20:19.
 (Frederico Haikal)
(Frederico Haikal)

Vereador mais votado do PSDB, Léo Burguês presidirá a Câmara Municipal de Belo Horizonte até dezembro de 2014, disposto a atender  aos pleitos dos 40 colegas e vencer a queda de braço judicial com o Ministério Público, contrário à verba indenizatória de R$ 15 mil por mês que os vereadores incorporam ao salário de R$ 12.459,92.

Visto como “enfant terrible” por alguns, ele não teme punição por desrespeito ao partido, que bancou outras candidaturas. “Eu evitei que a Câmara fosse presidida pelo PT. Devo receber uma moção por isso”, sorri. Burguês sonha governar a capital. “Sou muito novo. Um soldado do PSDB, às vezes, sargento. Mas ser prefeito de BH será a maior honra da minha vida”.

O senhor derrotou o prefeito e o PSDB?

Houve a quebra de tabus. Aumentei minha votação em outubro. Em mais de vinte anos, o presidente da Câmara não se reelegia para um segundo biênio. É natural que o prefeito quisesse impor seu candidato dentro do acordo PSB-PSDB. Eu pedi duas, três vezes para discutirmos a eleição e ele não marcou a reunião. Me ligou para dizer que eu teria o seu apoio, mas diante de informação equivocada de sua base, que dizia que eu não seria reeleito, Bruno Miranda (PDT) foi o escolhido. A pressão sobre alguns vereadores foi terrível, coisa do tempo da ditadura. Eu mantive firme 21 votos para ganhar em primeiro turno.

O senhor teme punição do PSDB que teve outro candidato?

Não houve reunião e nem documento da Executiva do PSDB para decidir quem era o candidato. Eu salvei o partido. Se não fosse eu, o PT seria o presidente. Não tenho receio de ser punido. Estou esperando uma moção por isso. Tenho total dedicação à Casa e aos vereadores. Pensei muito antes de me candidatar. Como o Pablito e o Henrique Braga não se viabilizaram, quem ia ganhar a eleição seria o PT se eu não fosse candidato. O deputado Luís Tibé tinha oito votos; o PT e o PCdoB outros oito votos. O grupo ligado ao Wellington Magalhães também.

O senador Aécio Neves o apoiou?

O senador Aécio tinha um propósito: que o PSDB ganhasse a eleição para a presidência da Câmara. Ele não entrou na disputa em favor de nenhum candidato. Sou um soldado do partido, às vezes, um sargento.

O que marcará o novo mandato na presidência da Câmara?

Nossa gestão será participativa com os 41 vereadores. Sou aliado de Marcio Lacerda, mas somos independentes. Sou aliado do prefeito, mas não sou  submisso. Vamos implantar a Ouvidoria e avançar nas audiências públicas externas, utilizando o ônibus da Câmara itinerante. A frequência dessas reuniões vai depender da vontade dos vereadores.

O senhor e a Câmara recebem muitas críticas...

As críticas vieram de maneira intensa. Prefiro a imprensa que exagera na matéria do que uma imprensa que não possa fazer críticas. Quem não aceita crítica não pode ser político. A Câmara voltou a ser pauta como o principal poder de Belo Horizonte. Quando a imprensa aponta erros, facilita o trabalho de corrigir. A (lei da) Ficha Limpa é a marca de minha gestão. Nem um faxineiro pode ser ficha-suja e trabalhar na Câmara. Outra conquista foi o voto aberto. O Legislativo de BH é o segundo no ranking do site Transparência Brasil. Fizemos economia de gastos, no primeiro ano, de R$ 47 milhões.

Há um ‘racha’ nas bancadas que apoiam o prefeito?

A eleição do presidente da Câmara foi pautada pela independência do Legislativo. A Câmara sempre foi subserviente ao Executivo. Agora vai manter-se independente, como o cidadão de BH exige de nós legisladores. A independência é essencial para corrigir projetos do Executivo. É raro um projeto de lei que não seja modificado na Casa. Vamos contribuir mais com a cidade se mantivermos essa autonomia.

O prefeito terá de negociar mais com o Legislativo?

Não vou criar nenhuma dificuldade para o prefeito. Sou aliado de Marcio Lacerda, mas somos independentes. Sou aliado do prefeito, mas não sou submisso. A Câmara é a caixa de ressonância de Belo Horizonte. A democracia nos manteve unidos. Conquistei o apoio dos vereadores novatos quando eles começaram a conhecer a nossa gestão na Câmara. Esse grupo avançou e marcou a independência do Legislativo. Isso é muito difícil no país, pois o peso forte do Executivo enfraquece o Legislativo.

Conhece as insatisfações de cada vereador? Quais são?

Vou governar para os 41 vereadores. Quero ouvi-los, saber de suas reivindicações e fazer de tudo para que todos sejam atendidos. Já decidi que pelo menos uma comissão da Câmara será presidida pelo PT e pelo menos uma comissão será presidida pelo PSB. São as duas maiores bancadas na Casa. Vamos defender a verba indenizatória. Os 22 novatos não podem exercer o mandato eletivo sem os R$ 15 mil por mês. Já ganhamos a ação (judicial). É absurdo o Ministério Público entrar com ações individuais contra os vereadores. Por que a determinação do MP não mira o Legislativo de outras cidades?
 
O senhor pretende ser prefeito de BH?

Esta seria a maior honra da minha vida. Sou muito novo. Tenho 16 anos de vida pública e 43 de idade. A (candidatura à) prefeitura pode esperar mais um pouco. Estou feliz com as minhas convicções políticas, tive votação independente de Palácio e de prefeitura, da igreja e de partido. Foi uma realização pessoal e uma conquista. Tive proposta de ir para uma secretaria se desistisse da candidatura. Aceitar um cargo no Executivo e abrir mão da reeleição seria trair o Legislativo.

O que a população pode esperar do senhor?

Não passei e não passarei por cima da Lei Orgânica do Município de Belo Horizonte e nem do Regimento Interno da Câmara. Estou aqui para trabalhar por BH. Não vou passar por cima da minoria (oposição). Um Legislativo forte faz de BH uma cidade forte, que ainda tem 25% dos habitantes em vilas e favelas.

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