Redes sociais vão ocupar papel do programa eleitoral

Patrícia Scofield - Hoje em Dia
Publicado em 12/01/2014 às 08:46.Atualizado em 20/11/2021 às 15:17.
Estudo em fase inicial desenvolvido pelos pesquisadores de mídias digitais Raquel Recuero, da Universidade Católica de Pelotas; Gabriela Zago, da Universidade Federal de Pelotas; e Marco Toledo Bastos, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, vai se debruçar sobre a influência do Twitter e do Facebook na campanha dos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva, que poderá ser a vice do socialista neste pleito, enquanto tenta viabilizar o Rede Sustentabilidade. 
 
O que já se sabe é que as discussões a serem travadas nestas mídias poderão ser mais importantes até que o tempo dos candidatos no rádio e na TV. De acordo com Raquel Recuero, o fato de os postulantes ao cargo de presidente da República Aécio e Campos serem pouco ativos nas redes sociais, e de Dilma usar essas mídias com “um pouco mais de propriedade” não é decisivo na conquista de novos eleitores, já que os “inativos” continuam sendo citados por seus apoiadores em contas extraoficiais.
 
Por outro lado, as falas desses possíveis candidatos nas redes sociais são vistas como “palavras oficias”, apesar de nem sempre os perfis serem mantidos pelos políticos. 
 
“O que posso dizer até agora é que existem estratégias e usos bem diferentes. A presidente Dilma, por exemplo, voltou recentemente a usar o Twitter de forma agressiva, coisa que não fazia desde o final da última eleição presidencial. E tem usado a ferramenta mesmo como um espaço de divulgação de ideias e, é claro, promoção. Já o senador Aécio Neves não usa sua conta oficial, enquanto o governador Eduardo Campos usa de forma esporádica”, afirma a pesquisadora. 

Twitter oficial de Dilma Rousseff
Presidente Dilma vai disputar a reeleição em outubro (Foto: Reprodução)
 
“Entretanto, o fato de alguns não usarem não quer dizer que não tenham seus nomes citados e discutidos por apoiadores, críticos e, mesmo, contas não oficiais. Só não tomaram a dianteira na discussão”, acrescenta Raquel Recuero. A pesquisa deve ser divulgada após o resultado da eleição presidencial. 
 
Mal uso 
 
Para a coordenadora do Centro de Convergência das Novas Mídias, grupo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professora Regina Helena Alves, os pré-candidatos e profissionais que trabalham nas campanhas eleitorais nas redes sociais ainda usam mal o recurso. “O pessoal usa basicamente o que a campanha normatizada, regulamentada pela Justiça Eleitoral, não te deixa fazer. Alguns copiam modelos de fora, como o do presidente dos EUA, Barack Obama, mas a internet potencializa coisas diferentes em cada cultura. Não dá para sair copiando. Debochar de candidato, lançar boatos, criar falsas notícias, é terrível”. 
 
Sem espontaneidade
 
Para a professora Regina Helena, o Brasil tem medo do debate, a não ser que ele seja organizado. “Internet é tudo do que se tem medo na campanha. A Marina Silva na internet, em 2010, foi indo sem esse formatinho, teve uma proposta de debate de ideias. Mas, agora, perdeu a espontaneidade, entrou no jogo, gerou um debate rancoroso e não vai levar a força das redes que a lançaram para Eduardo Campos”. 
 
De acordo com Raquel Recuero, hoje, outros fluxos de comunicação irão circular, com outras falas e discursos que não as campanhas onde o candidato era o único que tinha poder da fala. “Novos discursos podem , inclusive, bater de frente com os de cada candidato. E essas conversas que vão se espalhar terão, talvez, papel até mais forte do que os programas eleitorais no rádio e na TV, porque representam a opinião de outros sobre o candidato e tendem a ter uma influência muito maior”.
 
Comportamento ficará no campo da agressão 
 
De acordo com o professor de Ciência da Computação da UFMG, Wagner Meira, do Observatório das Eleições da universidade, a campanha de 2014 nas redes sociais não deve ter grandes mudanças se comparadas com os últimos pleitos. Apesar de na última disputa presidencial, em 2010, praticamente não ter havido Facebook, em outubro próximo o comportamento nas mídias sociais deve se manter no campo das agressões. 
 
“Com exceção da Marina Silva, nenhum candidato em 2010 conseguiu ampla mobilização na rede, focando-se em uma atuação mais pejorativa. Nessa época, o maior volume de ações de campanha se deu no Twitter”, afirma Meira. 
 
“No Observatório, analisamos também as eleições municipais de 2012, que se diferenciaram muito em termos de redes sociais em relação a 2010. Vimos o uso sistematizado do YouTube e um processo de difamação de segunda ordem. Ou seja, ataque de seguidores com capacidade de formar opinião aos apoiadores dos candidatos”, acrescenta. 
 
Para Wagner Meira, a perspectiva é de que PT, PSB e PSDB mantenham o “trabalho profissionalizado” de difamação dos adversários nas urnas, neste ano. Mas só”. 
 
“O desejável é debater ideias. Talvez o que falta seja a cultura do debate. Vemos muita coisa de revolta nas redes sociais, mas um debate sério não”, pondera Wagner Meira. 
 
Capacidade de voto
 
A professora Regina Helena Alves, também do Observatório das Eleições da UFMG, acredita que as lógicas de “os mais tuitados”, “mais retuitados”, “mais curtidos” ou com mais seguidores no Twitter ou Facebook não devem ser associadas com capacidade de voto. “São lógicas bobas. Não funcionou com Dilma, em 2010, estar nos Trending Topics. Pessoas são pagas para fazer isso. Estão patinando”. 
 
Na última semana, no Facebook do PT nacional, foram publicados ataques ao presidenciável Eduardo Campos (PSB), classificado como “tolo” e “playboy mimado”. O presidente da legenda, Rui Falcão, negou a autoria do texto, mas já se sabe que a vice-presidência do PT autorizou a publicação. Para o PSB, a nota “revela que o PT transformou-se numa seita fundamentalista que ataca qualquer um”. 
 
Manual do TSE sai até dia 5 de março
 
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) liberou, em novembro de 2013, a propaganda eleitoral na rede social Twitter. Por maioria de votos, os ministros reviram a decisão do tribunal que, em 2012, proibiu a manifestação política de candidatos e partidos fora do período permitido pela lei eleitoral, ou seja, três meses antes do 1º turno. 
 
A assessoria de imprensa do TSE informou que, na volta do recesso de janeiro, os ministros vão tratar da propaganda eleitoral e condutas ilícitas. O manual estará pronto até 5 de março deste ano. 
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