Réu não cuidava de empréstimos no Rural, diz defesa

Ricardo Brito
08/08/2012 às 16:54.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:17

O advogado e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos afirmou nesta quarta que, para envolver o seu cliente, o ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado, no processo do mensalão "é preciso revogar a Teoria da Relatividade". Thomaz Bastos afirmou que, no momento dos empréstimos tomados pela agência de publicidade de Marcos Valério e pelo PT, Salgado ocupava uma diretoria internacional no banco e não cuidava de empréstimos.

"As coisas que se apontam para ele (José Roberto Salgado), ele não estava nos cargos que ele deveria ocupar", afirmou o advogado sobre seu cliente no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Salgado é réu por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e evasão de divisas na ação. Segundo o defensor, o ex-diretor do Rural só veio a ocupar a vice-presidência da instituição em abril de 2004, área responsável por cuidar de empréstimos. "É a revogação do conceito de tempo", criticou.

O Ministério Público sustenta que os empréstimos concedidos pelo banco eram de fachada e serviram para abastecer o esquema de compra de votos de parlamentares. O Rural, argumenta a Procuradoria-Geral da República, tinha interesse na liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, um negócio bilionário que precisava do aval do governo federal.

Na sustentação, Thomaz Bastos optou por desqualificar o que ele aponta como única testemunha do MP usada para provar os crimes cometidos por Salgado, Carlos Godinho, um ex-gerente do banco. "É um falsário", acusou o defensor, classificando-o de "ocupante de um cargo de terceiro escalão". Segundo ele, Godinho não manteve as acusações de irregularidades do banco em uma reclamação trabalhista.

"Submetido ao crivo do contraditório, ele não resistiu", afirmou o advogado, lembrando que, na ação trabalhista, Godinho declarou que jamais tinha visto o contrato. Ele disse ainda que o ex-gerente fez uma série de "intrigas, fofocas e entendimentos errados" na época do escândalo, em entrevistas à imprensa que, posteriormente, não se sustentaram.

Thomaz Bastos rechaçou uma informação usada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, quando fez sua sustentação oral na sexta-feira passada: a de que o banco criou uma norma segundo a qual os clientes com mais de dois anos de conta na instituição não poderiam ser considerados suspeitos, independentemente da movimentação. Seria o caso da agência de Valério. O defensor, contudo, disse que a "inusitada sugestão", feita por Godinho, não chegou a ser implementada pelo banco.

O advogado rebateu ainda a acusação de que os empréstimos foram feitos para não serem saldados. "Nada mais longe da verdade é uma construção mental que não tem sentido, não se sustenta", criticou. Segundo ele, o empréstimo do PT foi pago e os tomados pela SMP&B e Graffiti Participações, de Valério, só não foram pagos porque eclodiu esse escândalo que levou as empresas à ruína. Os dois últimos estão em discussão na Justiça de Minas, numa ação de execução.
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