Suplentes dos candidatos ao Senado são os mais ricos das eleições

Estadão Conteúdo
Publicado em 03/08/2014 às 14:51.Atualizado em 18/11/2021 às 03:38.

Um apartamento de R$ 8 milhões no Leblon a poucos metros da praia, quadros de Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Iberê Camargo, R$ 67 milhões na conta do banco e até um time de futebol na primeira divisão estadual. Esses são alguns dos bens que compõem a polpuda lista de patrimônio dos suplentes de senador, os candidatos mais ricos desta eleição. Na média, os primeiros-suplentes declararam ter fortuna de R$ 7,3 milhões - mais de 15 vezes o patrimônio médio de todos os 25 mil candidatos registrados para concorrer neste ano.

Os suplentes compõem a chapa do candidato a senador e exercem o mandato caso o titular seja afastado por motivos de saúde ou peça licença para concorrer a outro cargo público (como o governo de um Estado) ou assuma um ministério, por exemplo.

A explicação de por que razão eles são tão mais ricos que a média está na ponta da língua dos políticos. "O primeiro-suplente normalmente é um cara muito rico porque é quem banca a campanha do senador. Ele tem o voto e o primeiro-suplente costuma ser o cara que tem o dinheiro. É uma regra geral", diz Saulo Queiroz, secretário-geral do PSD, sigla com os dois suplentes mais ricos desta eleição: Ronaldo Cezar Coelho (PSD-RJ) e Joel Malucelli (PSD-PR). Ambos têm patrimônio maior que R$ 200 milhões.

Para testar essa hipótese, o Estadão Dados analisou os números da eleição de 2010. Eles mostram que, quanto mais rico foi o suplente do candidato naquele ano, maior foi a chance de a chapa ser eleita. Na média de todos os suplentes, não houve correlação entre o seu patrimônio e o sucesso eleitoral da candidatura. Mas quando são analisados apenas os suplentes com patrimônio maior que R$ 4 milhões, o índice de sucesso foi de quase 85% - 20 das 24 chapas com suplentes ricos assim foram eleitas.

Isso significa que o patrimônio dos suplentes provavelmente se relaciona com a vitória nas eleições no caso dos megarricos, embora não impacte definitivamente o resultado da eleição para o candidato médio. Uma das possíveis explicações para esse fenômeno estar concentrado na ponta é a de que os possíveis suplentes mais ricos escolham participar de chapas que tenham mais chance de ganhar, ou seja, que tenham um candidato conhecido ou já eleito anteriormente como cabeça.

Seria uma via de mão dupla: o partido quer um suplente rico que ajude a bancar a campanha e o suplente, um candidato com boas chances de ganhar. "A quantidade de recursos próprios que o candidato aporta para a campanha é uma das variáveis que impacta a possibilidade de sucesso eleitoral. Essa relação existe para deputados estaduais e federais", diz Bruno Speck, professor de Ciência Política da USP e estudioso do assunto.

Ele diz que o mecanismo de montagem de uma chapa ao Senado ainda é pouco estudado e que são necessárias mais pesquisas nesse sentido. "Mas me parece razoável crer que há o impacto do patrimônio nas eleições para senadores."

Evidência

Os dados de 2010 parecem apontar nesse sentido. Todos os 24 candidatos a senador que tinham suplentes com fortunas maior que R$ 4 milhões já haviam ocupado cargos eletivos de destaque. César Maia (DEM-RJ), titular do suplente mais rico de 2014 e do segundo mais rico de 2010, já foi prefeito do Rio por 12 anos.

Outros estavam concorrendo à reeleição em 2010, como Delcídio Amaral (PT-MS), Romeu Tuma (PTB-SP) e Demóstenes Torres (DEM-GO), todos com suplentes entre os dez mais ricos daquele ano. E ainda havia os que foram eleitos deputados em 2006 com grande votação - caso de Ciro Nogueira (PP-PI), cujo suplente era o mais rico de 2010.

As doações de suplentes para as campanhas também são relevantes. Dos 24 mais ricos de 2010, 19 deram contribuições a candidatos, comitês ou partidos naquele ano. A maior foi de R$ 960 mil, feita por Raimundo Lira (PMDB-PB) ao titular da chapa, Vital do Rêgo (PMDB-PB), eleito senador. Se vencer a disputa ao governo da Paraíba em outubro, Lira assume a vaga no Senado em definitivo.

Escala

Após os suplentes, o cargo que concentra os candidatos mais ricos é o dos próprios senadores, com média de R$ 4,9 milhões. Já os mais pobres são os que concorrem a deputado estadual (R$ 305 mil), distrital (R$ 318 mil) e federal (R$ 557 mil).


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