Eleições 2022

Zema alega mal-estar e falta ao primeiro debate na TV entre candidatos ao Governo de Minas

Da Redação
portal@hojeemdia.com.br
08/08/2022 às 08:10.
Atualizado em 08/08/2022 às 08:56

O primeiro debate com os candidatos ao governo de Minas foi realizado neste domingo, nos estúdios da TV Bandeirantes, em BH (Junia Garrido / Band Divulgação)

O primeiro debate realizado entre os candidatos ao governo de Minas, realizado no domingo (8), na TV Bandeirantes, em BH, teve uma surpresa de última hora. Os cinco candidatos convidados, cujos partidos têm, pelo menos, cinco representantes no Congresso Nacional, confirmaram presença. Entretanto, o governador Romeu Zema, que concorre à reeleição pelo Novo, anunciou que não iria comparecer, faltando menos de uma hora para o início do programa.

Os assessores dele chegaram a participar do sorteio de definição da ordem dos candidatos para as perguntas. Ele alegou uma indisposição.

Romeu Zema (Novo) não compareceu ao debate e a cadeira entre Alexandre Kalil (PSD) e Carlos Viana (PL) ficou vazia (Junia Garrido/Band Divulgação)

Mediado pela jornalista mineira e apresentadora da emissora em São Paulo Adriana Araújo, o debate contou com a participação de Alexandre Kalil (PSD), Carlos Viana (PL), Marcus Pestana (PSDB) e de Lorene Figueiredo (PSOL). 

A ausência do governador foi um prato cheio para os outros candidatos, que se revezaram diante das câmeras para criticar sua gestão frente ao governo de Minas. Durante todo o programa, uma cadeira vazia lembrava a falta de Zema ao debate.

Regras do debate

O programa foi dividido em cinco partes: no primeiro e no segundo blocos, os participantes fizeram perguntas entre si, primeiro com escolha livre e depois por ordem de sorteio, sempre com direito a réplicas e tréplicas. No terceiro bloco, os candidatos responderam a perguntas formuladas por jornalistas da emissora; no quarto bloco voltaram a responder perguntas entre si, por ordem definida em sorteio e, na última parte, puderam fazer suas considerações finais.

1º bloco

Na primeira parte, Carlos Viana falou sobre a recusa de Zema na difícil negociação salarial da atual gestão com as forças de segurança no Estado. E aproveitou para alfinetar o ex-prefeito de BH sobre o “aquartelamento” da guarda municipal durante a campanha salarial. 

Kalil respondeu que sempre esteve aberto ao diálogo nas discussões de reajuste com a Guarda Civil e com todas as categorias de servidores municipais. E fazendo referência ao projeto que daria 43% de reajuste salarial para as forças de segurança que foi vetado por Zema, Alexandre Kalil disse que “o problema é mentir falando que vai dar 40% de aumento e não dar.”

Ao dirigir sua pergunta a Viana, o candidato do PSD falou da impossibilidade de contratação de servidores da saúde por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal e quis saber como seria possível abrir os sete hospitais regionais que estão inacabados em Minas. O vice-líder do PL no senado respondeu que sua proposta é “chamar” o Ministério da Educação (MEC) para uma gestão tripartite, que permitiria a alocação de recursos.

Lorene Figueiredo, do Psol, e Marcus Pestana, do PSDB, trocaram perguntas na primeira parte do debate (Junia Garrido/Band Divulgação)

Na segunda rodada de perguntas, o tucano Marcus Pestana e a candidata do PSOL, Lorene Figueiredo, abordaram o tema do meio ambiente e mineração.

A professora abriu sua fala dizendo que Minas tem 39 barragens que estão em estado de alto risco de segurança. E destacou que Zema “adora dizer que Serra do Curral não é ilegal” o que, na opinião dela não é verdade. Falou que a mineradora que pretende instalar um complexo na Serra não apresentou todos os documentos necessários para obter o licenciamento. E declarou que o governador não cumpre a Lei Mar de Lama, que criou parâmetros para a atividade de extração mineral no estado.

Pestana aproveitou a deixa ponderando que a mineração é uma atividade importante para o estado. E falou que em sua gestão, a atividade terá um controle rigoroso e que não permitirá a mineração na Serra.

Os dois ainda falaram sobre o legado de fome e miséria, citando como responsáveis Romeu Zema e o presidente Bolsonaro, com 4,5 milhões de famintos em Minas. O tucano disse que é preciso haver um esforço emergencial em torno da fome e da miséria, articulado com a iniciativa privada e a sociedade civil. 

Lorene fechou a rodada de perguntas lembrando o caso do jovem que ligou para a Polícia Militar dizendo que a família precisava de ajuda porque não tinham nada para comer em casa. “O Novo é recordista em produzir miséria”, atacou.

2º bloco

No segundo bloco, a candidata do Psol se dirigiu ao senador Carlos Viana para falar do governo de Bolsonaro na questão das mulheres. E lembrou que o Minas ostenta um triste recorde no país, com o maior número de casos de feminicídio. 

Viana afirmou que os índices de violência no país estão em queda e que o governo federal aprovou várias leis de combate à violência. Ele aproveitou para mandar um recado às forças de segurança, dizendo que é preciso investir em treinamento das polícias, estreitar o relacionamento com o judiciário e fortalecer políticas de prevenção à violência, dando “condições para a polícia trabalhar”.

Em sua resposta ao senador, Lorente lembrou das críticas que Bolsonaro faz às mulheres, dizendo, até mesmo, que teve uma filha porque deu uma “uma fraquejada”. “Minas tem um caso de feminicídio tentado ou consumado em todos os dias de 2022. Nós vamos construir rede de combate à violência contra as mulheres”, respondeu.

O segundo a perguntar foi Kalil, que indagou Marcus Pestana sobre infraestrutura e estradas. Pestana disse que é o único candidato que conhece mais de 500 municípios e falou sobre os projetos do PSDB à frente do estado, com a construção de rodovias. 

Em sua réplica, Kalil disse que há 43 meses o estado não paga nenhuma parcela da dívida e que este é o motivo pelo qual os salários do funcionalismo estão em dia. E acusou Zema de fazer “caridade fiscal” de R$ 450 milhões apenas para um empresário que é seu apoiador. E ainda acusou Zema e Bolsonaro de “inaugurar” uma “pedra filosofal” de uma estrada que nem tinha sido construída.  

Como era vez do vice-líder de Bolsonaro no Senado fazer perguntas, ele aproveitou para responder Alexandre Kalil. Disse que conseguiu a liberação de R$ 2,8 bilhões para as obras da linha 2 do metrô e que o dinheiro está parado no banco porque Zema não foi buscar os recursos.

Na dobradinha para atacar Romeu Zema, Kalil disse que o estado precisa de um governador que cobre. “Ele (Zema) é tão amigo do Bolsonaro, por que ele não foi lá buscar?”, ironizou e disse que a saída era a eleição de Lula para a presidência. 

Rapidamente Viana saiu em defesa do presidente, com quem esteve em visita a Minas nesse fim de semana, falando que nem Lula nem Dilma fizeram nada (quanto ao metrô). Alexandre Kalil finalizou: ”Lembro que o Bolsonaro também não trouxe o metrô.” 

Pelo sorteio, Marcus Pestana quis saber a opinião de Lorene sobre a pandemia. A candidata do Psol ressaltou que as 680 mil mortes pela Covid no país poderiam ter sido evitadas se não fosse a demora na compra de vacinas, a falta de testagem e de rastreio da doença. Falou que em Minas os investimentos na saúde durante a pandemia ficaram abaixo do previsto em lei. E defendeu a recomposição da carreira dos servidores da saúde. Pestana concordou com a postura crítica e afirmou que “faltou diálogo e parceria”.

3º bloco

No terceiro bloco, os candidatos responderam a perguntas dos jornalistas. E Ricardo Bagnete, gerente de jornalismo da Band, no Triângulo, quis saber qual a opinião de Kalil sobre as concessões de rodovias. 

O candidato criticou a pressa na concessão, já que estamos a dois meses da eleições. E disse que Minas não tem nem mesmo ainda uma agência reguladora das concessões, que possa fiscalizar o serviço das empresas, já que o DER (Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais) está sucateado. “Se não em agência, como é que vai colocar R$ 11 bilhões em concessão?”, questionou. “É igual à mineração. Teve a farra da mineração. Nesse estado não tem ninguém que tome conta, é farra em cima de farra”, disse.

Carlos Viana lembrou a concessão da BR 040 (em 1996, na gestão de Fernando Henrique Cardoso), que não foi duplicada pela concessionária e que, mesmo assim,  até hoje cobra pedágio. “Tem que ter projeto, tem que ter planejamento”.

A jornalista Elisângela Colodeti foi a segunda a perguntar e quis saber do senador Viana quais as negociações sobre a adesão dos estados ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), que, em Minas, por decisão da Justiça, não terá mais a participação dos deputados da Assembleia Legislativa.

Alinhado com o discurso frequente de críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), Viana respondeu que no Rio, o RFF não funcionou, que a proposta era que o regime tivesse uma legislação menos dura. E rechaçou a atitude do STF que estaria “excerbando seus poderes”, afirmando que “o Judiciário não pode legislar”.

A professora Lorene retrucou, falando que “o governo federal está pressionando os estados a aceitar o RFF’. E apresentou a proposta do Psol de renegociar e auditar os contratos para entender como foram feitos e como resultaram nas dívidas dos estados.

O comentarista político Orion Teixeira disse que as eleições em Minas têm um caráter plebiscitário. E quis saber de Marcus Pestana se ele acreditava que a ausência do governador no debate refletia uma estratégia de marketing.

O tucano falou de sua experiência de 40 anos em gestão pública e disse que o eleitorado precisa conhecer a história e a trajetória dos candidatos para escolher. “Quais foram os posicionamentos sobre a reforma tributária? E no 7 de setembro de 2021, com as ameaças à democracia?” Ele lamentou a ausência de Zema, no que foi apoiado por Alexandre Kail em seu comentário.

O último jornalista a perguntar neste bloco foi o diretor da Rádio Bandnews, Lucas Catta Preta, que quis saber da candidata do Psol sobre as críticas de Bolsonaro quanto à segurança das urnas eletrônicas nas eleições. Lorene Figueiredo esclareceu que o partido é defensor da democracia e chamou a população para participar de atos públicos nos dias 11 de agosto e 10 de setembro. “O Brasil é um país livre, soberano e democrático”.

Em seu comentário, Marcus Pestana argumentou que a postura do presidente é uma estratégia para desviar a atenção. E que o sistema de urnas eletrônicas elegeu presidentes de esquerda, de centro e de direita. 

4º bloco

Lorene Figueiredo abriu o quarto bloco dirigindo uma pergunta a Carlos Viana, sobre privatização de rodovias. O Senador defendeu o processo destacando os bons resultados obtidos em os setores das telecomunicações. “O resultado mostra o caminho”, declarou. 

O parlamentar exemplificou a privatização da Eletrobras e criticou a Cemig. “No Norte de Minas tem município que não tem frigorífico para abate porque não tem carga de energia elétrica. “A privatização tem de levar em consideração a responsabilidade social do estado”, falou.

Lorene Figueiredo disse que “o povo mineiro é contra a privatização.” E usou como exemplo a Vale, a que acusou de saber dos riscos do rompimento da barragem em Brumadinho e do número de mortos e “achou mais barato pagar”, escolhendo “o lucro acima da vida”.

O Senador do PL dirigiu sua pergunta a Marcus Pestana, sobre os consórcios de saúde em Minas. Um dos idealizadores do modelo, Pestana elogiou o modelo e deu exemplos de outros projetos que ajudou a implantar no estado, como o Farmácia de Minas, que foram desestruturados pelo estado. “Eram políticas de estado, não de governo, para cuidar das pessoas”, pontuou.

Em sua vez de perguntar, o candidato do PSDB voltou a falar sobre o pagamento da dívida pública que não está sendo feito. O ex-gestor municipal de BH alertou que, na gestão de Zema, a dívida pública do estado passou de R$ 28 bilhões para R$ 58 bilhões, grande parte da saúde e da educação. “A calculadora não mente (...) Ele vai entregar um estado absolutamente quebrado; se não tivesse o desastre da Vale,  não ia pagar funcionário, nem a luz ou a água do palácio”.

Ao finalizar a rodada de perguntas entre os candidatos, Kalil levantou a bola para Lorene cortar e falou sobre o benefício social de R$ 30 reais por ano oferecido pela atual gestão. Lorene disse que isso é vergonhoso, já que o estado é o segundo mais rico do Brasil. E que é preciso apoiar os empreendedores, as pequenas empresas.

5º bloco

No último bloco, os candidatos pediram votos aos eleitores, agradeceram a oportunidade de apresentar suas propostas e ideias. Pestana valorizou sua experiência como gestor público; Kalil reforçou as obras que fez à frente da Prefeitura de Belo Horizonte, disse que governou com o coração e que quer que todo o estado o conheça. 

Carlos Viana aproveitou até o último segundo para falar de seus projetos e fez promessas para diversas regiões do estado. Lorene Figueiredo lembrou a morte de Marielle Franco, no Rio e falou em defesa das mulheres que, como a mãe dela, conhecem a fome e que todos os dias lutam por seus filhos. 

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