Postulantes ao governo de Minas abrem disputa por marqueteiros, os 'senhores da imagem'

Lucas Simões
lsimoes@hojeemdia.com.br
01/06/2018 às 16:57.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:23

(Divulgação )

Ainda que a campanha para as eleições só comece a esquentar a partir de agosto, quando estão autorizadas as propagandas em rádio e TV, nos bastidores do xadrez político mineiro os candidatos ao Palácio da Liberdade se adiantam em uma verdadeira caçada pelos melhores marqueteiros. 
Mesmo sem nome cravado para comandar a campanha à reeleição, o governador Fernando Pimentel (PT) buscou consultoria, em fevereiro, com o cientista político Felipe Nunes, coordenador do Centro de Estudos do Legislativo (CEL) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

Anteriormente, Nunes prestou consultorias para as campanhas que elegeram Dilma Rousseff e o próprio Pimentel, em 2014. À frente da empresa Quaest Pesquisa e Estratégia, o cientista político é referência em análise de dados a partir das movimentações nas redes sociais e contribuiu com o monitoramento das redes em campanhas do PT, PSDB e PTdoB (atual Avante) em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.

Justamente pela experiência de Nunes com as redes sociais, alguns caciques petistas colocam o nome dele como um dos preferidos do governador. 

“Hoje, não tem como ignorar que a internet tem papel fundamental na disputa. É preciso saber diariamente como as redes reagem ao candidato, mas não pretendemos disputar marqueteiro com o PT”, disse um deputado da base governista. 
Mesmo tendo prestado consultoria a Pimentel, Nunes não confirma vínculo com a campanha petista. “Isso é comum, pode acontecer com vários partidos que acionam os meus serviços, mas não tem nada fechado”, disse Nunes. 

Nos bastidores, alguns tucanos também demonstraram simpatia pelas consultorias do cientista político, ainda que Nunes não tenha sido procurado pelo partido. “É um campo que nos interessa, claro, principalmente por unir consultoria de campanha e redes sociais. Mas é algo a ser tratado pessoalmente pelo Anastasia”, disse o presidente do PSDB em Minas, Domingos Sávio. 


Ninho
Entre os tucanos, um nome forte que tem sido ventilado é o de Juarez Amorim, ex-dirigente estadual do PPS, também com passagens pela direção da Copasa e da Urbel, e que integrou a campanha de Anastasia em 2010.
“Qualquer nome que se diga agora não pode ser levado a sério. O senador Anastasia tem cuidado pessoalmente dessa questão, vai ser uma escolha dele, pessoal, e não a partir de alguma disputa no mercado”, desconversou o deputado estadual João Vítor Xavier (PSDB), um dos mais próximos a Anastasia.


MDB
Uma estratégia bem diferente tem adotado o MDB, que tem no presidente da Assembleia Legislativa, Adalclever Lopes, o principal nome para concorrer ao governo do Estado. 

O deputado estadual Iran Barbosa (MDB), articulador das sondagens com possíveis marqueteiros, afirmou que o partido está com acordo “quase certo” com o jornalista alagoano Jorge Oliveira, responsável pela campanha que elegeu Paulo Hartung (MDB) ao governo do Espírito Santo.

Na última eleição, em 2014, contratado às pressas por Hartung, Oliveira teve uma semana para modificar a campanha e conseguiu a vitória sobre o candidato Renato Casagrande (PSB). “O Jorge é nosso nome preferido porque, além da experiência, sabe lidar com prazos curtos”, disse o deputado Iran Barbosa.

Além disso, o MDB também tem a intenção de trazer algum nome de peso da equipe que elegeu o prefeito da capital Alexandre Kalil (PHS), como Paulo Vasconcelos, que trabalhou nas campanhas dos tucanos Aécio Neves e Antonio Anastasia, ou o publicitário Cacá Moreno. “Estamos parecendo time de futebol antes dos campeonatos. Queremos os melhores nomes e, precisando trazer de fora do Estado, vamos trazer. Estamos de olho em quem fez um bom trabalho para eleger candidatos pelo país nas duas últimas eleições, principalmente”, justificou o deputado.

O marqueteiro Cacá Moreno também tem sido sondado pela equipe do ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB), uma vez que o publicitário levou o socialista a vencer o pleito de 2012 contra o petista Patrus Ananias. 
Mesmo tendo boa relação com Lacerda, um entrave à escolha do marqueteiro é o fato de ele ainda prestar serviços à Prefeitura de Belo Horizonte, após ter contribuído com a campanha de Alexandre Kalil. Apesar disso, o assessor de comunicação de Lacerda, Regis Souto, diz que não há definição sobre um marqueteiro específico. “Nem sabemos se haverá essa figura na campanha do Marcio”. 

Já o deputado federal Rodrigo Pacheco (DEM) deve repetir a parceria com o marqueteiro Roberto Hilton, da agência de publicidade mineira JBIS, responsável por elaborar sua estratégia de campanha à Prefeitura de Belo Horizonte, em 2016. “É um nome em que tenho confiança. Trabalhei com ele na última campanha e começaram algumas conversas. Mas não temos nada definido, até porque a estratégia adotada pelo partido também precisa ser finalizada”, diz o deputado federal Rodrigo Pacheco.

Pequenos

Entre os partidos menores, muito além da figura de um marqueteiro, os candidatos têm buscado formação própria em estratégias de marketing e, dentro de suas possibilidades, vêm tentando reinventar o fazer político sem publicitários ou comunicadores renomados. 

É o caso do Solidariedade, que apresentou um curso de mídias sociais para os 116 pré-candidatos da legenda neste pleito. O presidente do partido em Minas Gerais, Luiz Carlos Miranda, confirmou que somente no Estado foram realizadas 30 reuniões este ano para definir estratégias políticas de campanha. 

Em fevereiro, um grande encontro na capital paulista reuniu mais de 15 especialistas em redes sociais para treinar os políticos, incluindo o pré-candidato ao governo, Dinis Pinheiro. 

“É uma diretriz nacional do partido que os próprios candidatos tenham noções de marketing, possam saber como lidar com as redes sociais e a potencialidade do mundo digital. Não sabemos se teremos um marqueteiro ainda, então, essa formação é essencial”, dz Luiz Carlos.

De maneira similar, o candidato Romeu Zema (Novo) não vai investir na tradicional figura do marqueteiro. Com uma equipe enxuta, de cerca de 10 pessoas, as principais diretrizes de campanha têm sido decididas pelo próprio empresário. Após viajar 75 cidades do Estado e com a meta de chegar em 300 municípios até outubro, Zema aposta no corpo a corpo aliado às redes sociais para fazer barulho no pleito estadual. 

“Não queremos fazer uma campanha convencional. Apesar de o jogo ser muito desigual, não acreditamos que estrutura gigante de marketing signifique boas políticas e boas propostas. Nossa ideia não é emergencial, é um projeto a longo prazo, de as pessoas entenderem uma forma mais orgânica de fazer política, no corpo a corpo”, diz o candidato.
Também rejeitando a presença de um marqueteiro, a campanha do empresário, sociólogo e ex-secretário de Educação de Minas Gerais João Batista Mares Guia (Rede) tem sido alimentada basicamente por voluntários, segundo o pré-candidato. 

Com uma equipe composta por cerca de 15 pessoas, Mares Guia dispõe de um publicitário, um jornalista, uma especialista em marketing, além de um setor jurídico que analisa demandas burocráticas da campanha. Ainda que mantenha uma equipe razoável, ele rejeita a possibilidade de procurar um marqueteiro com renome. 

“Esse tipo de abordagem do marqueteiro, que trabalha com o que as pessoas querem ouvir, nós não vamos trabalhar. Todos os 15 colaboradores da minha campanha são amigos próximos, sendo a maioria deles voluntários”, disse. 

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