Povo do cerrado protesta, mas ministra defende transposição do São Francisco

Jornal O Norte
19/09/2005 às 10:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:51

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao assinar convênios durante o 4º encontro e feira dos povos do cerrado, na manhã de quinta-feira, 15, no Centro Cultural, fez um gracejo em relação ao presidente do CAA - Centro de agricultura alternativa, Braulino Caetano dos Santos:



- Com quantos bons propósitos se faz uma figura como você, hein Braulino/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"left">RIQUEZAS NATURAIS

Mas falou ainda da importância de Montes Claros ser a capital do cerrado e das riquezas naturais que a região dispõe, quando cita o agroextrativismo e a prática da agroecologia tão defendida pela rede Cerrado e pelo CAA. Outro dado significativo na fala da ministra foi que o ministério do Meio Ambiente vai destinar recursos da ordem de um milhão de reais para recuperação de bacias hidrográficas degradas, como a do Rio das Velhas, e mais R$ 1,8 para a revitalizar outras bacias. Ela defende a transposição do São Francisco.

- O difícil não é fazer uma revitalização nem captar recursos pra isso, mas fazê-la com transparência. E é na prática que vamos mostrar o quanto estamos avançando. A transposição é uma ação estratégica e pode ajudar muitas pessoas e, por isso mesmo, estamos analisando os projetos com cuidado.

Ela, que lembrou que a região do cerrado há algum tempo ficou desprovida de assistência, agora pode ser parte da agenda dos outros ministérios. Cita o bom desempenho do Instituto Grande Sertão como um marco e uma defesa pelo que é tirado do cerrado, as plantas medicinais, os alimentos, as carnes dos animais nativos que servem como fonte do geraizeiro, caso genuíno do pequi, considerado o ouro do sertão, como lembra o prefeito Athos Avelino.

A cooperativa Grande Sertão começou a fabricação de alimentos de 50 toneladas e hoje consegue fornecer para o mercado local uma média de 90 toneladas, com metas estipuladas para 150 toneladas, conforme Braulino Caetano.



(Fotos: Adriano Madureira)



VÁRIAS REGIÕES

Cerca de 350 pessoas vindas de lugares extremos do Brasil, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Goiás, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Tocantins e Minas Gerais, além de Montes Claros, Chapada Gaúcha, Lavras, Uberlândia, Varzelândia, Rio Pardo de Minas e do Vale do Jequitinhonha estiveram compenetrados durante a leitura da Carta dos povos do cerrado e durante a fala das autoridades. A carta arrancou aplausos calorosos dos povos do cerrado que se viram apresentados pela mesma.

A Carta de Montes Claros aos povos do cerrado é parte da vontade dos quilombolas, índios, geraizeiros, caatingueiros e vazanteiros, como os mesmos se denominam, em transformar o cerrado no melhor lugar pra se viver, como destacou Braulino durante a solenidade de abertura do evento:

- Não é por falta de terra que o povo do cerrado está perdendo aos poucos sua cultura e sua origem, sua identidade, mas por falta de políticas públicas que apóiem a agricultura familiar. O cerrado é minha vida. Se ele morrer, eu e os cerradeiros morreremos também.

OITO ESTADOS

A rede Cerrado prega a defesa pela criação de uma lei que proteja o ecossistema do cerrado, que representa cerca de 37% da área total do território brasileiro e abrange oito estados.

Na visão dos especialistas, o cerrado é o bioma do contato, porque está ligado a todos os outros. Há mais de 100 comunidades quilombolas no país, sendo que grande parte delas se concentra no Norte de Minas, conforme o pesquisador do cerrado Carlos Eduardo Mazzeto. Ele lembra ainda que os povos definem o gerais como um lugar onde se tem de tudo com fartura, ou fartura do comum, mas o avanço das exportações de commodities e o agronegócio podem acabar com essa fartura.

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