Premiê David Cameron estaria por trás da pressão sobre o Guardian

AFP
21/08/2013 às 15:03.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:11

 LONDRES - O primeiro-ministro britânico David Cameron enviou um de seus assessores para pressionar o jornal The Guardian a destruir os documentos confidenciais entregues por Edward Snowden, afirmaram nesta quarta-feira (21) vários meios de comunicação britânicos.

O Guardian detalhou nesta quarta-feira (21) o modo como "dois altos funcionários britânicos", sem citar nomes, pressionaram a direção do jornal.

Em uma primeira visita à redação, "eles foram cordiais, mas muito claros sobre o fato de que vieram, em nome da mais alta autoridade, para pedir a devolução imediata dos arquivos Snowden em posse do jornal".

Edward Snowden, ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) americana atualmente refugiado na Rússia, vazou para a imprensa documentos secretos revelando a existência de programas de vigilância dos Estados Unidos e do Reino Unido.

A pressão aumentou aos poucos com ameaças de ações judiciais e mesmo com uma possível intervenção policial", afirmou o Guardian.

"Eles disseram que temiam que governo estrangeiros, particularmente a Rússia e a China, pudessem hackear a rede do Guardian", explicou.

O Independent, Daily Mail e a BBC identificaram nesta quarta o autor das pressões sobre o jornal como Jeremy Heywood, chefe das autoridades britânicas e um dos principais assessores de David Cameron.

"O Daily Mail pode assegurar que as preocupações quanto a segurança nacional representada pelos documentos detidos pelo Guardian eram tão fortes que David Cameron enviou Jeremy Heywood para pedir ao editor Alan Rusbridger que destruísse os documentos", afirma o tabloide inglês.

De acordo com o Independent, citando fontes governamentais, Jeremy Heywood foi escolhido pelo primeiro-ministro para "advertir o Guardian sobre os perigos de manter informações altamente confidenciais em servidores não-seguros, o que poderia ser prejudicial para a Inglaterra".

A BBC também cita várias fontes do governo que confirmam esse envolvimento do mais alto nível do governo britânico.

Um porta-voz do primeiro-ministro declarou à AFP que não irá comentar "casos específicos". "Se informações altamente sensíveis são guardadas de maneira insegura, o governo tem a responsabilidade de protegê-las", acrescentou.

A direção do Guardian destruiu os discos rígidos sob a supervisão de "dois especialistas em segurança da GCHQ (serviço britânico de escutas)", um ato que ele descreve como "gesto simbólico particularmente inútil", uma vez que existem outras cópias dos documentos que continuam a ser usadas pelo jornal nos Estados Unidos e no Brasil.

As autoridades britânicas já haviam sido muito criticadas devido a detenção no domingo em Heathrow de David Miranda, o brasileiro companheiro do jornalista do Guardian Glenn Greenwald que trabalha sobre as revelações do ex-agente da NSA.

David Miranda foi detido no aeroporto britânico de Heathrow durante nove horas em virtude de uma lei britânica antiterrorista de 2000, que amplia os poderes da polícia.

"Estou com muita raiva. É um sentimento de ser invadido. É como estar nu em meio a uma multidão. Eles me disseram que eu deveria colaborar se não iria para a prisão", denunciou o brasileiro em uma entrevista à BBC.

Nesta quarta, o governo alemão criticou os métodos utilizados pelo Reino Unido com o jornal The Guardian no caso Snowden e se declarou preocupado com a liberdade de imprensa neste país.

Em uma entrevista ao jornal Berliner Zeitung, o delegado ministerial para os Direitos Humanos, Markus Löning, afirmou que Londres "ultrapassou a linha amarela" na questão.

O brasileiro abriu uma ação judicial na terça contra sua detenção pelas autoridades britânicas e o confisco de documentos jornalísticos.

A ministra do Interior Theresa May e Downing Street declararam terem sido informados desta detenção, mas asseguraram que a decisão foi tomada exclusivamente pela polícia, enquanto a Scotland Yard defendeu a legalidade de sua ação.

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