Em meio às tentadoras ofertas do comércio – que tenta desovar estoques com a baixa inflação – e a queda da Selic – que facilita o crédito –, aumenta o percentual de consumidores endividados que não vão honrar os compromissos. Segundo Pesquisa de Endividamento e Inadim-plência do Consumidor (PEIC), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC), 10,1% dos brasileiros não pagaram as contas em dia em outubro. No mesmo mês do ano passado, o índice era de 9,9%.
A quantidade de pessoas com dívidas em atraso também aumentou, saltando 23,5% para 24,9%. Na avaliação do coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, o cenário é convidativo para os gastos e o brasileiro está caindo nas armadilhas do crédito.
“O cenário é perigoso porque o mercado oferece a todo o momento promoções ‘imperdíveis’. O endividamento é muito bom. Mas a inadimplência não. A pessoa que contrata um crédito deve ter garantia de renda futura para honrar os compromissos”, afirma Salvato. Deixar assumir outros gastos para pagar as contas é fundamental na tarefa de manter o nome limpo.
Trocar dívidas mais caras por mais baratas é outra dica da professora de Economia das Faculdades Promove, Mafalda Ruivo, para não entrar em furada. E foi exatamente o que a Relações Públicas Flávia Nascimento fez.
Flávia faz parte dos 77,4% dos brasileiros que tem faturas futuras do cartão de crédito para vencer. Para não engordar as estatísticas e evitar a inadimplência, ela fez três empréstimos pessoais ao longo do ano, quitou o cartão de crédito e evitou pagar juros anuais superiores a 280%.
“Descobri que estava grávida e precisei montar enxoval completo. Os custos são altos, mas eu não queria arriscar ficar inadimplente com o cartão. Procurei as menores taxas nos bancos e fiz os empréstimos quando precisei, ao longo do ano. Não fiz todos de uma vez”, explica.
As parcelas cabem no orçamento, mas, mesmo assim, ela não arrisca fazer mais compras. “Deixei de fazer muita coisa para não gastar e garantir o pagamento no final do mês. O dinheiro para pagar o empréstimo é sagrado”, afirma.
Brasileiro que ganha menos de dez salários mínimos demora até 65 dias para quitar dívida
O tempo médio das contas atrasadas pelos brasileiros é alto, 64 dias. Quando analisada a renda, é possível perceber que as famílias que recebem menos de dez salários mínimos por mês estão em situação pior, inadimplentes a 65 dias. As famílias que ganham mais de dez salários estão no vermelho a 57,5 dias.
Com relação ao endividamento, 65,7% das pessoas inseridas em núcleos que recebem mais de dez salários têm contas a pagar, contra 61,1% das que recebem menos de dez salários. Dessas, 15% admitem estar com muitas dívidas.
Ranking
Depois do cartão de crédito, os carnês são os que mais tiram o sono do consumidor. Conforme a pesquisa da CNC, 14,5% das pessoas têm crediário para pagar. Os financiamentos de carro aparecem em terceiro lugar, com 10,1% das dívidas. O crédito consignado, que costuma ter taxas mais baixas, aparece na sétima posição do ranking.
Na avaliação professora de Economia das Faculdades Promove, Mafalda Ruivo, não é época de fazer novas dívidas. [/TEXTO]“Black Friday e Natal estão aí. Mas não adianta gastar dinheiro agora e não ter como pagar. Sem contar que no começo do ano as pessoas terão muitos gastos com IPVA, IPTU, material escolar, entre outros”, pondera.