A conta de luz das empresas de alta tensão de médio porte clientes da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), conhecidas como consumidoras A4, deve subir 7% em 28 de maio, conforme levantamento da TR Soluções, empresa especializada em tarifas de energia. O impacto é alto, principalmente quando a base de comparação é analisada: em 2018, o reajuste foi de 35%.
Em tempos de arrocho econômico, as organizações têm dificuldade de apertar ainda mais a margem de lucro e vão repassar a elevação para os produtos, impactando diretamente o consumidor.
O índice oficial, que é determinado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), será divulgado em 21 de maio, uma semana antes de começar a vigorar. A expectativa é a de que ele seja mais de quatro vezes superior à média nacional, estimada em 1,7% pela TR Soluções.
O impacto na ponta da cadeia dependerá do peso da energia no custo de produção, conforme a assessora de energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Tânia Mara Santos. “A energia tem peso inferior a 10% em algumas empresas e superior a 70% em outras, como nas indústrias intensivas. O impacto vai variar. O que se sabe é que dificilmente o empresário conseguirá absorver porque o aumento no ano passado já foi muito pesado”, lamenta a especialista.
O índice de 2018 chama a atenção porque foi ano de revisão tarifária. Realizado a cada cinco anos, o processo revisa a remuneração dos investimentos das distribuidoras e a eficiência dos custos. Nesse caso, é esperado um aumento maior.
Empresas classificadas como A4 são aquelas que consomem entre 2,5 quilovolts (kV) e 25 kV. Entre elas, supermercados menores, indústrias panificadoras, pequenas fábricas, além de outros. Segundo levantamento da Cemig, 13.080 empresas mineiras se enquadram nesse patamar, o equivalente a 0,16% dos clientes. Destes, 4.023 são comércios e 4.375 são indústrias, além de 3.060 rurais e 660 referentes ao serviço público. O restante refere-se a outras categorias.
O diretor comercial da TR Soluções, Helder Sousa, explica que o reajuste da tarifa é um encontro de contas do que foi projetado de junho de 2018 até maio de 2019 e o que realmente foi concretizado. Nas tarifas da Cemig, cujo portfólio é composto por 17% de energia de Itaipu, cotada em dólar, a variação da moeda norte-americana tem forte impacto.
“Se você resgatar a cotação do dólar, verá que a partir de maio ele começou a disparar. Vinha em R$ 3,20, em média, e chegou a R$ 4,12 em setembro. Depois, permaneceu abaixo dos R$ 4, mas ainda num patamar alto”, exemplifica. Ele explica que não era esperado que o câmbio chegasse a R$ 4, por exemplo, e, quando isso aconteceu, a concessionária precisou “financiar” o consumidor. “Agora em maio, no encontro de contas, o que ficou acima é repassado para a conta de luz”, justifica Sousa.
Outro ponto levantamento pelo executivo da TR Soluções é a participação da energia de cotas, proveniente de usinas cujas concessões foram antecipadas pelo fato de já terem sido pagas pelo consumidor. Na Cemig, 23% da energia vem desse tipo de empreendimento. O problema é que o custo dessa energia foi estimado em R$ 81 e chegará a R$ 101. A diferença, de 24,69%, também será paga pelos consumidores.