Com recuo da Selic, ganhar dinheiro em aplicações exige maior risco no mercado

Paulo Henrique Lobato
Publicado em 02/08/2019 às 21:51.Atualizado em 05/09/2021 às 19:50.
 (Pixabay)
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Diante da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de reduzir a taxa básica de juro (Selic) de 6,5% para 6% ao ano, no menor indicador da série histórica (o maior foi 45%, em 1999), quem desejar multiplicar o patrimônio terá de se arriscar mais e aplicar nos chamados investimentos variáveis, como ações e fundos imobiliários. 

Até porque o Copom não só cortou 0,5 ponto percentual na Selic, numa redução acima da esperada pelo mercado financeiro (0,25 ponto percentual), como indicou a possibilidade de novas quedas até o fim do ano. Desta forma, recomendam os especialistas, é bom quem desejar faturar com investimentos ao menos pesquisar sobre rendimentos variáveis.

“Eu diria para o investidor moderado começar a observar a renda variável, fundos de ações, operações na Bolsa ou mesmo fundos imobiliários. Há dois ou três anos, com a Selic a 13% ou 14%, conseguir 1% ao mês (nos rendimentos fixos, como CDB) era muito trivial. Hoje, para conseguir esse 1%, o investidor precisa correr risco. Na renda fixa, isso não é mais possível”, disse Cássio Bambirra, assessor de investimentos da One Investimentos, credenciada ao Banco BTG Pactual, o maior do setor na América Latina.

O economista Guilherme Almeida, da Fecomércio-MG, vai na mesma toada: “Quando a Selic estava em 14%, era factível obter um retorno na renda fixa, deixando o dinheiro parado, por exemplo, no CDB. Com a redução para 6%, os investidores que procuraram maior rentabilidade deverão correr mais risco”.

Ele recorda que, desde 2012, os depósitos na caderneta de poupança rendem até 70% da Selic quando esta estiver abaixo de 8,5%. Desta forma, como a taxa básica de juro está em 6%, o rendimento da caderneta é de 4,2% ao ano. “A expectativa de inflação para este ano no Brasil é de 3,8%. O ganho real, portanto, será baixo (0,4%)”.

Apostar no rendimento variável, contudo, exige espera, pois uma das características deste tipo de aplicação é o longo prazo, diz Iverson Wender, especialista de crédito do Banco Semear. 

“A redução da Selic de 6,5% para 6%, na prática, causa pouco impacto quando se olha no curto prazo. A renda variável é aconselhada para um rendimento a longo prazo (24 meses, por exemplo)”. Isso porque este tipo de aplicação, como bolsas, oscila muito em curto prazo.

O economista Gilson Machado, da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), aconselha ainda os investidores a observarem custos adicionais, como as taxas administrativas.

“Os investimentos em renda variável podem trazer maior retorno quando a Selic está em baixa, mas, além do risco maior, é importante analisar os custos adicionais, como o administrativo”, disse Machado.

Já Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac) considera que, mesmo com a redução da Selic, “a rentabilidade das cadernetas de poupanças vão continuar se destacando frente aos fundos de renda fixa pelo fato que não pagam imposto de renda nem taxas de administração”. 

Para não perderem clientes, os bancos deverão reduzir as taxas de administração.

“Com a Selic em 6% ao ano, as contas da poupança terão um rendimento de 0,34% ao mês, correspondente a 70% da Selic mais TR (Taxa Referencial). Os fundos de investimentos vão ter um rendimento superior às contas da poupança quando suas taxas de administração forem inferiores a 1% ao ano e terão um rendimento inferior às cadernetas de poupança quando suas taxas de administração forem superiores a 1% ao ano”, calculou o diretor da Anefac. 

“Não é para o investidor ficar desesperado com a queda da Selic. A rentabilidade vai ser menor, mas tem que pensar qual será o objetivo dele: prefere maior liquidez ou assumir o maior risco de crédito para ter um retorno maior”, alerta Machado, economista da CDL-BH.

Desaceleração da inflação estimula aposta em renda variável

A inflação em baixa estimula investidores arrojados a apostarem mais em rendimentos variáveis, com risco controlado, e abre caminho para que o moderado comece a pensar na possibilidade de injetar uma parcela, mesmo que pequena, de seu dinheiro no mesmo tipo de aplicação.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial, encerrou o período de 12 meses, fechado em julho, em 3,27%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mas é possível que a inflação feche, ainda em baixa, inferior a 4%. O boletim Focus, que é divulgado semanalmente pelo Banco Central após consultas a economistas, estima que o indicador ficará 2019 em 3,8%. 

Já o relatório Inflação, do mesmo Banco Central, mas divulgado antes do último relatório Focus, prevê o indicador em 3,6%.

De qualquer forma, atestam economistas, a inflação abaixo dos 4% anima investimentos controlados.

“Estamos com inflação baixa, o que é um sinal muito positivo, pois há ganho real. Se tenho um ganho de 10% numa aplicação e a inflação está abaixo de 4%, meu patrimônio cresceu acima de 6%. A inflação mais baixa estimula o investidor a correr mais risco. Mas é importante ressaltar: risco controlado. Neste cenário, o moderado começa a pensar na possibilidade de arriscar mais”, analisou Cássio Bambirra, da One Investimentos.

Garantia

Ainda assim, na hipótese de o investidor optar por manter um perfil conservador e deixar sua grana apenas em rendimentos fixos, Iverson Wender, especialista em crédito do Banco Semear, recomenda estudo das linhas como o CDB, o LCA e o LCI. 

“Quando olhamos o horizonte de curto, médio e longo prazos, são alguns títulos indicados para o perfil conservador. São assegurados pelo Fundo de Garantia do Investidor de Crédito (que tem o governo como garantidor em caso de quebra da empresa em que o dinheiro foi aplicado) de até R$ 250 mil por CPF”.

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